GUERREIRO DOS GRAMADOS E CRUZEIRENSE APAIXONADO

Honrando as tradições democráticas desse QUINTAL, de portas e janelas abertas, publicamos hoje a despedida de um grande campeão o zagueiro Léo abre o coração pra nossa torcida. É com você Léo!

Hoje quero compartilhar com vocês sobre sonhos…sonhos que se realizam de verdade!

O meu se realizou em 2010, mas essa história começa há muitos anos atrás.

Você sabia que sonhos não se “realizam”?! Na verdade, sonhos a gente constrói! A realização está na construção. Tijolo por tijolo, você vai trazendo ao concreto, aquilo que antes era abstrato. Dia a dia, você vai trazendo a realidade mais um suspiro de toda uma conquista, cheia de suor, lágrimas e alegrias!

Sou de Contagem – MG , e como bom mineiro que sou, daqueles que amam quiabo com frango e um cafézim com queijo, também sou mineirinho que frequentava os jogos no estádio do Mineirão.

E em um desses jogos que fui, influenciado por meus pais e parte da família, me tornei um cruzeiro de coração.

Mas aos 12 anos, movido pelo desejo de me tornar jogador de futebol, após tentar um teste no Cruzeiro e ser rejeitado, passei em um teste no Grêmio, no Rio Grande do Sul e deixei minha cidade e meu estado em busca da realização profissional. Que momento difícil! Ainda uma criança eu era, longe de casa, com frio (porque eu só tinha um moletom apenas e não sabia o quão frio era a cidade de POA), e cheio de inseguranças e incertezas, além da enorme saudade de casa.

Mas quando eu fui recusado no Cruzeiro, recebi uma palavra de um amigo e ele disse: Léo, não se preocupe, o Cruzeiro um dia vai comprar você e serás um grande atleta desse clube.

E nessa palavra eu me apeguei. Guardei em meu coração, mas sempre me dedicando ao Grêmio, ao clube que naquele momento me recebeu, me acolheu, me ensinou e me transformou em atleta profissional aos 18 anos de idade.

Após o Grêmio, fui para o Palmeiras, grande clube! Quanto aprendizado eu tive apesar do pouco tempo que estive ali.

Mas em 10 de agosto de 2010, após 10 anos do meu primeiro teste no Cruzeiro, todo meu esforço, somados à minha fé, trouxeram à realidade a palavra do meu amigo: o Cruzeiro me comprou e me tornei atleta do clube que eu assistia jogar desde pequeno. Considero isso uma honra e um privilégio grande! Eu me tornei parte do grupo que eu tanto admirava e sonhava! É como uma criança que assiste aos filmes da Marvel e de repente se torna parte da equipe com super poderes, legal, né ?!

Movido por honra, gratidão e muita raça, me dediquei ao máximo para fazer valer a pena cada segundo com a camisa celeste. Eu queria devolver a torcida toda a fé que eles tiveram em mim. Eu queria dar as crianças, toda a alegria que eu mesmo recebi das arquibancadas quando eu ainda era uma criança. Eu queria fazer o torcedor celeste se orgulhar de ter um mineiro representado a raposa.

E assim trabalhei muito por 11 anos: 1 década, 2 copas do Brasil, 2 brasileiros e inúmeros campeonatos estaduais.

Honrei o manto celeste também com meu caráter, minha lealdade, dedicação e amor!

Eu vivi um sonho, e o pude transformá-lo no sonhos de muitos mineiros cruzeirenses, que se alegraram com as conquistas das quais participei.

Fui capitão desse exército, e minha dedicação aumentou ainda mais, na responsabilidade de conduzir meu pelotão a um trabalho de excelência!

Mas além da palavra sonho, quero destacar a vocês hoje, a palavra gratidão!

Porque hoje essa é a palavra que permanece em meu peito e seguirá sempre assim! Afinal, ciclos mudam, estações mudam, pessoas mudam não é mesmo?

E esse ano, 2021, meu ciclo no Cruzeiro se encerrou! Mesmo após eu ter escolhido ficar com a raposa e defendê-la em seu momento mais difícil. Eu estava decidido a reconstruir o celeste. Eu estava determinado a reerguer a raposa e vê-la novamente de pé, forte e valente como sempre!

Mas não pude continuar…os motivos? Vocês já sabem acredito eu, mas ressalto sempre que essa não era minha vontade.

Mesmo não querendo, precisei encerrar minha passagem pelo Cruzeiro. Mesmo, após ter me dedicado 3 meses em Chicago para recuperar de uma lesão, e voltar 100% pronto para os gramados, não pude continuar a missão que estava em meu coração.

O que sinto hoje?? Gratidão! Por tudo o que vivi, sonhei e realizei! Gratidão, ao torcedor que confiou em mim e me apoiou! Gratidão ao clube que por 1 década me recebeu. Gratidão a Deus porque Ele colocou em minha um sonho e Ele me ajudou a realizá-lo ! Gratidão a minha família que foi minha base sempre que eu retornava de minha missões em campo!

Gratidão!

Assim encerro um ciclo, mas não a história, porque sei, que minha maior gratidão, será que eu estarei sempre nas páginas heroicas imortais como zagueiro Léo, aquele que não desistiu mas lutou e defendeu a raposa com seu coração!

Obrigado, Nação celeste!

(Por Leonardo Renan Simões de Lacerda: zagueiro, 11 temporadas, 401 jogos, 22 gols marcados – o terceiro maior zagueiro-artilheiro do clube – 8 títulos)