MESQUINHARIA CELESTE

(Por Rafael de Novaes Rocha)

O Cruzeiro tinha tudo para ter um início de ano tranquilo. Reforços de peso, torcida empolgada e com boa vontade – disposta até a passar uma borracha no final de ano vergonhoso que tivemos. Tudo indicava para um começo de temporada promissor.

Mas não vem sendo. Longe disso, inclusive.

O Cruzeiro parece uma incubadora de crises. Toda semana aparece uma polêmica nova para requentar os tabloides desportivos. A imprensa joga contra? Pode até ser. É verdade que existe um certo prazer de boa parte da imprensa esportiva em ver o circo pegando fogo por aqui. Mas esse discurso não se sustenta sozinho.

É nítida a falta de comando dentro do clube. Toda informação vaza; tudo é motivo de crise. O clima não parece bom. Crises, picuinhas e novelas têm sido frequentes. E o desmando que não vem de hoje. Como esquecer do papelão da (não) demissão de Diniz no fim de 2024?

O cruzeirense está cansado de ter de lidar com factoides e manchetes que parecem ter sido tirados da coluna de Leo Dias, fofoqueiro profissional. “Ex de fulano faz post com indireta sobre situação do Cruzeiro no campeonato“; “Jogador faz postagem enigmática e deixa futuro em aberto”; “Após críticas, Sicrano troca a foto de perfil ostentando todas as taças que já ganhou em sua carreira (nenhuma por aqui)”.

O noticiário celeste anda muito irritante. Como se não bastassem os vexames e a falta de sangue do time em campo, somos obrigados a lidar com todo o tipo de mesquinharias. Ninguém aguenta mais.

Todos no comando do clube deveriam fazer uma autocrítica. Reconhecer o fracasso do projeto desportivo até o momento e recomeçar de novo. Dar as chaves do departamento de futebol ao português e fechar o grupo em torno de um projeto novo, desta vez, sólido e com um norte claro.

Imagino, inclusive, que esta já seja a tendência. Pedrinho já deu o recado: só fica quem estiver com vontade de ficar; jogador insatisfeito pode começar a procurar novos ares. A “pré-temporada 2” pode ser um momento importante para arrumar a casa. Ajeitar o time, identificar problemas no elenco (dentro e fora de campo) e consertá-los.

Encerro a minha participação neste democrático minifúndio com a esperança de que Leonardo Jardim dará um jeito no time e o campo falará mais alto que os problemas de fora dele. Mas para isso acontecer, o próprio Cruzeiro precisa colaborar. E a máquina das crises mesquinhas precisa parar de funcionar.

BATE PAPO NO QUINTAL 

1. Passeata na Savassi – Como é mais que natural nas torcidas, tal como Bolsa de Valores, há momentos de alta e de baixa. Na Barraca Atleticana isto é de solar visibilidade. Time tá ruim, some todo mundo deste minifúndio. Agora, com a classificação do time e a saída do Cruzeiro, vira antecipação do Carnaval. Blocos na rua, carreatas, mas com crítica geral ao blogueiro: quem falou em alivio atleticano com a eliminação do Cruzeiro?

Meus amigos, vocês de fato não falaram. Mas demonstraram, com o foguetório e os gritos de “Galo” nos condomínios. Por que isto? Se não for alivio, o que é então?

2. Bernardo quer aumentar a fervura:

“Dalai, você reparou na reação dos jogadores do Cruzeiro após o Cassio defender a cobrança de pênalti no tempo normal que mantinha o time vivo na disputa? Parecia que preferiam que ele tivesse levado o gol. Ninguém o abraçou.”

Bernardo, a coisa foi pior: este vídeo circulou junto com outro mostrando, em contraste, a intensa comemoração dos jogadores atleticanos quando o seu goleiro pegou pênalti batido pelo Tombense. O jogo já estava 2 x 0 e não faria a menor diferença se a bola entrasse.

Num primeiro momento a gente fica chocado diante da absurda disparidade de comportamento. Atitudes invertidas. Atenuado o impacto emocional, que geralmente nos cega ou distorce a realidade, percebe-se que, faltando um minuto ou menos pra terminar a partida, os jogadores se adiantaram pra tentar a virada, tanto assim que tínhamos um escanteio, quando houve o apito final o que gerou justa reclamação dos cruzeirenses. Quando Cassio fez a defesa, comemoraram de longe. Alguns com pulos e acenos.

3. João de Deus Filho, que já foi agraciado aqui com o troféu Guru da Racionalidade, teve o título contestado  ao embarcar nas fantasias do Menin sobre as dívidas do Atlético.  Pegou mal, aquele negócio de que “tudo agora está no meu CPF”. A realidade mostrava e mostra coisa bem diferente.

Nesta semana, tudo dando certo para o seu time e errado para o nosso,  João deita e rola no QUINTAL:

“…E eu fico pensando: se o dono do BH oferecesse uns 5 milhões pro Coelho, ele comprava todo o time. Economizava 395 milhões e ainda por cima iria participar da festa da final”.

Calma, João. Ainda estamos arrumando a casa e ajustando peças. Daqui a pouco vai dar liga.

4. Unforgettable –  Convém não esquecer que tudo poderia ser diferente se não houvesse a extraordinária colaboração do   “VAC” – VAR AMIGO CURITIBANO. 

5. Alexandre Mattos quebra silêncio e responde:

“Têm razão em criticar e cobrar… estamos todos devendo e muito… só peço pra retirar o Pedrinho disso… ele dá todas as condições e merece muito mais de todos… assumo minha responsabilidade… conheço bem o clube e sei o sentimento de vocês e onde temos de chegar… compartilho do mesmo… desculpem… agora é fechar a boca e trabalhar mais e melhor…”

Alexandre, dirigente de futebol experiente, tendo passado por vários clubes, vivenciando crises até maiores que esta, você está cansadíssimo de saber:

A. Nesta situação, também conhecida como vexame, o que a torcida menos quer saber é quem assume culpa.  João, Pedro, Antônio? Pouco vale.  É como porta arrombada: antes de procurar culpados tem de trocar o cadeado, recuperar o prejuízo. Interessa é o que fazer pra sair do buraco. Soluções propostas? Medidas efetivas já tomadas ou programadas? O que está sendo feito  pra unir este grupo, tirar essa apatia, diminuir fogueira das vaidades, crises de egolatria?

B. Espero que não apenas você e os jogadores, mas também o nosso querido gestor Pedrinho BH atenda à sua proclamação: “agora é fechar a boca e trabalhar mais e melhor…”

Incrível, apavorante a quantidade de vídeos vazados da nossa cozinha contendo comentários inadequados. Palavras soltas, sem filtro. Expressões ofensivas, depreciativas, sobre jogadores, diretores, pessoas etc.  As chamadas “piadas sem graça”, mas que a corte sempre aplaude. Há uma história antológica pra ilustrar o ridículo disto: Na sala do presidente de um banco, dez pessoas em pé riam abertamente de piada contada por ele. Menos um, sério, aguardando de lado. “Você não gostou?” perguntou um aflito assessor. “Não trabalho aqui, respondeu ele, vim apenas entregar um envelope.”

Os honrosos cargos de direção do Clube exigem, pra exercê-los, uma liturgia ainda que mínima. Absolutamente diferente da direção de empresas comerciais. Dinheiro não compra.

Por pouco tempo, estive lá. Senti e compreendi as responsabilidades de exercer a presidência do Cruzeiro. Tirei uma quadrilha de dirigentes com a colaboração imensa da Nação Azul. Depois, pela crise e a pandemia, passamos três anos no deserto. Agora, com a generosa e corajosa intervenção de Pedrinho, começamos a construir um oásis. Tempestades de areia ainda surgem. É natural.  Alexandre Mattos deu a única receita salvadora:  “fechar a boca e trabalhar mais!” 

Hoje, quem cochicha pelos cotovelos fala para o mundo, graças à internet.

GARIMPO

“Não entendo como alguns escolhem o crime, quando há tantas maneiras legais de ser desonesto.”

(Laurence J. Peter)