CRISE: PERIGO E OPORTUNIDADE

John F. Kennedy, em momento de extrema dificuldade para os Estados Unidos, enviou aos americanos esta mensagem:

“Escrita em chinês, a palavra “crise” é composta de dois caracteres. Um representa o perigo e o outro representa a oportunidade. Em uma crise, esteja consciente do perigo, mas identifique a oportunidade. ”

Nesta semana, sob nova direção técnica, esperamos de todos que tenham qualquer parcela de responsabilidade na condução dos destinos do Cruzeiro, o sentimento de que não podemos deixar escapar mais esta oportunidade. Felipe Conceição, por onde passou em sua ainda curta carreira deixou marcas de personalidade, liderança, acuidade para antever talentos e habilidade para a formação de equipes entrosadas, com padrão de jogo.

Não podemos perder a chance de deixa-lo trabalhar com a liberdade e autonomia que precisa, sem incentivarmos comandos paralelos, dissensões, atos dúbios. A palavra mágica é reconstrução. O Cruzeiro, para sobreviver a esta gravíssima situação, precisa de todas as suas forças positivas, sem egocentrismo, que não leva a nada. E com transparência.

Chega de perder.

Vamos começar a ganhar no campo e fora dele.

BATE PAPO NO QUINTAL

1. Rei Melo, revoltado com o nosso sistema administrativo, pergunta pra que servem os “400 babacas” que formam o Conselho Deliberativo e crava que o melhor é acabar com eles. Por incrível que pareça, a maioria é gente boa. Mas, como você já ouviu dizer, “porco magro é que suja a água”. Uma cuidadosa e limpa reforma do Estatuto pode resolver 80% dos problemas do Cruzeiro. E vamos acreditar no trabalho do novo treinador. Habilidoso, estrategista no garimpo e formação de equipes vindas das divisões de base. Quanto aos atleticanos, paciência com eles. Sofreram muito num longo passado.

2. Juliano Damien faz análise nua e crua da situação do Cruzeiro, apoiando Felipe Conceição, mas lembrando que ele precisa ter condições para trabalhar. Esta é a grande preocupação do mundo azul. Será mais do mesmo, com um time sem alma e sem vontade? Ou corajosamente serão implementadas as condições ideais de trabalho: sem “panelinhas”, sem protegidos, sem camuflagens. Numa palavra: transparência! Sol de meio dia clareando tudo!

3. Gustavo Nolasco, um de nossos maiores cronistas, nos brindou com um trabalho antológico – “A China Amazônica e Azul”-  que integra o Coletivo 1921. Pedi licença pra transcrever um trecho que reforça a minha tese de que, no futebol brasileiro, o Cruzeiro é o grande injustiçado nesta pandemia. O confinamento foi um mal geral, mas nenhum Clube precisou tanto de sua torcida como nós. 

Assim escreve Gustavo Nolasco:

“No instante mais difícil de nossa maravilhosa história centenária, o destino mundial deixou o clube criado pelo povo órfão exatamente dele por 42 partidas seguidas. Chega a apertar o peito só de imaginar o manto sagrado correndo pelo gramado, muitas vezes em desespero, olhando para as arquibancadas, buscando o nosso amoroso alento, e não nos encontrando. ”

Com a torcida em campo iriamos perder todos aqueles jogos em casa?

4. A maracutaia que resultou no duplo recebimento pelo terreno do bairro de Lourdes não tem “certidão de fraude” passada em Cartório, como querem alguns. O menos culpado é o Atlético. Não era ele que cuidava do meu e do seu dinheiro encaminhados aos cofres públicos através de impostos e taxas. Culpados foram os governantes da época confundindo paixão de futebol com interesse público. Tudo feito com luvas, pra não deixar digitais.

Até 1985 estive na Procuradoria Geral do Estado, chefiando a Procuradoria do Patrimônio Imobiliário. Depois ingressei na Magistratura. Mas os vínculos de amizade e relacionamento com os procuradores estaduais e municipais de Belo Horizonte continuaram. Em 1991, quando Hélio Garcia era governador (depois de ser prefeito de BH) e Afonso Paulino presidia o Atlético, a Ação de Retrocessão foi tramada. Muito bem tecida, sem deixar pontas. Comentários circulavam pra todos os lados, sobre a ousada façanha atleticana.  Mas esses comentários não tiveram nem um milionésimo do alcance que teriam com os grupos sociais da Internet.

Lamentável. Hoje, um esquema destes não teria a mínima chance de êxito.

Desculpem-me os seguidores do Google, mas não voltarei a este tema.

 5. FELIPE CONCEIÇÃO – Na última coluna aplaudi a escolha do novo treinador, como fez a maioria dos 40 grupos dos quais participo, e comentei que pelo passado dele e o nosso presente, era um dos nomes mais certos. Qual passado? Que título ganhou? Perguntaram aves de rapina de plantão. Com 41 anos e tendo atuado em apenas cinco clubes, está começando uma carreira, mas já firmou suas digitais num perfil disciplinador, inovador, motivador, principalmente na formação de equipes jovens e cascudas. Ainda não colheu títulos.  Mas deixou, além de um trabalho mais que positivo, admiração e respeito por onde passou. Tem tudo pra dar liga no Cruzeiro, se encontrar o cenário favorável para trabalhar como sabe e já provou. Que seja blindado de nossas mazelas.

6. Sem Paciência (para ocultar mágoas passadas?) vê ambiguidade na Nação Azul em incluir nas nossas “páginas heroicas e imortais” os títulos conquistados nas administrações de Gilvan e Wagner Pires. Em primeiro lugar, é cruel e injusto colocar Gilvan ao lado de Wagner. Em segundo, as falcatruas que agora estão na Justiça Penal foram cometidas fora de campo. No gramado, meu caro Sem Paciência, os títulos foram conquistados com raça, categoria e muito futebol. Batendo o então “imbatível” Corinthians no Itaquerão, e o Flamengo no Maracanã. Limpamente, na bola! Inesquecível!

7. Galo Doido New York prometendo doar 1.000 cestas básicas para a Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte onde tenho o privilégio de ser conselheiro desde 2004 (com diploma!). O título de Melhor Clube Brasileiro do Século 20 é apontado em pesquisa do IFFHS sediado em Bonn, na Alemanha, e reconhecido pela FIFA. O Instituto parece ter por norma não fazer solenidades e nem entregar troféus aos ganhadores, até porque, se fizesse não teria tempo para mais nada, pois continuamente faz e divulga pesquisas anuais nas Américas, na África, na Europa e na Ásia. Pouco antes da virada do século, divulgou a sua pesquisa, declarando os seus parâmetros para aqueles findantes 100 anos, e o Cruzeiro foi colocado, no Brasil, como o Melhor Clube. Precisa de troféu?

Agora faça uma boa ação: compre as 1.000 cestas básicas e entregue ao Dr. Saulo Levindo Coelho, provedor da Santa Casa. Ele consegue ser mais atleticano do que você.

8. Felipe Santiago, com toda razão, clama por um estatuto moderno, isento. Este é o desejo de todo cruzeirense que coloca o Clube acima de seus interesses pessoais. Para isto é imprescindível o amplo debate, sem afogadilho, com transparência, comparando-se as várias sugestões. E, o mais importante, sem casuísmos.