8 DA NOITE, COM VITÓRIA!

Sem tempo de lamber feridas, pós apagão platino, o Cruzeiro está em Salvador pra encarar o Vitória, pelo campeonato brasileiro. Hora de esfriar a cabeça. Baixar a bola.  Cada jogo é um jogo. Não seremos sempre o time do show na casa do líder. Também não somos o amontoado que enfrentou o Boca. 

Fernando Seabra tem de encontrar constância, a base de jogadas, e, com os treinamentos possíveis, mantê-la em todos os jogos. Só a repetição dá segurança. Há pouco tempo atrás, isto era meta impensável pela falta de qualidade no elenco. Hoje, sobra. O desafio é adequar peças de forma efetiva. Seabra disse que a análise do vídeo do jogo contra o Boca indicará as reformulações necessárias. Tomara que sim. Milhões de corações azuis, acelerados, vão conferir hoje à noite.

Se não for pedir muito, vamos aprender a bater escanteios pelo menos com um mínimo de perigo para o adversário?

BATE PAPO NO QUINTAL

1. MEIA BOCA –  Em Buenos Aires, quinta-feira (Boca Junior 1 x 0) estivemos longe do que sonhava a Nação Azul. Incríveis erros de passe a curta distância, rearmando o adversário, quesito em que Matheus Pereira, nossa maior estrela, bateu recordes. No segundo tempo, nossa única finalização aconteceu aos 34 minutos. E quando o time acertava no meio de campo, preparando jogada, uma força extra ajudava o Boca Juniors: o horrível árbitro venezuelano Jesus Valenzuela. Não influenciou diretamente no placar, mas exagerou nos cartões amarelos e foi obstinado em barrar contra-ataques, com retomadas de bola que poderiam resultar gol. Nestas ocasiões, bastava o argentino se atirar no gramado e a falta era marcada. 90% dos bons árbitros deixariam o jogo correr. Quantas jogadas assim poderiam ter sucesso mais à frente? Duas, três, talvez nenhuma. Não se sabe.  Isto nem despertou atenção de comentaristas, porque o Cruzeiro de fato não jogava bem. Mas, e se…

Lautaro confessa: “Começamos dormindo no segundo tempo.” Acordaram?

2. 2.000 combatentes – Frio, dificuldades de logística, custos, nada disto barrou a predeterminação de 2 mil cruzeirenses presentes no Bombonera dando apoio ao time. Tudo ali é difícil. Até mesmo “escalar” a arquibancada, quase vertical, daí lembrar bombonera.

100 desses torcedores formaram caravana organizada por Leonardo Ferreira, mineiro de São Gonçalo do Sapucaí, estudante de medicina, residente em Buenos Aires desde 2016.

São cruzeirenses aglutinadores, como Leonardo, que por toda parte fazem resplandecer a camisa mais bonita do mundo, sustentando o protagonismo histórico do Clube em Minas e fora do eixo Rio-São Paulo.

3. Roberto Cardoso de Sousa rebate o blogueiro quanto lembrança de “dream team” de Santos e Cruzeiro:

“O Santos não me lembro (só teve timinho) mas o Cruzeiro sim, teve um verdadeiro ataque dos sonhos: Junior Brasília, Toby, Bendelak e Dedé de Dora.”

Meu caro Roberto, muitos não entenderam a ironia do “timinho” referente ao Santos que, imagine, já teve uma dupla de ataque com Pelé-Coutinho. Auto explicável.

Quanto ao Cruzeiro, vamos recordar o dia 30 de novembro de 1966, no Mineirão com 73.300 torcedores. Armando Marques no apito. Goleada de 6 x 2 no Santos.

Time: Raul, Procópio, Neco, William, Pedro Paulo, Piazza, Natal, Dirceu Lopes, Tostão, Evaldo e Hilton Oliveira.

Qualquer semelhança com dream team não é mera coincidência.

Quanto aos perebas, pesquise onde Mexerica jogou…

4. Paulo Augusto passa dica pra Seabra:

“… Uma formação com dois pit bulls (Wallace e Romero) não poderia sacrificar o meia de criação Matheus Henrique. A formação ideal seria os três, tirando Lautaro ou Arthur Gomes, para que um deles entrasse no segundo tempo.”

Assino embaixo.

5. João de Deus Filho, nosso Guru da Racionalidade (há controvérsias), faz retrospectiva da semana e começa encostando bisturi em nervo de dente exposto:

“Confesso, sinceramente, que quase choro quando o Dalai comenta sobre o tsunami e a pandemia que atingiram unicamente o Cruzeiro em todo o mundo. Como se não houvesse corrupção e roubalheira em quase todos os clubes de futebol…”

Meu caro João de Deus, falso silogismo neste minifúndio é exclusividade de Augusto e Fala Sério. Vão te cobrar royalty. Vou repetir: o ponto central não é este. Óbvio que corrupção no Brasil parece instituição nacional em todos os setores. Sábado mesmo foi finalmente preso, com condenação definitiva a 39 anos de reclusão,  Renato Duque, ex-diretor todo poderoso da Petrobrás, integrante do maior esquema de corrupção do mundo. No universo dos clubes, o fundamental que diferencia o Cruzeiro  é que, desgraçadamente, a “nossa” corrupção,  que rotulei de “tsunami interno” explodiu no momento em que a pandemia passou a confinar o mundo em casa. Não pudemos reagir. Esta é a diferença.

Entendeu?

Em seguida, João de Deus pega mais um bonde errado: como alguns outros aqui, principalmente Augusto, tenta elevar à categoria de grande clássico aquele  “quase amistoso” final do campeonato mineiro de 1927 em que Atlético e Cruzeiro visavam estancar os sucessivos títulos do América. 

Tudo pra ver se, afinal, desce goela abaixo o inesquecível 6 x 1 de 2011, pelo Brasileiro. A gente entende. Vocês não conseguem deslembrar.

Não satisfeito, pega trem fantasma:

“Lembro também que aqui na coluna a declaração do Benecy também não tem validade. Ou seja, tudo que é do contra, aqui não vale.”

Meu caro João, quem disse que a declaração não vale? Vale sim. E vou rearfirma-la: “Compramos o árbitro num jogo imaginário, amistoso”.

Vale o que?

Curioso é que, neste minucioso enfoque dos fatos da semana, João de Deus faz olhar de paisagem para o míssil Exocet que atingiu a cozinha atleticana: as declarações do ex-presidente Kalil. Nitroglicerina pura. A menos explosiva delas: “Em minha gestão, enchi a sala de troféus do Atlético. Há 40 anos não entrava nada lá”.

Fala, João!

6. O gramado da Arena mais tecnológica do mundo – Virou piada pronta. Quem reclama e diz preferir jogar em outro campo, são os próprios jogadores do Atlético. Alguém pode me explicar? Gasta-se um bilhão de reais na construção de um estádio e o gramado, mesmo depois de reformado, continua um pasto? Alguém imagina a construção de um teatro maravilhoso, moderníssimo, riquíssimo, com um palco de madeira bichada e barulhenta?

Pois aconteceu no bairro Califórnia.

De algum modo, isto explica porque a Arena Meu Rival Venceu também é muda, surda e cega.

Uma coisa, porém, é irretocável. Nota dez. Os camarotes-gourmet. Serviço nobre. Vinhos da prateleira de cima. Cardápio parisiense ou italiano. Ideal pra reunião com família, amigos. De costas para o gramado fica ainda melhor.

7. Matheus Pereira, nota 10 – No retorno da Argentina, o craque foi abordado pela imprensa. A um questionamento mais incisivo de um repórter, deixou-se trair por expressão facial que anunciava revide mas se conteve. Limitou-se a comentar: “acho maldosa a sua pergunta…” O diálogo continuou, perdendo a cada resposta o prenunciado sentido belicoso e, ao final, Matheus Pereira sedimentou em explícitas cortesias o calmo domínio da situação. Já vi dezenas de episódios assim terminarem mal, por inabilidade de ambas as partes.

Na minha leitura, Matheus Pereira, como expert em “media training,” captou o rumo estranho sinalizado pela situação. Enquanto era tempo, trocou os trilhos com extrema sensibilidade. Pessoas diferenciadas dominam impulsos, enquanto podem controla-los. Percebem discretos sinais de turbulência e mudam a prosa.

A natureza também dá sinais. No sul mineiro do café, agricultores alertam: geada não cai na poeira.

8. José Antonio interpreta o sonho de consumo da Nação Azul:

“Pedrinho precisa contratar um centroavante de oficio, um cara de referência na área pro Matheus Pereira levantar a cabeça, rolar a bola com carinho e afeto e falar: faz o gol meu fi. E correr pro abraço.!”

Pedro Lourenço te ouça. Depressa!

9. Futebol feminino do Cruzeiro – show de bola! O todo poderoso Corinthians veio sábado a BH (estádio do Vila Nova) e voltou pra São Paulo com uma sacola de gols. 7 x 2.

GARIMPO

“A memória funciona de maneira que, a cada vez que retomamos um caminho perdido dentro dela, refazemos esse caminho com o que levamos para ele naquele momento. Como uma trilha na mata que literalmente é criada a cada vez que você passa por lá. A trilha não existe em si. Ela é decorrência da experiência de tentar chegar a algum lugar.”

(Emanuel Aragão, do livro “Dez princípios antes do fim”)