DE VOLTA A VOZ DAS RUAS

As manifestações da torcida azul na tarde de terça-feira, iniciadas na Praça Sete e encerradas no Barro Preto, foram assustadoras como recado. E podem ser mais incisivas. Basta lembrar o fim do ano passado quando a voz das ruas baniu uma diretoria corrupta.

Desta vez, convocada basicamente para atingir dois objetivos, o cancelamento da eleição de natos e o afastamento dos conselheiros remunerados, a movimentação já havia provocado, 24 horas antes de seu início, o recuo da Mesa diretora do Conselho Deliberativo, quanto à inoportuna e estranhíssima eleição de 70 conselheiros natos.

Restou para a passeata apenas um objetivo que é o afastamento dos conselheiros remunerados, tema que vem sendo empurrado pela barriga no Cruzeiro, da mais vergonhosa forma possível, com a ridícula explicação de que “está sub judice”. 

Trata-se de uma liminar, conseguida por esses conselheiros, na véspera da eleição dos atuais dirigentes, reintegrando-os ao Clube, com direito a voto. Eram 30. A atual Mesa diretora do Conselho Deliberativo foi eleita por uma diferença de 12 votos.

Dá pra entender agora porque, no Cruzeiro de hoje, ninguém tenta derrubar esta liminar? Ela poderia já ter caído talvez com um simples sopro, mas interessa também a muitos “graúdos” a sua transformação em “coisa julgada” como tentam nos fazer crer com a mesma “convicção” de alguém que nos comunica que finalmente o sargento Garcia pegou o Zorro!

A manifestação da Nação Azul, terça-feira, tem cheiro de CHEGA! Chega de tentar tampar o sol com a peneira; chega de acender uma vela a Deus e outra ao diabo; Chega de blábláblá, visando apenas interesses pessoais/promocionais, tentando justificar o injustificável que é essa escandalosa convivência com bandidos que nos deixaram onde estamos.

A gente sabe que são intragáveis as questões jurídicas, mas, pra quem quiser conferir, o caso dos conselheiros remunerados está previsto no parágrafo 3º. do art. 18 do Estatuto:

O Associado Conselheiro Nato e Associado Conselheiro, contratado como empregado do Clube, perde o mandato e o suplente de Conselheiro será excluído do quadro de suplência.

Importante que o texto não fala em “poderá perder o mandato” ou “sujeita-se à perda de mandato”. Nesses casos, óbvio, deveria haver um processo complexo e ser consultada a Assembleia Geral do Conselho.

Mas o texto do parágrafo é ordenativo. Cogente:

PERDE O MANDATO

Não depende de nada além da mera apuração de que o conselheiro era remunerado, seja pelo CPF (pessoa física) ou pelo CNPJ (pessoa jurídica), assegurando-lhe direito de defesa. Quem se encarrega disto é a Comissão de Ética. Ela foi nomeada ad referendum do Conselho Deliberativo porque impossível, pela pandemia, convocar naqueles dias Assembleia para aprovação dos seus membros. A Comissão abriu os processos sumários. Deu amplo direito de defesa aos conselheiros envolvidos. E, afinal, o parecer recomendando em quase todos os casos, a exclusão. Em seguida, assinei os atos afastando os conselheiros.

Faltou a mera formalidade de aprovação dos membros da Comissão de Ética pela Assembleia do Conselho Deliberativo, impedida de ser convocada em razão do Coronavírus. Essa aprovação, óbvio, seria tranquila.

Basicamente, a rigor, foi esse detalhe que “justificou” a liminar judicial. Mera formalidade. Nada contra o mérito. Nenhuma alegação fundamentada de injustiça quanto aos fatos de que eram acusados.

Nestes cinco meses de nova gestão, o Cruzeiro poderia ter tentado derrubar a liminar ou, não conseguindo, nomear outra Comissão de Ética e submetê-la a aprovação da Assembleia, refazendo-se os processos. Não cuidou nem de uma coisa nem de outra.

Perguntados sobre este espinho na garganta, conhecido como conselheiros remunerados, os dirigentes – preferindo nos ver como idiotas – respondem sem corar de vergonha: “Temos de aguardar. O caso está sub judice”.