SINAIS!

Às vezes, precisamos fechar os olhos pra enxergar melhor.

Senti isto literalmente.

Um sentimento que se ajeita algumas estações à frente da primavera pintada por Saint Exupery estremecendo corações com O Pequeno Príncipe – “o essencial é invisível para os olhos”.

Na última coluna, Fernando Rocha advertiu:

“Os sinais existem na vida de todo dia e nada está fora do universo. Nem dessa completude, nem dessa faísca breve que a gente chama de vida. ”

Em meio a tantos semáforos, estranhamente há os que se recusam a abrir os olhos. Para eles, a sabedoria popular cunhou uma condenação dorida: o pior cego é aquele que não quer ver.

Desculpem-me a imodéstia, mas desde o segundo mandato da administração Gilvan passei a comentar por todos os meios possíveis sinais de rachaduras no casco. Reproduzi com frequência, para os senhores de plantão, a semelhança da situação do Atlético e do Internacional, dois/três anos antes da queda para a Série B. Os sinais eram os mesmos: dissensões, guerrilha, um absurdo olhar para o umbigo na caminhada para o precipício.

Ultimamente, já na administração Wagner Pires, lembrava também o caso do São Paulo, com briga entre presidente e vice, e o time na zona de rebaixamento. Sinais. Sinais. Sinais.

Tudo com uma agravante terrível: aproximava-se o nosso centenário. E emendava com uma repetitiva figura da corrida de revezamento, alertando: há cem anos, graças aos que dirigiram o Cruzeiro, este bastão é passado com vantagem ao companheiro da frente e por isto somos “apenas” O MELHOR CLUBE BRASILEIRO DO SÉCULO XX! Agora, na nossa vez, como vamos passar o bastão?

Fui uma voz clamando no deserto. Não tive nem capacidade nem prestígio para ser ouvido. Assumo a culpa da omissão. As coisas continuaram de mal a pior, com a bandidagem regada a milhões crescendo como erva daninha. O resultado é este amargor que já dura dois anos.

A diferença é que os sinais de agora são outros, com a nova roupagem da arrogância. Outra vez os senhores de plantão teimam em não os enxergar. A cada rodada, sintomas de que continuamos no rumo errado. Mas muito errado, tipo trocando norte pelo sul.

E as duas velas acesas: uma a Deus, outra ao Diabo.

Ainda há tempo (curto) de uma reconstrução administrativa, abrindo janelas para que o sol faça a desinfecção.

BATE PAPO NO QUINTAL

1. QUINTAL turbinado. Este minifúndio, transferido virtualmente para a Avenida Paulista nas últimas semanas, alcançou extraordinária valorização de estilo e conteúdo. O que não sabe ao misturar passos da dança, Fernando Rocha sabe muito ao misturar palavras. Com tempero e charme.

2. Hoje é o Vasco. Em sua excelente coluna das quartas-feiras no Estado de Minas, Gustavo Nolasco lembrou ontem que há 47 anos o Cruzeiro disputava a final do Campeonato Brasileiro de 1974, com o Vasco, no Maracanã (para onde foi transferida estranhamente). No apito, Armando Marques perpetrou o maior roubo de sua carreira, pra nos tirar o título e entregá-lo ao clube carioca.

Hoje, na Série B, desfigurados, os dois times vão nos mostrar qual é, ainda, pior do que o outro.

A que ponto nos levam os desmandos de ontem e de hoje.

3. rickky007 Seja bem-vindo! Mas me permita duas correções no seu ótimo texto. “O Atlético passou aperto por 20 anos com diretorias amadoras, corruptas e, quem sabe dizer ao certo, talvez até criminosas…” Só 20 anos? No mínimo, você pode dobrar.

“Compraram juízes (disse Benecy) ”. Não se misture aos que divulgam essa fake news. Apequena o seu comentário.

4. João Renato coloca em dúvida o tamanho de nossa torcida e crava:

”Esses 9 milhões são outra ilusão plantada pela arrogância. ” Que é isto, João? Pegue um copo d’água, assente-se numa poltrona confortável, respire fundo três vezes, e veja a última pesquisa Datafolha sobre as torcidas brasileiras.

Essa pesquisa pulveriza também a brincadeirinha com que você abre o seu comentário: ”Cruzeiro é tão grande que bastou uma crise para acabar. ” Você acha, mesmo, que esse patrimônio metafísico (quer que eu recorde aqui as páginas heroicas, imortais?) pode acabar assim?

5. Eduardo galão da massa não percebe que seu anjo da guarda foi ver se está chovendo lá fora, e subscrita o texto de João Renato. Vacilão.

6. ADRIANO PEREIRA apontando a obsessão atleticana pelo Cruzeiro, mesmo com o nosso time jogado à lona. Concordo. E aí está a nossa grandeza. Eles não nos esquecem porque sabem que mais ou cedo ou mais tarde estaremos de volta ao protagonismo no futebol brasileiro. Lá é o nosso lugar. Tão logo o Clube seja desinfectado de bandidos e da arrogância, a torcida chegará com força para a Nova Reconstrução.

7. José Tiago Monteiro, corajoso e coberto de razão, dá na moleira atleticana: “A torcidinha preta e branca é a 3ª. maior de Minas (a 2ª. pertence ao Flamengo) basta verificar os números”. Nossos apaixonados condôminos atleticanos vão chiar (menos João de Deus, guru da racionalidade) mas até uns anos atrás o Atlético era o 4º., em Minas, sendo ultrapassado, em torcedores, por Cruzeiro, Flamengo e Corinthians. Já há algum tempo, passou para o terceiro. Isto é fato. Como já foi lembrado neste QUINTAL a arrancada azul veio nos anos 60, com a administração Felício Brandi.

8. rickky007-2 retorna ao QUINTAL com outro bom texto mas, de novo, atropelando a verdade, começando lá atrás, na origem de Cruzeiro e Atlético. Elite eram os atleticanos. O Cruzeiro foi fundado por operários italianos, descendentes daqueles imigrantes que vieram para o Brasil quando abolida a escravidão. Isto é fato. Projeção nacional e internacional: vantagem folgada do Cruzeiro, pelos títulos conquistados. Isto é fato. Torcida em Minas: 1º. Cruzeiro; 2º. Flamengo; 3º. Atlético. Isto é fato.

9. Beth Makennel Makennel observando que não fossem erros de arbitragens o Cruzeiro poderia ter “mais uns três Brasileiros, 2 Libertadores…” Lembra depois o recorde de público no Mineirão, em 1997, decisão do campeonato mineiro, contra o Vila, com 132 mil torcedores. Paralelamente, toca no nervo de dente exposto, dos atleticanos, ao lembrar seu tradicional favorecimento na FMF, CBF e mídias. Assino embaixo.

10. rickky007-3, já podendo pedir música no Fantástico, por mais estranho que pareça volta pra avançar de novo o sinal e atropelar crianças que atravessavam na faixa. Quase todo o texto, embora muito bem escrito, é equivocado mas vou destacar, com licença da palavra, duas aberrações: 1. O recorde de público de Cruzeiro x Vila, de 132 mil torcedores, é mentira: 2. Benecy não brincou, vi a entrevista várias vezes e ele falou sério.

Faz isto não rickk. Quero colocá-lo na mesma e respeitosa galeria onde pontificam neste QUINTAL galo doido New York, Jorge, Sem Paciência, João de Deus Filho e outros condôminos nota-10. Mas para isto não podemos cometer barbaridades como estas duas.  1. O recorde de público está registrado na sempre atleticana FMF. Naquela tarde, em que o Cruzeiro venceu o Vila por 1 x 0, gol de Marcelo Ramos, eu estava no Mineirão. Não cabia mais nem pensamento. 2. O jogo em que, segundo Benecy Queiroz o Cruzeiro “comprou” o juiz, era um amistoso. Nosso goleiro era o Vitor e nosso técnico Ênio Andrade.

Agora me explique: Se Ênio Andrade nunca foi técnico de Vitor, como iriam atuar juntos naquele amistoso?

E, afinal, é possível imaginar alguém subornando juiz em jogo amistoso?

11. Jorge, esgrimista das palavras, quer ver tampa de caixão na última coluna. Calma, Jorge, que caixão comportaria O Melhor Clube Brasileiro do Século XX? Este presente cruel que vivemos, por mais grave e doloroso, ainda é pequeno pra enterrar passado tão grande. Aquele desabafo do Dalaizinho foi imposto pela situação surreal que atravessamos no Cruzeiro. Uma Ilha da Fantasia onde o comando finge que comanda; bandidos fingem que saíram; tesoureiro finge que paga e jogadores fingem que jogam. Absurdo. Não se dá passo à frente com duas velas acesas: uma a Deus outra ao Diabo.

Mas não é a primeira vez que Jorge toca em ponto sensível às duas torcidas: a queda para a Série B. Os atleticanos caíram chorando e cantando o seu hino. O Cruzeiro caiu depredando o estádio. Filmadas isoladamente e comparadas as duas cenas, a atleticana emociona e a cruzeirense revolta. Mas é impossível não contextualizar os dois fatos. O Atlético, com o esforço do time e o apoio da torcida, caiu lutando bravamente para escapar. O Cruzeiro, ao contrário, vivia aquele momento terrível de descoberta das falcatruas, com revolta da torcida e visível desmotivação dos jogadores. Se fossem trocadas as situações dos Clubes os resultados seriam os mesmos, com camisas diferentes. A torcida do Cruzeiro não é o grupo de vândalos que depredou o estádio. Pelo contrário, mesmo na situação atual, tem respondido presente e acaba de ser agraciada na pesquisa da Data Folha como a quinta maior do Brasil. Como referência, registre-se que os atleticanos estão em décimo lugar.

12. João De Deus Filho, exagerando no revide dos 50 anos de bullying, prevê Série C pra nós e anuncia que o Atlético fechou patrocínio com a Amazon e é procurado pela Havan. Leia-se: Cruzeiro procura doações de cestas básicas, enquanto Atlético encomenda lagosta para o almoço. Menos, João! Estamos realmente comendo o pão que o diabo amassou, mas a situação de vocês não é nem pode ser esse paraíso que está sendo pintado. Não é possível um Clube de futebol com a maior dívida da Série A e ao mesmo tempo construindo estádio próprio, manter elenco a dois milhões de reais por dia. Alguma coisa não bate, meu amigo João.

13. Ricardo Guimarães, informando que seu pai “era um ferroviário com muito orgulho” viu arrogância e ofensa no comentário da última coluna de que o Operário é um clube formado por ferroviários. Outros condôminos tiveram a mesma leitura, apontando até discriminação. Ricardo, não houve essa intenção. O dado era meramente informativo. O avô do Fernando, meu pai, Waldemar Augusto Rocha, que nos deixou um iluminado exemplo de caráter, honradez e generosidade, e do qual sempre tivemos imenso orgulho, era motorista. Felizmente pra você pra nós, uma coisa não tem nada a ver com a outra.