CRUZEIRO VENCE… MAS CONVENCE?

Como resultado, 2 x 0 sobre o Athletic foi bom, mas poderia ser melhor como teste de nosso potencial, às vésperas de iniciarmos a terceira participação na Série B e a nova fase da Copa do Brasil. No pós jogo, Pezzolano foi cirúrgico: “temos de dar parabéns aos jogadores, que correram muito. Mas ainda somos um time em construção. Para sermos fortes de verdade, vai levar tempo”.

O problema é exatamente o “tempo”. O calendário já estabelecido com aprovação geral não nos dá mais folga. Disputas decisivas para a nossa sorte nos três torneios, incluindo aí o Mineiro, estão batendo à porta. Vamos encarar equipes que já são “fortes de verdade” e não podemos mais brincar de disputar. Temos de reencontrar “pra ontem” nossa vocação de vencer e isto passa por um melhor entrosamento em dois setores que ficaram devendo perigosamente no jogo contra o Athletic: a saída de bola, a partir do goleiro, e o entrosamento no terço final do campo. Quanto à saída a partir de nossa defesa, continua sendo teste pra cardíacos. Um Deus nos acuda. Sem esquemas ensaiados, variados, a improvisação é uma loteria. A troca de passes na defesa, incluindo o goleiro, vai se tornando cada vez mais perigosa à medida que o adversário aperta. Quase sempre a solução é bola pra escanteio ou o chutão perdido no espaço. Ou seja, na maioria das jogadas, perdemos oportunidade de ataque efetivo, por falta de entrosamento repetido mil vezes nos treinos.  Uma pena.

Quanto ao ataque, no último terço do campo, zona que define geralmente o resultado de um jogo, chamam atenção os muitos erros de passes.  Lançamentos vazios para o setor B, enquanto o companheiro espera a bola no setor C. O resultado, desanimador, é mais uma jogada perdida bisonhamente. 

A torcida é pra que Pezzolano ainda encontre tempo suficiente pra minorar essas falhas. O jogo teve destaques positivos e negativos. Dentre os primeiros, a cobrança de falta de Brock e as atuações de Canesin e Willian Oliveira. Entre os negativos, a condenável primeira opção de falta, quando resolvemos desarmar o adversário, e a atuação bem abaixo da média de Wagninho.

BATE PAPO NO QUINTAL

1. Janete de Azevedo não alivia: 

“De onde vem esse poder do terror que tanto assusta? Que estranha e facciosa maneira de conduzir esse processo, notoriamente sem transparência…”

A dificuldade, Janete, surge pela insistência em um falso silogismo: quem está contra Ronaldo está contra o Cruzeiro. Não! Quem está a favor de Ronaldo, que é a unanimidade, deve querer ao mesmo tempo preservar o Cruzeiro. Tem de ser encontrado o bom senso, que jamais se concretiza na imposição por violência e ameaças. A batalha hoje não é pra afastar bandidos. É de ideias e projetos.

Infantil e ridículo o argumento de que “pra salvar a Toca 2, ela tem de ser transferida para Ronaldo”.  Em primeiro lugar, quem pode assegurar que o Ronaldo, daqui a um tempo, não se decida por outros projetos e passe pra terceiros os “seus” imóveis? Em segundo lugar, com vontade e boas intenções, podem ser encontrados outros meios de preservar esse do Cruzeiro. 

2. Política no QUINTAL – Se não censuro aqui nem os comentários que envergonham cafetina aposentada, óbvio que também não veto debates políticos. Mas faço um apelo: vamos evitá-los neste nosso espaço esportivo. É uma discussão estéril, inoportuna, inútil, do sujo contra o mal lavado. Nenhum dos dois até agora principais candidatos merece estar nem aqui, nem na presidência do Brasil. Escolher um deles é como você optar entre morrer queimado ou decapitado. Um chefiou o maior esquema de corrupção do mundo, o outro caminha pra se agraciar como um dos piores presidentes que o Brasil já teve.

3. Bernardo entra apavorado, não espera molhar o bico, e atropela criancinha na faixa:

“Pra quem diz que o Cruzeiro não tem prestigio na FMF, a federação avisou o Athletic que terá de jogar em BH a segunda partida…”

Meu caro Bernardo, a Caldense recebeu também o mesmo aviso…

4. João de Deus Filho, nosso guru da racionalidade, às vezes, distraído, escorrega na maionese. Confrontado com a pesquisa de torcidas, apontando – sem qualquer novidade – a supremacia absoluta do Cruzeiro em Minas ele decide atacar as pesquisas de modo geral, apontando erros históricos.

Meu caro João de Deus, erros só invalidam o sistema quando passam da metade. Há mesmo “barrigadas” homéricas de institutos de pesquisa, mas no geral acertam.

Esta, das torcidas mineiras, pesquisou o óbvio ululante.

5. Sem Paciência, vem no vácuo de João de Deus e também toma o caminho errado:

“Mentiras, mentiras e mais mentiras!

(…) Ninguém acredita nessas mentiras! Só quem é idiota ou doutrinado! ”

Meu caro colega e vizinho blogueiro, muita calma nesta hora. Erros pontuais, ainda que históricos, não invalidam o sistema que acerta em mais de 90% das previsões. No caso das torcidas em Minas, desde a segunda metade da década de 60, a supremacia azul é reconhecida até pelos postes da rua.

6. Teobaldo, socorrista, chega rápido, tentando ajudar João de Deus e Sem Paciência:

“Como o estado possui 21,4 milhões de habitantes (fonte: IBGE), o Cruzeiro teria 5,5 milhões de torcedores. Daí fica a pergunta: onde foram parar 3,5 milhões de torcedores? ”

Teobaldo, além da habitual margem de erro, pra mais ou pra menos, você está se esquecendo da onda azul que varreu o país a partir da década de 60, fazendo brotar sementes cruzeirenses Brasil afora. Foi tão forte essa expansão que resultou na disseminação de “consulados” em centenas de municípios de norte a sul do país.

Começou lá atrás, com os fundadores, passou pelos preservadores e atingiu o ápice com Felício Brandi.  Seguiu com outros grandes presidentes que mantiveram vivas a tocha de vitórias e as “páginas heroicas, imortais”. Por isso o Cruzeiro tem torcida em praticamente todas as regiões brasileiras.

7. José Antônio/2 – Volta ao QUINTAL pra detonar o blogueiro:

“… parece que o Dalai está mal informado ou, como sempre fazem, quer divulgar inverdades…”

O tema é o crescimento de nosso sócio torcedor, refletindo o apoio da Nação Azul ao time e à Ronaldo (o que não pode significar cheque em branco). Afirmei que estamos nos aproximando dos 50 mil, o que José Antônio critica:

“No dia primeiro, tinham 36.245 e, hoje, 40.382, média de 197/dia, nesse ritmo v ai demorar quase dois meses para atingir os 50 mil! Só pra lembrar, o Atlético tem 128.000! Contra números não há argumentos!”

Meu caro José Antônio, de fato, contra números não há argumentos. Mas os números devem ser analisados dentro do contexto em que surgiram. Você que sempre se revela racional, lógico, me responda: pode ser comparada a adesão de sócios torcedores de Atlético e Cruzeiro nesses últimos três anos?

8. Afonso Lemos, pedagógico, explica a José Antônio:

“O número de sócios torcedores varia de acordo com a performance do time. O Cruzeiro já foi o clube com o maior número de sócios torcedores em 2013 e 2014. O seu clube ter esse número de torcedores é muito normal, atualmente. ”

9. Sassá insiste na acusação de que somos arrogantes e vaidosos. Como de hábito na barraca atleticana, argumenta que a “vaidade” até consta de nosso hino. Já lembrei aqui que vaidade, tal como a inveja, é como colesterol. Há o bom e o ruim. Há a vaidade superficial, vazia, pelos dotes físicos, por exemplo, e há aquela originada de feitos épicos, imortais. Esta é pra poucos, Sassá.

10. Jorge, aciona a metralhadora giratória.  Após detalhado e cáustico exame da situação do Cruzeiro, ataca a pesquisa sobre torcidas mineiras:

“Quem garante que o mapeamento das cidades e dos entrevistados foi a mais correta? Tudo isso para alimentar a vaidade desse povo infeliz”.

Meu caro Jorge, pra começar troque, por favor, “povo infeliz” por “povo feliz, vitorioso, campeoníssimo”! Ou seja, não nos rotule pelo que restou de nós após o tsunami particular e a pandemia mundial. Classifique-nos conforme nosso desempenho nos últimos 60 anos.

Quanto a pesquisa, seu argumento serve pra invalidar qualquer resultado que não atenda as nossas expectativas.

11. Atleticano enquadra o blogueiro:

“Dalai, ainda nesse papo de pênalti para o Atlético? Que falta de assunto, só pode ser pra continuar atraindo a nossa atenção, já que claramente dominamos esse espaço. Faz o seguinte, esquece um pouco o Atlético e preocupa com o corte da água e do café nas Tocas. ”

Até procuro esquecer o tema dos “pênaltis-Hulk”, mas os fatos sequenciais não deixam.

12. ESJr. Estrelado campeão – questiona os vários “buracos” da compra da SAF, faz perguntas oportunas que ainda não encontraram respostas.  Reproduz matéria de Rodrigo Campelo comparando as diferenças entre Botafogo e Cruzeiro, ambos assessorados pela XP, com resultados e perspectivas diametralmente opostos, até agora. Diante de dados do pré-contrato, e das subsequentes e inócuas “explicações” da XP e de SSR, cita provérbio popular adequadíssimo ao momento azul:

“Quando a esperteza é muita, ela vira bicho e engole o esperto”.

In claris cessat interpretatio.

13. Bruno Araújo de Carvalho lamenta a desastrada administração de SSR abrindo mão da presença de empresários cruzeirenses que poderiam assessora-lo sem interesses pessoais, cercando-se de experts paulistas, sem qualquer vínculo com o Clube, o que vem apresentando consequências pesadas.

Bruno, muita gente mais pensa como você.

14. Marcilio critica a pesquisa das torcidas e questiona o blogueiro “que não quis responder a entrevista do super esportes sobre as demandas de Ronaldo. ”

Meu caro Marcilio, como ex jornalista, tanto de jornal quanto de rádio, nunca deixo de receber meus antigos colegas. Não me recordo do fato, mas é possível que no momento do contato não tivesse condições de atender à reportagem. Tenho externado, aqui, minha opinião sobre os últimos acontecimentos ligados à SAF.

15. Romulo, injusto, critica o blogueiro de se omitir sobre a SAF, recordando que

“Janete fez trocentos comentários sobre a forma sórdida como se deu a transação nos bastidores e o Dalai não se manifestou sobre nenhum deles. Eu explanei que da forma como está planejada a venda, mesmo que os valores da receita sejam ótimos, o Cruzeiro iria aumentar o valor da dívida, porque os 20% de receita da SAF seriam menores que os juros do estoque atual da dívida. Igualmente, o Dalai achou que o assunto era desimportante. Também destaquei que a exigência de Ronaldo em pedir a recuperação judicial é altamente perigosa e poderá, com certeza, terminar num pedido de dissolução do ente jurídico, com a ida a leilão de todos os bens para quitação de parte das dívidas para com o Condomínio de Credores (criado na recuperação judicial). Mas, outra vez, o Dalai achou o assunto desimportante. ”

Meu caro Rômulo, obrigado pelos comentários técnicos, elucidativos. Mas não tenho me omitido nesse debate decisivo para o futuro do Cruzeiro.

16. Marcos, direto ao ponto:

“…A cada hora que passa, a cada nota, a cada live, a cada notícia, confio menos no Ronaldo. Joga pra torcida, que pensa com o coração, enquanto ele, espertalhão, e seus subordinados de elite, agem racionalmente.

 A torcida está iludida com a melhora em campo, mas qualquer um que entrasse faria melhor que SSR, além do que o time ainda não foi testado de verdade. Tomara que o time melhore, que o Pezzolano seja isso tudo mesmo e que o Ronaldo fique, porque ele é uma marca mundial. Mas o Cruzeiro também é e querer abocanhar as tocas é uma indecência. ”

Marcos, você interpreta o pensamento de milhões de nós.

17. Rei Melo dispara bateria de mísseis Exocet sobre o Conselho do Cruzeiro. Excluindo o incêndio da Igreja de Pitangui, os conselheiros são culpados de tudo mais de ruim que aconteceu e acontece no Cruzeiro. Mas não é assim. O Conselho é visto como um órgão que sabia de tudo e não fez nada. Em verdade, não fez nada porque não sabia de nada.  Já abordei o assunto aqui e volto a ele: em razão do forte regime presidencialista imposto pelo estatuto do Cruzeiro, o presidente eleito toma posse, nomeia uma corte para assessora-lo, fecha a porta à estranhos e começa a fazer simplesmente tudo que quiser, com o apoio e incentivo das vaquinhas de presépio nomeadas.  Anualmente tem a aprovação de contas.  O conselheiro comparece pra discutir e votar. Nas entrada recebe cópia de um balanço contábil com mais de 200 páginas e pareceres fiscais aprovando. Mal passa os olhos na primeira folha e já começa a votação: quem estiver de acordo, permaneça como está…

18. Bernardo/2 retorna pra levar o blogueiro ao corner:

“Dalai, por favor, responda a seguinte questão: De acordo com os novos dados do contrato do Ronaldo com o Cruzeiro, revelados hoje (ontem), você não acha que se a XP atuou no “sell side” ela dá uma arranhadinha na reputação ela? Ou foram um pouco frouxos ou então houve conluio com o “buy side”? ”

Marcilio, até agora só há uma constante nas tratativas Cruzeiro, XP, Ronaldo: a falta de transparência. Cada fato vazado gera três notas de esclarecimentos, e tudo fica ainda mais escuro. O jornalista investigativo Rodrigo Capelo, um dos mais respeitáveis da imprensa brasileira passou o dia inteiro, ontem, participando de programas esportivos nos quais, pra resumir, afirmou reiteradamente que nessas negociações a XP, embora contratada pelo Cruzeiro, atuou sempre pra favorecer Ronaldo. E o contrato original, assim como as alterações feitas ou propostas, só beneficiam o comprador.

            

GARIMPO

“Brasil, país do faturo”

(Millôr Fernandes)