TUDO AZUL NO DIA DA GLÓRIA

Um autor de peças dramáticas escreveu o script da noite de ontem. 61.291 torcedores, completando o que faltava para o recorde de um milhão de presentes, esperaram os cinco minutos finais pra festejar com alegria o título de campeão da Série B. A Nação Azul sofreu em dois momentos de tensão. O primeiro gol da partida, aos 21 minutos do primeiro tempo, fazendo CSA 1 x 0. O choque durou até os 39 minutos, quando Geovane Jesus empatou com um golaço de cabeça. O placar desclassificava o time alagoano que por isso não se entregava. Nos minutos finais, o CSA faz 2 x 1, silencía o Mineirão e comete o desatino de festejar a fuga do rebaixamento. A torcida sentiu a água jogada em nosso chope. Em minutos viria a taça de campeão, mas na boca incomodava aquele gostinho de cabo de guarda-chuva que mais uma vez o CSA nos deixava. Confesso que quando Rômulo entrou nos cinco minutos finais pra ser homenageado condenei Pezzolano, pqp… que hora de homenagear alguém… precisamos é de reagir… Queimei a língua logo em seguida. Aos 43 minutos, ele próprio, o inacreditável Rômulo, faz o gol de empate, quase jogando o Mineirão abaixo. 61 mil torcedores reencontraram a alegria. Não perder de novo para o CSA, na noite da entrega da taça, já estava bom demais. Mas o Imponderável F.C. não havia, ainda, encerrado o enredo. Dois minutos depois Luvannor põe o estádio em êxtase: 3 x 2, CSA caindo para a Série C, Belo Horizonte e as regiões mineiras vestindo azul festejando o fim de um pesadelo.

BATE PAPO NO QUINTAL

1. Pablito e Salomé – Sob muitos aspectos estes dois cruzeirenses-raiz estavam ontem misturados na arquibancada. Pelo que dedicaram ao Clube e pelo que sofreram com a fase terrível quando nos deixaram, são eternos homenageados. Heróis:

“… Hoje é o dia da glória, de fazer história, de ver quem sorriu sofrer…”

2. José Antônio definitivamente não joga a toalha. Nesta altura do campeonato, imagine o que ele teve a coragem de incluir em seus comentários:

“… más administrações nos levaram à segunda divisão, como ocorreu com outros grandes do Brasil; mas grandes, quando caem, sobem no ano seguinte!!!”

Meu caro José Antônio, não comprometa assim sua biografia neste QUINTAL. Enquanto só o seu brother Augusto lhe manda parabéns, faça uma reflexão, lendo e relendo três recados importantes que lhe enviam Jason D´ Cézaris, JCSR e Eduardo Silva. Saiba que, quando você procura atingir o Cruzeiro cravando que “time grande quando cai sobe no ano seguinte” está escondendo uma realidade gritante como alguém fingindo não ver elefante na plantação de morangos… Onde você estava quando aconteceu o tsunami arrasando internamente os nossos recursos, com a diretoria sendo retirada a fórceps? E logo em seguida, pra qual planeta você foi abduzido quando a pandemia trancou o mundo em casa? Milhares de empresas foram fechadas, grande parte não conseguiu reabrir até hoje. No caso dos times, uma dificuldade a mais: jogar com estádios vazios. E em se tratando de Cruzeiro, além do tsunami, é fácil dimensionar a falta que nosso 12º.jogador fez naqueles dois anos de trevas. Basta ver o show fantástico da Nação Azul levando o time ao título com sete rodadas de antecedência. A propósito, no jogo de ontem você viu o público presente? Viu o recorde?

3. Jorge não perderia mesmo o cavalo passando arreado: Aproveitou o título da coluna anterior – “Nossa vingança será maligna”? – pra montar um “fake esportivo” segundo o qual o blogueiro eleva o CSA como o maior rival do Cruzeiro em todos os tempos…

Menos, Jorge, por favor.

Em seguida, machucado pelas lembranças das décadas em que o segundo time dos atleticanos era sempre aquele que tirava título do Cruzeiro, rebate recordando um único fato: A vitória do Raja Casablanca, em Marrocos, matando o Atlético na semifinal do Mundial de Clubes teria resultado no maior carnaval promovido pelos cruzeirenses na Grande BH.  De fato, gostei, mas não tive esta leitura. Ouvi uns foguetinhos, bem longe do foguetório saudando a derrota do Cruzeiro frente o Bayern, Borussia, Estudiantes… Com uma agravante:  contra o Bayern, era madrugada no Brasil.  Milhares de atleticanos em Belo Horizonte, duas horas da manhã, foguete na mão, esperando um gol dos alemães…

Não, amigos. Por favor, não comparem nosso passado com o Atlético. A propósito, o Estado de Minas de sexta-feira trouxe o retrospecto dos títulos alcançados pelo Cruzeiro no Mineirão, desde a inauguração em 5 de setembro de 1965: 56 títulos. Campioníssimo! Durante meio século a diversão do cruzeirense era levantar taças, sob o coro da Nação Azul: “Não ganha nada…time sofredor… é por isso que eu canto…”

A prática durou até Ronaldinho Gaúcho chegar em BH e descobrir o Atlético.

Mas Jorge, que não é bobo, tá de olho no grande giro da roda. Pra se tranquilizar, e criativo como é, inventa uma zona de escape que é a rodinha:

“… Cada um com seu tamanho. Cada um conforme suas expectativas. A roda girou muito de uma temporada para outra. Mas a grande roda, aquela roda cujo movimento o Dalai calculou que dura cinquenta anos, continua praticamente imóvel. As expectativas geradas pelas temporadas dos dois ex-rivais mineiros e a avaliação dos resultados alcançados por cada um só demonstram isso. Grande, pensa grande. Pequeno, pensa pequeno. E viva os próximos Cinquenta Anos!”

Será isto mesmo, Jorge? Será que você não identificou nenhum movimento das placas tectônicas? Meio centímetro de deslocamento delas provoca tsunami. Você deveria prestar mais atenção, por exemplo, no inexplicável declínio do Atlético ante os dois outros rivais que também estabeleceram o milhão mensal como salário mínimo. Flamengo e Palmeiras ganharam tudo neste ano e o Atlético, com o mesmo ou ainda maior investimento, não ganhou nada. Por outro lado, no Cruzeiro, além da promissora estabilidade financeira – dentro de nossas limitações – cresce um movimento sintomático de grandeza: as caravanas do interior são um sucesso. Lembram a década de 60, com Felício Brandi, invadindo o interior com o kit escolar, plantando sementes que hoje nos dão 70% dos torcedores mineiros. Cuidado, as Caravanas estão em marcha.

Eduardo Silva teve a mesma leitura sobre o seu texto, como sempre muito bem redigido, mas que não disfarça o temor pelo movimento da grande roda. Com a irreverência própria, ele alfineta:

“… o cara está se contorcendo, dando um triplo mortal carpado pra falar o seguinte: vocês estão voltando e nós estamos com medo…”

4. Roberto Grintaci estréia no QUINTAL com uma criativa observação:

“… se o Atlético virar SAF será conhecido como Asa de Vespasiano.”

Bingo!

FEITOS HISTÓRICOS DO ATLÉTICO

3. Expectativa: “Levaremos a marca do CAM para o mundo inteiro Dryworld”

Realidade: “Vieram na minha casa, assinei contrato vitalício e não me pagaram” (Luan, Menino Maluquinho)

GARIMPO

“ A História do Brasil não é a mesma no Paraguai.”

(Millôr Fernandes)