HABEMUS?

(Por Rafael de Novaes Rocha)

Pode ser que no momento em que você esteja lendo este texto, o Cruzeiro já tenha anunciado seu novo treinador para o restante da temporada. Não é o meu caso. Escrevo no mesmo contexto de indefinição e incógnitas que nos permeia desde a surpreendente demissão de Pepa, na última terça-feira, 29. Tão surpreendente que já tinha até escrito o meu desabafo contra a equipe chocha do ex-mister.

Corro, assim, um grave risco: o de minhas palavras ficarem rapidamente defasadas. O primeiro print de Samuel Venâncio anunciando nosso novo técnico que for disparado nos grupos de Whatsapp mundo afora já é capaz de tornar tudo o que escrevo ultrapassado.

Mas eu assumo o risco!

Na verdade, trata-se de um risco milimetricamente calculado. A diretoria cruzeirense está tão perdida quanto o torcedor. Sabe tanto quanto nós quem assumirá o Cruzeiro até o fim do ano. E é bastante improvável, conhecendo o primor no planejamento desportivo do Cruzeiro-SAF, que pintem na Toca nomes gabaritados como os que a torcida insiste em sonhar. O sonho é com Tite e Gallardo, mas é muito mais provável que acordemos com Autuori e/ou Alex – sim, aquele Alex, o Talento Azul.

Porém, a pergunta que deveria ser feita a Pedro Martins e aos demais gestores de Ronaldo é a seguinte: se não havia um nome pronto na manga, por que, então, demitir Pepa?

É certo dizer que o time vinha num declínio há algum tempo, sem dar indícios que sairia facilmente daquela estagnação insossa. Mas será que essa indefinição é melhor do que seria manter Pepa? O que é melhor, ter alguém no comando, mesmo que capengando nos resultados, ou não ter ninguém, e nem ter sequer uma perspectiva de quem comandará o time até o fim do ano, durante um longo segundo turno de campeonato.

Há erros demais no planejamento do Cruzeiro de 2023. Principalmente para uma diretoria que frequentemente enche a boca para se autoexaltar, com a pompa de gestores profissionais e corretos. A falta de comando é preocupante; a falta de perspectiva de comando é de tirar o sono.

E projetando a sequência final de temporada cruzeirense, cito o nosso ex-jogador e mestre dos investimentos, William Bigode: a questão agora é orar…

BATE PAPO NO QUINTAL

1. Pepa – Considero a passagem do português pelo Cruzeiro como regular. Ele chegou em um momento turbulento e logo ajeitou o time. Tirou leite de pedra e ajustou bem a defesa. Teve uma boa largada no Brasileirão, mas passado o primeiro terço do campeonato, estagnou. Um time ajeitado que tinha claras limitações técnicas dos jogadores, e não táticas. Mas essa história de “joga bem, mas não ganha” começou a se alongar demais. Passamos a não ganhar de mais ninguém. A paciência foi acabando com os pontos perdidos de forma frustrante no fim das partidas. O time já não produzia mais nada. E naquele jogo horripilante contra o Grêmio ficou claro que nem mais os jogadores tinham esperança no trabalho de Pepa. O corpo mole de jogadores que já não têm tanta técnica assim resultou numa sapecada por 3 a 0 – fora o baile e os dois gols anulados. O portuga não perdoou ninguém em sua coletiva e isso o custou seu cargo.

2. Fumaça branca na Toca? – tiros no escuro e especulações tomaram conta do noticiário esportivo desta quarta-feira, 30. Choveram clássicos e batidos jargões jornalísticos: “Cruzeiro especula o nome de fulano“; “Cruzeiro monitora beltrano“. Verbos vazios que não dizem muita coisa. O meu favorito: “Cruzeiro analisa o nome de sicrano“. Seja lá o que isso signifique.

3. Família, família; opiniões futebolísticas à parte – despeço-me hoje traçando uma linha imaginária entre as abobrinhas que defendo e as que serão, a partir de agora, proferidas agora pelo dono deste QUINTAL. Temos opiniões divergentes sobre os últimos acontecimentos. Por isso repito: não me responsabilizo por nada que for escrito de agora em diante!

4. Pepa/2 – A saída de Pepa, quando se analisa o futebol como um todo, traz à tona a discussão sobre a abrangência e a importância do tema “vestiário”: ali se distribuem camisas, satisfações e decepções, tudo refletido em gestos sutis, olhares penetrantes. Exige-se tradutor experiente e atento. Rogério Ceni falhou feio neste quesito. Pepa também. Faltou sensibilidade até pra ouvir a voz da torcida, que às vezes acerta.

5. Juliano Damien – volta com abrangente histórico sobre a queda do Cruzeiro na tabela, após promissor início. Tal como a maioria, aponta o descompasso surgido entre treinador e jogadores como uma das principais causas. Esta situação explodiu em Porto Alegre, contra o Grêmio, quando finalmente “a vaca foi para o brejo”.

6. Lucas Silva – Um dos argumentos que, de início, mais me chocaram na comparação técnica favorável ao Grêmio contra o Cruzeiro foi o de que Lucas Silva, descartado pelo time gaúcho veio e se tornou um dos melhores nossos. É fato, e chocante à primeira vista. Depois, você analisa: O Grêmio também estava há cinco jogos sem vencer; um volante ou meia ir para o banco às vezes é circunstancial; A opção de Lucas Silva em voltar para o Cruzeiro, com salário menor, tem a ver com berço, raízes, família. E, finalmente, com o que está mostrando em campo vários Clubes iriam querê-lo. Inclusive o Grêmio.

7. Bernard José de Assis tripudia, com razão, sobre o “domingo duplamente terrível” para a Nação Azul, começando à tarde, vitória do Atlético na inauguração da Arena e culminando à noite, com a tamancada que levamos no Sul. Em diálogo matinal com amigos era sempre abordada a expectativa da chamada “tempestade perfeita”, que seriam esses mesmos resultados, só que invertidos. Depois, achamos que era querer demais e passamos a desejar apenas um resultado perfeito. Seja em BH ou em Porto Alegre. Os secadores (nossos) pifaram…

8. De quem é o Quintal? – O complemento “do Dalai” é mera placa indicativa, não de dono, mas de localização. Não é aquele quintal, nem o outro, é este! Foi imaginado assim mesmo, sem cerca para o cara chegar de qualquer ponto: pelos lados ou pelos fundos. Sugeriram “SALA” e eu preferi QUINTAL exatamente pela informalidade. Estou 95% feliz com os resultados. Cerca de 100 mil leitores, 90 grupos sociais, cada um com 100 a 500 participantes, recebendo a coluna. E o Bate Papo com a interação de gente Nota 10, engrandecendo o Blog e, quase sempre, deixando o blogueiro no chinelo pelo estilo elegante, o raciocínio arguto na abordagem de temas complexos ou controvertidos, mesmo sob a égide de paixão clubística.

A nota negativa fica com os poucos que, sob fakes, insistem numa linguagem chula, de desagradável leitura e que nos lembra – vale repetir – os tempos de ensino primário quando as genitoras eram sempre o alvo das ofensas mais pesadas. Recordo que iniciada a discussão um menino logo se antecipava: tenho duas mães: uma fica em casa, cuidando família; a outra é pra ficar na rua, na boca de cachorros…

A gente cresce, aprende e aprimora os filtros. Uns poucos mentalmente permanecem no primário.

9. Carlos Lima alerta: “Estamos mais próximos da Série B do que parece”. Com este aviso creio que há concordância geral. Todo cuidado é pouco e a torcida deve mesmo exigir a atenção da SAF. Discordo, porém, em dois pontos: o elenco não é “fraquíssimo”. Há bons jogadores que, ajustados em campo, renderão muito mais. Também não acho que devemos silenciar sobre nossos títulos. É animador que, apesar de tudo, em recente pesquisa conservamos a maior torcida mineira e também a maior fora do eixo Rio-São Paulo. Neste complicado presente que vivemos a força da reação, além da obstinação dos atores em campo e na direção, vem, também, das “páginas heroicas, imortais.” Aquelas que encheram de troféus nossas salas.

10. Ainda o título “calibre 37” – Fonte limpa da cúpula atleticana confidenciou-me que o “reconhecimento” de campeão brasileiro teve o seu dia D no jogo das Lendas, semanas antes, quando o Presidente Ednaldo Rodrigues, da CBD, foi convidado especialíssimo.

“Imagine se o Joe Biden ou o Rei Carlos III, antigo Príncipe Charles, vem para o jogo e a recepção é entregue não à um, mas aos 4-Rs! Uma troup fantástica foi pra Confins, outra na porta e pra dentro do hotel, uma terceira na entrada e interior da Arena MRV e, finalmente, “crème de la creme”, as boas-vindas num camarote presidencial que emocionaria sultões da Arábia.”

Foi neste ambiente de “Mil e uma Noites” que o presidente Ednaldo e seu grupo de assessores “ex-cordi” assistiram ao Jogo das Lendas enquanto recebiam doses sutis, subreptícias, mas poderosíssimas, de outra “Lenda” adaptada, recentemente, de fato ocorrido nos anos 30 do século do passado. Só faltaram odaliscas. “Era impossível resistir”.

Dois dias depois, a diretoria atleticana já recebia a fantástica notícia: “novos estudos” desbravaram o que estava oculto há 80 anos: o título conseguido pelo Atlético em 1937, disputado só com equipes do sudeste brasileiro e mais a Marinha, representando as Forças Armadas, valia sim, e porque não, como nacional. Que se danem o Grêmio, Internacional, Athletico Paranaense, Bahia, Sport, Remo e outros não convidados. Havia, ainda, a cereja do bolo: o agradecido Presidente Ednaldo avisava que mandou apressar “as conclusões” e o título seria outorgado, em mãos, um dia antes da estreia do time em jogo oficial na Arena MRV, para permitir a presença, na sede da CBD, de todos os magnânimos anfitriões 4Rs. Melhor, impossível.

“Assim se cumpriu e todos viveram felizes para sempre…”

GARIMPO

“Numa amizade tipicamente inglesa, a primeira coisa a ser eliminada são as confidências, e, pouco tempo depois, o diálogo.”

(Jorge Luiz Borges – 1899-1986 – escritor argentino)