COMEÇAM AMANHÃ SEMIFINAIS DO MINEIRO

O Cruzeiro que, oportunamente, preservou os titulares no jogo de sábado, estará em campo amanhã, no Mineirão, para o primeiro confronto com o Athletic. O time de São João del-Rei entra com a vantagem de jogar por dois empates porque terminou em segundo lugar na primeira fase do Mineiro.

Venda de ingresso começou ontem, intensa procura. A Nação Azul espera aplaudir, mais uma vez, a evolução tática e de conjunto do time em suas últimas apresentações. Foco total na crescente harmonia, já detectada, entre defesa, meio de campo e ataque.

O local do segundo jogo ainda é uma incógnita. O Athletic quer ficar em casa, no seu Estádio Joaquim Portugal, mas para isto terá de atender às exigências pré-estabelecidas: laudos positivos de segurança e cabine adequada para o VAR, usado a partir das semifinais.

BATE PAPO NO QUINTAL

1. PATROCINANDO FESTA ALHEIA – Acho que o cruzeirense esperava mais da jovem equipe que enfrentou o Patrocinense e foi derrotada por 2 x 1, levando o time da casa a festejar a permanência na elite do Mineiro. A expectativa não era de conjunto ou de sistema de jogo pois muitos ali jamais haviam disputado juntos uma partida oficial. Era de lampejos individuais, jogadas inesperadas que fariam a torcida logo colocar na testa do menino uma etiqueta imaginária: “futuro craque” ou “aguarde um pouco mais, minha valorização vai salvar o Cruzeiro”. Não aconteceu, talvez também pelas péssimas condições do gramado, responsável pela volta de quem andava sumido das manchetes: o montinho artilheiro.

É evidente que outros testes poderão dar outros resultados, porque a turma é muito jovem. O goleiro que ficou de reserva no jogo de sábado tem 16 anos.

Mas alguns pontos foram destaques negativos: reclamações acintosas contra a arbitragem, em lances bobos, como um lateral no meio do campo; nos últimos 15 minutos de jogo, quando o esforço generalizado deveria direcionar-se para o ataque rápido, a cansativa troca de passes na intermediária e, o mais grave, a negligente e impensada opção pela falta, em jogadas que comportavam tentativa produtiva de tomada de bola. Isto facilitou em muito a cera legal que passou a ser feita pelo Patrocinense em todo o segundo tempo. São detalhes importantes que decidem uma partida e ajudam na formação de um futuro craque.

Paulo Pezzolano deve ter tomado nota.

2. DO SOFÁ, É FACIL! Nesta fascinante aventura diária de viver convivendo, é sempre útil mentalizar pela manhã, a Oração de São Francisco: pedido de forças pra mudar as coisas que precisam ser mudadas, suportar aquelas que não podem ser alteradas, e sabedoria pra distinguir uma das outras.

Viver o Cruzeiro, hoje, é escolher entre estes dois caminhos: aceitar ou reagir.  As negociações que resultaram na SAF ampliaram exageradamente o conceito de “clausulas de confidencialidade” a ponto de não se divulgar absolutamente NADA do que foi acertado com Ronaldo. As surpresas começaram poucas semanas após sua entrada como gestor absoluto, fazendo fundas alterações, recebendo total apoio da torcida: anunciou que ainda não estava definido o seu investimento… Era sabido, como consta na lei, o prazo de confirmação. Mas Ronaldo tomou medidas administrativas radicais que produziram a falsa impressão de coisa definitiva. A surpreendente proposta de amealhar os dois CTs divide agora a Nação Azul.   Continuamos absolutamente desinformados. Há os que aderem logo ao voto de confiança ilimitado a Ronaldo:  Melhor ficar com ele os CTs do que serem arrematados por qualquer um; Antes Ronaldo do que esses conselheiros que arruinaram o Cruzeiro, etc, etc. Se tiver de entregar o Cruzeiro todo, vamos entregar, porque vale a pena! São as metralhadoras giratórias da Internet disparadas sempre do sofá, que é mais fácil. E por ímpeto emocional. Sem qualquer miligrama de raciocínio. A contra argumentação não vem pela lógica e sim pelas ameaças físicas de atentado. Desta vez não há bandidos envolvidos. Precisamos resolver a questão com argumentos, não com violência.

Felizmente, muitos cruzeirenses acham que vale a pena, sim, lutar pela permanência de Ronaldo, mas com transparência mínima, em honra de um patrimônio imobiliário e metafísico construído há mais de cem anos.

3. UM ELEFANTE INVISÍVEL? – Você, caro leitor ou cara leitora, que chegou até aqui, (com licença de Juca Kfouri), pode imaginar um contrato de compra e venda, celebrado por R$ 400 milhões, sendo que um passivo tributário do mesmo valor tenha passado despercebido pelas partes, mesmo após uma preliminar devassa contábil que se estendeu por dois meses?

Naquele emaranhado de números, um passivo tributário deste tamanho é como um elefante transitando entre os relatórios. Impossível não ser visto. Ainda mais, depois do ajuste feito com a Procuradoria Federal da Fazenda.

Inacreditavelmente, porém, é o que consta da nota expedida por Ronaldo. Leia-se:

“Vale ressaltar também que o pedido de inclusão das Tocas I e II na transação é simplesmente para proteção do patrimônio do Cruzeiro, diante de uma realidade que se revelou significativamente mais grave do que aquela indicada nas informações inicialmente disponibilizadas e que foram utilizadas para a elaboração da proposta apresentada ao Cruzeiro. Hoje a Toca 1, a sede do Barro Preto e parte das receitas do futebol estão comprometidas em razão de dívidas tributárias de aproximadamente R$400 milhões, as quais não estavam previstas na negociação inicial. No curto prazo, os imóveis podem ser leiloados e as receitas apropriadas por falta de pagamento”.

Sem qualquer dúvida, Ronaldo faz até agora um trabalho extraordinário, com reflexos no gramado e fora dele. Tem merecido o apoio da torcida, representado pelo crescente número de sócios torcedores, se aproximando de 50 mil. Quanto a mim, com orgulho e satisfação crescente, sou sócio diamante. Mas por isso vamos dar a ele, às cegas, todo o patrimônio do Cruzeiro, alterando profundamente, contra o Clube, o contrato inicialmente assinado?

Assisti, com todo interesse, a entrevista concedida à rádio 98-FM por Gabriel Lima, apresentado como líder da equipe de Ronaldo. Repetiu algumas vezes que a intervenção “salvou o Cruzeiro”, que, sem ela, não teria qualquer condição de sobrevivência.  Desculpe-me, mas se tínhamos mais 15 propostas, parece lógico que a presença de qualquer outro investidor salvaria também o Cruzeiro, pois esta era e é a finalidade dessas transformações jurídicas.  A todo momento Gabriel, repetiu, contraditoriamente, que não estão enfiando a faca no Conselho, mas se não forem atendidos, vão se reunir pra decidir que rumo tomar. E paralelamente, Ronaldo vem declarando que “agora, a sorte do Cruzeiro está nas mãos do Conselho Deliberativo”. O que me assusta é a possibilidade de, alguns meses pra frente, ouvir Gabriel Lima avisar que se não lhes forem passadas as sedes da rua Timbiras e da Guajajaras…

4. Clausula de confidencialidade – Alguns contratos costumam impor. Nunca, porém, do contrato todo, quando se trata de bens de uma coletividade.

5. Jogo “semi amistoso” e “pênalti-Hulk” – os dois temas fervem nos debates neste QUINTAL, capitaneados por vários condôminos, em especial Jorge, Sem Paciência e José Antônio. Visões diametralmente opostas, conforme a camisa de quem comenta. Vamos tentar reavivar pontos que acredito sejam incontroversos.

O 9×2 – Palestra Itália contra Atlético –  aconteceu em 1927, no encerramento de um campeonato mineiro durante o qual, segundo declarou Ninão, anos depois, os palestrinos fizeram tudo para que se encerrasse o longo período de dominação americana (decacampeonato). Nesse “tudo” estaria, por exemplo, perder por um elástico placar no jogo contra o Atlético. Reforçando esta versão está um fato incontroverso e inusitado ocorrido logo após a partida:  mensagem de felicitações enviada pela diretoria do Palestra à diretoria do Atlético. Esse jogo seria mesmo “oficial”? Daí, a solução do “semi-amistoso”.

O “pênalti-Hulk” não é qualquer um. Ocorre sempre em “jogo estratégico” e em momento decisivo, quando já falta munição pra artilharia. Tal como uma fruta verde, precisa maturar.  Hulk se encarrega disso, “buzinando” no ouvido do árbitro em todo lance que admita polêmica. Preparado o terreno basta aguardar a oportunidade de uma corrida para o interior da área, trançar o pé ou a perna com o defensor e se atirar ao gramado. Bingo!

6. Marcos Mineiro cruel com a barraca atleticana neste minifúndio:

“Só uma pergunta: vc estava lá, quando houve o 9×2? No 6×1, estávamos todos em Sete Lagoas! ”

7. Rogerio da Cunha Maurício não alivia:

“Como observador dos fatos e reações de protagonistas, permito-me emitir minha opinião sobre o engodo chamado Ronaldo Fenômeno e a SAF Cruzeiro. Desculpe-me, mas a culpa deste verdadeiro 171 de que o Cruzeiro está sendo vítima é sua, do Pedro, do Vitório, do Saulo e de todos os demais homens probos que ainda existem no Cruzeiro. Como gestores e conselheiros, vocês aprovaram um negócio sem conhecer os detalhes que, como disse a XP é protegido por cláusulas de confidencialidade. ”

Meu caro Rogério, a aprovação da SAF, naquelas circunstâncias, era a única saída. Fomos aceitando tudo que nos era imposto porque não havia nem condições de dizer “não”. Está neste plano o percentual de transferência das ações, inicialmente pretendido em 51% para o Clube, caindo depois para 40, 30, 20 e finalmente fixado em apenas 10%, com Ronaldo assumindo 90% das ações. Você se lembra: aprovada a SAF, na manhã seguinte o presidente SSR já estava sendo fotografado em São Paulo, com Ronaldo, festejando com champanhe a assinatura de um contrato que ninguém mais conheceu, cujas cláusulas permanecem misteriosas. O advogado que assessorava o Cruzeiro nessas tratativas, dr. Bruno Volpini, surpreso, afirmou desconhecer o contrato e se considerou traído.

Hoje, meu caro Rogério, com o time em franca evolução, o apoio a Ronaldo é quase unânime. Mas a que preço? Esta é a pergunta.

8. Bruno Araújo de Carvalho pede mais atenção, nas negociações, por parte dos que representam o Cruzeiro, porque nossos interesses, a seu ver, não estão sendo bem defendidos “e podemos pagar caro por isso em um futuro próximo. ” Mas está otimista:

“Em contrapartida, acho que temos de levantar uma bandeira branca e procurar sempre o diálogo para que se chegue a um denominador comum para as partes, pois é fato que o trabalho feito pela equipe do Ronaldo, dentro e fora do campo, vem surtindo efeitos, em curto prazo, no futebol”.

É isto Bruno, manter Ronaldo sem perder o Cruzeiro.

9. Sassá estreia em grande estilo neste QUINTAL mas comete o pecadilho de nos acusar de arrogantes e vaidosos em nosso passado. Nunca fomos. Não se pode confundir a natural satisfação e alegria pelos títulos conquistados, com pretensão e arrogância.

Sassá, você queria que a gente comemorasse tantos títulos com minutos de silêncio?

10. A incrível NAÇÃO AZUL – varrido por um tsunami que arrasou suas finanças e depois trancado em casa, junto com o mundo, por causa da pandemia, o Cruzeiro vai disputar, pela terceira vez seguida, a Série B. Continua sobrevivendo vendendo almoço pra comprar janta. Mesmo assim, apesar do flagelo que, nessas proporções e nessas coincidências, jamais atingiu qualquer outro grande clube, mesmo assim, inacreditavelmente, o Cruzeiro continua O MAIOR DE MINAS!

A pesquisa publicada sábado, pela Quaest/Genial é esta:

Cruzeiro – 26%

Atlético – 18%

Flamengo – 9%

Corinthians – 5%

Destaque para a grande arrancada do Atlético que há algumas décadas era ultrapassado por Flamengo e Corinthians.

 GARIMPO

“Quem mexeu no meu queijo? ”

(Spencer Johnson)

Num pequeno livro, uma grande bússola de vida.