MUITO (MAS MUITO!) TRABALHO PELA FRENTE

(Por Rafael de Novaes Rocha)

A estreia de Leonardo Jardim no comando do Cruzeiro foi péssima.

Uma noite para ser esquecida. Lembrou os piores momentos do time de Diniz. Uma equipe sonolenta, sem repertório e vulnerável. O português terá muito trabalho pela frente. Ontem, em Sete Lagoas, ele teve noção do tamanho do desafio. Não será fácil implementar suas boas ideias. Mas, com paciência e confiança no processo, será possível.

A esperança é que o time de Jardim (já apelidado por aí de ‘a Jardineta’) seja mais parecido com o Cruzeiro dos quinze primeiros minutos do jogo, do que com o dos setenta e cinco restantes.

Com facilidade, abrimos o placar com Bolasie em boa jogada. E, em seguida, quase ampliamos. Mas a partir daí foi ladeira abaixo. Era nítida a falta de criatividade do time. Cruzamentos displicentes eram repetidos à exaustão e facilmente afastados pela defesa adversária. E, então, a bola puniu. Num erro bisonho de Léo Aragão, o Democrata acha o empate ainda no primeiro tempo e o jogo praticamente acaba.

Horrível.

As substituições não arrumaram o time e o estado do gramado também não ajudou. Um marasmo absoluto de boas jogadas. No fim do jogo, de novo, a bola puniu: num cochilo coletivo, os valadarenses viraram a partida.

O Cruzeiro já havia se classificado no último domingo, mesmo com a derrota para o Atlético. Sorte. Ontem, fechamos a fase de grupos com gosto amargo para coroar o desempenho abaixo da crítica no ano até aqui.

O português terá muito (mas muito!!!!) trabalho pela frente.

BATE PAPO NO QUINTAL

1. Titular no DM – O Departamento de Saúde do QUINTAL informa que o blogueiro titular teve de se ausentar das colunas desta semana por questões médicas. O quadro não inspira maiores cuidados, mas o afastou por alguns dias deste espaço democrático. Em breve estará de volta. Nesta coluna, o blogueiro titular contribuiu apenas com os itens 6 em diante do BATE PAPO (pelos quais não me responsabilizo), além da curadoria no GARIMPO.

A questão é quem voltará primeiro: Dalai ou Kaio Jorge? A ver.

2. Cruzeiro e América na semifinal – Com a derrota para o Democrata, o Cruzeiro amargou a sexta posição da classificação geral do Campeonato Mineiro. Não se classificaria no formato de anos anteriores. E ainda teve a mesma pontuação do próprio Democrata, que não conseguiu se classificar.

Ou seja, demos a sorte de integrar um grupo menos competitivo. Se não, o futebol patético cruzeirense até aqui nos levaria novamente à disputa da Taça Inconfidência. Terrível! Nosso adversário nas semis será o América, com vantagem deles. O custo de uma péssima campanha na primeira fase.

3. Tostão acerta, como de costume – Tostão repercute o clássico em sua coluna na Folha de São Paulo e mostra porque é um craque, também, da escrita:

“A grande magia do futebol é unir arte e ciência, o planejamento e a imprevisibilidade, a certeza e a incerteza. Se o árbitro tivesse expulsado o zagueiro Lyanco após pisar no braço de Dudu, no clássico entre Cruzeiro e Atlético-MG, a história da partida tinha tudo para ser diferente por causa da grande vantagem de ter um jogador a mais. A maioria das pessoas opinou a favor da expulsão de Lyanco, no que concordo.”

4. Carlos Lima levanta questão pertinente sobre a paciência excessiva da torcida:

“Eu gostaria que o Alexandre Mattos viesse a público explicar porque o Cruzeiro, que investiu mais de R$ 400 milhões em “reforços” desde julho/2023, está no 6º lugar geral em um campeonato rural com 12 disputantes (na verdade só 2). Estamos atrás de Atlético, América, Athletic, Betim e Tombense e o cara vem e dá uma declaração ridícula como aquela? Colocar culpa no árbitro, no VAR, na FMF só mesmo pra enganar torcedor otário que acha que o Cruzeiro vive de se comparar com as Frangas. Pra cima de mim não, violão! E eu não vejo nenhuma crítica a esse cara? Isso é uma piada!”

Concordo, Carlos.

Me impressiona a falta de senso crítico da torcida cruzeirense com Mattos. Inclusive, foi vexatória a cena dele tentando intimidar a equipe de arbitragem na sala do VAR. É muito longe da postura que um dirigente sério deve ter. Bravatas que não levam a lugar algum.

5. Ainda sobre o clássico – A FMF acatou o pedido do Cruzeiro e liberará os áudios do VAR no clássico. Com as seguintes condições: a Federação reproduzirá os áudios a representantes do clube em reunião fechada, sem a intenção de tornar público o conteúdo da conversa entre árbitros.

Afinal, a quem interessa a falta de transparência da arbitragem mineira?

6. Fala Sério, escrevendo segunda-feira, nos brindava com texto antológico. Amargo pra cruzeirenses. Analisava e criticava a atuação de nossos ídolos maiores: Cassio, Matheus Pereira e Gabigol. Expunha verdades duras, irrefutáveis. Não foi muito longe. No meio da caminhada deixou cair a máscara e apresentou suas digitais: classificou como “acidental” o pisão de Lyanco em Dudu.

Acidental, meu caro Fala Sério? Assim você fica longe de falar realmente sério. Lyanco não havia participado do lance, mas se aproxima de Dudu caído. Poderia ir pra direita ou pra esquerda. Opta, porém, por passar por cima do corpo do adversário… Se isto não é má intenção, não entendo mais nada de Direito.

7. Manguinhas de fora – A vitória atleticana, mesmo na Mão Grande, tirou da moita os ressabiados, orelhas murchas, que temiam a desclassificação antecipada do time. Um foguetório no centro sul da cidade, buzinaço em passeata na Savassi.

Calma, meus amigos. Foi um jogo atípico. Até a justa expulsão de Gabigol havia equilíbrio com ligeira ascendência azul.

8. Lyanco – O zagueiro atleticano promete fortes emoções nos próximos jogos. Se nascesse no Velho Oeste seria um aprendiz desajeitado de Django. Após o indecente, imoral e proposital pisão no braço de Dudu passou a responder com gestos homofóbicos às provocações da torcida. Findo o jogo, entrevistado, confirmou tudo.

Está parecendo que vem aí um Xerife-Trapalhão. Até pra bater lateral mostra que não leva desaforo pra casa.

A conferir.

9. A velha FMF – Daria uma obra de vários volumes o histórico dos títulos de campeão mineiro conseguidos pelo Atlético na Mão Grande. Algumas finais com times do interior deveriam ser casos de polícia. Assalto à mão armada, ao meio dia. Como a presidência da FMF é um feudo familiar, a saga continua e os episódios de favorecimento vão se sucedendo como vimos domingo, no lance envolvendo Lyanco e Dudu.

No início da semana, a divulgação de novas filmagens em ângulos diferentes mostrou ação de Hulk deslocando Fabricio Bruno, na jogada do segundo gol. Pode ter sido falta, ou não. O VAR-AMIGO-CURITIBANO impediu o exame. Alguém duvida que se o lance fosse em jogada resultando em gol do Cruzeiro o VAR manteria silêncio?

10. Flávio Nogueira embarca na versão de que Dudu, estranha e loucamente, enfiou o braço debaixo da chuteira de Lyanco:

“… simultaneamente ao momento em que Lyanco vai tocar o pé no chão o cruzeirense aproxima o braço do corpo e ocorre a pisada, ou seja, houve AÇÃO DOS DOIS para que acontecesse o fato.”

Meu caro Flávio, bem-vindo ao Bate Papo. Esta tese, encampada também por Leonardo Gaciba, não se sustenta pelas seguintes razões:

I. Dudu foi ao chão em jogada com Natanael. Só os dois no lance;

II. Lyanco se aproximou enquanto Dudu, pra se levantar, trazia pra frente o braço direito, em apoio natural. Parece nem ter visto o zagueiro;

III. Lyanco, com o corpo do jogador à sua frente, poderia desviar pela direita ou pela esquerda, como seria o procedimento normal, mas preferiu passar por cima;

IV. Nesse movimento e sentindo que atingia o braço do adversário poderia interromper o passo, como se faz quando não se quer pisar em algo;

V. Lyanco, entretanto, mostrou sua intenção induvidosa: manteve o pé direito amassando o braço de Dudu, aprumou o corpo e sustentou elevado o pé esquerdo, jogando assim todo o peso de seu corpo no pisão. Sem pressa.

11. Rafael Sobis é mais um que acusa Lyanco:

“Pelo movimento corporal é possível inferir que a atitude foi tomada de maneira proposital. Os jogadores jogam com as pernas. Se existe uma coisa que o jogador controla é a perna. Ele consegue tirar, se quiser. Nesse lance, ele pisou sim. O corpo mostra.”

GARIMPO

“Nada mais Z do que um público classe A.”

(Caetano Veloso)