TESTE CARDIOLÓGICO E TRÊS PONTOS A MAIS

Valeu pelo resultado, mas o sofrimento foi além do que merece a fantástica Nação Azul. Um primeiro tempo pra ser esquecido  e que de positivo teve apenas o gol de Adriano. De negativo, a costumeira sucessão de passes errados, os lançamentos em profundidade pra ninguém, parecendo que algum participante faltou aos treinos. Capítulo especial para os descalibrados chutes de fora da área sem nenhum efeito a não ser anular jogada que poderia ser promissora. Machado foi campeão desse item negativo. Já que gosta, deveria  se aperfeiçoar. Tentamos  mais de 15  vezes, só uma, aos 13 minutos do segundo tempo, com Léo Pais  levou perigo.  Oportunidades vão sendo perdidas, bisonhamente, dando chance ao adversário de se reorganizar. Quando o Novorizontino empatou na metade do segundo tempo, as graves falhas de ataque, na etapa inicial, se tornaram ainda mais lamentáveis. Um pouco mais de  cuidado na preparação de jogadas e um atacante produtivo, o que não ocorre com Luvanor, poderiam  construir um placar tranquilo, livrando-nos  do sufoco final. Rafa Silva, que tinha acabado de entrar, fez 2 x 1 aos 38 minutos, e precisa ter mais oportunidades. Que os novos reforços se apresentem “ontem”. 

BATE PAPO NO QUINTAL

1. Postman – na primeira hora pós “Maracanaço”, entra no QUINTAL e se assusta ao encontrar a porteira ainda fechada.

“ Arrascaeta e Flamengo, de novo? Cadê os atleticanos madrugadores”?

Calma, Postman. Toda guerra tem um tempo pra “lamber as feridas”.

2. Teobaldo, surpreendente, candidata-se ao Nobel da Racionalidade, com este comentário postado na manhã de quinta-feira, ou seja, quando ainda se podiam ouvir, não apenas ecos do baile acontecido no Maracanã, como também o tradicional chororô atleticano:

  “Não vi o jogo do Cruzeiro, portanto não posso afirmar que o placar tenha sido mentiroso, mas concordo que 2 x 0 para o Urubu foi pouco. E a atuação do Wilton Pereira Sampaio foi excelente! Oxalá todas as arbitragens fossem assim! E o Garimpo de hoje foi muito bom! Já anotei para utilizar! ”

O nome disso é maturidade emocional. Um dia, chego lá.

3. Ainda Wilton Pereira Sampaio – A tensão psicológica, inevitável, nascida logo após o primeiro jogo do mata-mata Atlético x Flamengo e realimentada pelas duas torcidas, via Internet, gerou um misericordioso sentimento sobre o árbitro que apitaria a decisiva partida no Maracanã. Não se sabia quem, mas já se sentia pena dele. Com a força histórica das duas torcidas, para o bem e para o mal, seria impossível evitar que o apito desse m… . Mas não deu. Apesar da multidão de feras em campo, foi sereno, firme, atento e discreto. Sem alarde, afastou bravatas e as costumeiras simulações de braço no rosto parecendo direto de Mike Tyson. Quase imperceptível, dispensou a absurda “assessoria auricular” de Hulk e Gabigol. Ao invés de optar pela tranquilidade dos incompetentes, amarrando o jogo a cada faltinha de um lado e de outro, subiu o sarrafo e deixou a partida fluir, sob atenta supervisão. É, sem dúvida, a opção mais difícil, pelos riscos intrínsecos e pela altíssima exigência técnica, com o acompanhamento “microscópico’’ dos lances.  Ignorou o VAR. Venceu, com méritos, o desafio que se impôs. Raríssimo, nas arbitragens brasileiras.

4. Jorge, curto e grosso:

“Atlético e Cruzeiro eliminados na Copa do Brasil. O primeiro por deficiência tática, por falta de treinador de verdade. O segundo, por deficiência técnica, por falta de jogadores de verdade.”

Vontade imensa de dizer que ele está errado. Não consegui. Alguém consegue?

5. Toinho, atento ao sentido lato das palavras, reitera restrições ao uso e abuso de “tsunami” para significar desmandos administrativos, como insiste o blogueiro. Sob sua lupa, Toinho tem razão: tsunami é fenômeno sísmico, uma catástrofe da natureza. Tenho usado aqui, no sentido figurado, pra marcar a abissal diferença entre má administração e tragédia administrativa, como a sofrida pelo Cruzeiro. E não se trata de omissão ou conivência de conselheiros. O prolongado assalto foi feito às ocultas, contratos sigilosos, dezenas de atos não divulgados e que não poderiam ser percebidos. Uma barbaridade. Ainda agora tivemos noticia de um advogado, que na administração  Wagner-Herminio-Itair aumentava sem limites seu próprio salário, ter ganho de causa em vultosa reclamação trabalhista. Como é que conselheiros poderiam vigiar isto?

6. José Antônio sentiu na alma o “maracanaço de quarta-feira”. O estilo acadêmico, a contundência cirúrgica das observações não resistiram à paixão atleticana, a tal ponto que se posicionou contra duas unanimidades: a eficiência atual do Fluminense, apontado como um dos melhores times da Série A e a atuação exemplar do árbitro Wilton Pereira Sampaio. Contra este, contrapôs erros anteriores como se fosse inaceitável a recuperação de um profissional. Por fim, cobra do blogueiro posição sobre a recuperação judicial. Não é uma inovação. Sempre esteve à disposição das empresas. Como o Cruzeiro se tornou uma Sociedade Anônima, pode também utilizar esse recurso, valendo-se assim os “favores” da lei, mas sob um alto preço, porque o não cumprimento das obrigações assumidas pode resultar na falência.

7. Rei Melo lança dúvida atroz:

 “Quanto ao time de lá… aquele do chora, chora, vai ter nota oficial pedindo anulação do jogo contra o Flamengo? ”

Acho que não farão Nota Oficial desta vez, porque têm de se concentrar agora na Libertadores, em que o próximo adversário é o Palmeiras. Há um movimento sim, mas do lado carioca, antecipado por Maria.:  pedem reembolso de metade do ingresso: Pagaram pra ver Flamengo x Atlético, mas só um time entrou em campo.

8. Janete de Azevedo – após recesso sabático – volta pra cutucar nervo de dente exposto de atleticano:

“O ex-cruzeirense Arrascaeta, que da Toca da Raposa Imperial das Américas saiu consagrado, ontem no Maracanã meteu dois gols que fizeram voar penas, que foram devoradas pela “cumulonimbus cappilatus”.

Janete, isto é a essência da maldade!

9. Vingança andava a cavalo. Agora galopa! Sobre o comentário de Janete, recorde-se a noite de terça-feira última, Cruzeiro x Fluminense, no Mineirão. Placar atípico de 3 x 0 para os cariocas, mas poderia ser para os mineiros. O terceiro gol, marcado por Nathan, ex-atleticano, despertou vários gritos de “Galo! ”  e o recrudescer do foguetório. 24 horas depois, no Maracanã, quem imaginaria o que o ex-cruzeirense Arrascaeta iria fazer (de novo) com o “dream team” de Vespasiano!

10. Manuel Panhame coloca em polvorosa o Conselho de Sábios da Grande Bom Despacho que assessora o blogueiro nas QT – Questões Transcendentais. Inovando neste QUINTAL, ele quer o privilégio de se manifestar com dois CPFs:   O tradicional, de Historiador, e, agora, o de Escangalhador de Apitador Safado. Debruçado sobre a questão há duas luas, o Conselho está em Conclave e determinou que o blogueiro nem piasse, sobre o tema, até surgir a fumacinha branca.

11. Teobaldo/2 retorna para, em apoio a José Antonio, reiterar cobrança de manifestação do blogueiro sobre a transferência de patrimônio do Cruzeiro à SAF, sem anuência de 90% dos Conselheiros com direito a voto, como exige o Estatuto. 

Meu caro Teobaldo, o direito romano sacramentou numa famosa expressão o dever de se cumprir o que está escrito: Pacta sunt servanda. O que é pactuado tem de ser cumprido. Posteriormente, os costumes foram ensinando outra lição: ocorrências extraordinárias, imprevisíveis, às vezes modificam tão seriamente o estado das coisas que tornam imprescindível o reajuste do que fora pactuado. (A Pandemia Mundial, por exemplo, provocou isto em milhares de contratos). Esta evolução do direito impôs um complemento condicional ao “Pacta sunt servanda”:  é o “Rebus sic stantibus”, ou seja, mantidas as condições que existiam quando se firmou o pacto. No Cruzeiro, como já lembrei aqui, em consequência da tragédia administrativa, potencializada negativamente pela pandemia, a solução apresentada e aprovada foi como uma corda lançada a um náufrago: vamos questionar se é de nylon ou de sisal? 

12. Débito azul com mecenas? Jorge, Marcilio, Teobaldo e outros líderes da Barraca Atleticana fazem grande “auê” pelo declarado débito do Cruzeiro com o BMG, presidido por Ricardo Guimarães, um dos 4 Rs. A relação dos débitos é pública porque obrigatoriamente tem de integrar o pedido de Recuperação Judicial apresentado na última semana. Valor alto, quase cem milhões de reais. Será, como as demais dívidas, equacionado para progressiva e proporcional liquidação.

13. Marcilio/2 retorna em inspirada hora de recreio:

“Esta Copa do Brasil me parece que é para quem está de dieta: não tem peixe, não tem galo, não tem porco e nem dona Maria pra cozinhar! ”

A piada é boa, Marcilio. Mas agora a realidade: no ranking o Cruzeiro continua lá em cima, reinando sozinho. São 6! Em seguida vem Grêmio (5), Palmeiras (4), Corinthians e Flamengo (3). O Atlético demorou eternidade pra saber o que é vencer uma Copa do Brasil, mesmo assim contando com uma “ajudinha” nossa.

14. Leandro Guerreiro Nota 10 – Pouco a pouco, nesta reconstrução pós-guerra em que se encontra o Cruzeiro, vamos conhecendo e reconhecendo pilantras e aproveitadores que vestiram a camisa mais bonita do Brasil, mas também gente de caráter, verdadeiros heróis, muitos ainda não devidamente reconhecidos pela Nação Azul. Há poucas semanas, foi Fabricio. Agora, Leandro Guerreiro, em entrevista à Radio Itatiaia. Show de dignidade. Estava no Cruzeiro e foi demitido, quando chegou a SAF. “Isto tinha de ser feito”, afirma.  Sobre a antiga situação, “às vezes é melhor nem falar”.  Sobre o futuro do Clube, “não tem como dar errado. Já deu certo. Futebol não se ganha só dentro do campo.” Embora já tenha sido campeão brasileiro, elege como o jogo mais importante de sua vida, aquele 6 x 1 contra o Atlético, em Sete Lagoas. Cruzeiro ameaçado de cair para a Série B, pela primeira vez; estádio sem segurança nenhuma contra possível invasão de torcida; perspectivas todas contrárias. Mas os jogadores entraram com a alma nas chuteiras. 4 x 0 ainda no primeiro tempo. Inesquecível.

15. Cruzeiro x Chapecoense em Brasilia – O bem informado Samuel Venâncio antecipa: jogo contra a Chape, dia 13 de agosto, será no Mané Garricha. O Mineirão já estava reservado para um show. E a proposta pra Brasilia foi tentadora.

16. Justiça seja feita –  Manuel Panhame (historiador) aplaudiu a metáfora do “farol de popa” utilizada pelo blogueiro na última coluna. Os méritos devem ser endereçados à memória de  um cidadão de origem humilde, nascido em Cuiabá, em 1917, Roberto Campos, que veio a se tornar um dos maiores economistas brasileiros. Em 1994 lançou “Lanterna na Popa”,  visão panorâmica dos 50 anos anteriores, sob o viés da política, do poder e da economia mundial. Um mestre.

          GARIMPO

“Quando amigos deixam de jantar com amigos por causa de ideologia, é porque o país está maduro para a carnificina”.

(Nelson Rodrigues, citado por Ruy Castro, em sua coluna de ontem, na Folha);