PEÇAS DE XADREZ

Você se recorda: houve um tempo, não distante, que o time do Cruzeiro era formado na base do “menos pior”. O raciocínio tinha de fazer curva pra encontrar alguém em condições de compor o 11 titular. Jogo em curso, escancarado o desentrosamento, surgia a necessidade de mudança. A gente olhava para o banco. Quem? Ninguém! Era sempre trocar 6 por meia dúzia, com larga chance de piorar. Foi a época em que comemos o pão que nem o diabo amassou.

Em Lamentações (3.22-23) está o alento de que “não há mal que sempre dure”. Não há mesmo. A roda gira e as coisas, naturalmente, começam a procurar seus lugares de origem. Parece estar acontecendo isto com o time de 13 milhões de torcedores, Maior de Minas e fora do eixo Rio-São Paulo. Pouco a pouco, corrigindo ali, reajustando lá, o Cruzeiro vai se tornando um time digno de vestir a camisa mais bonita do futebol. Agora temos opções animadoras no banco, algumas, a meu ver, já com passaporte visado pra entrar no time e não sair mais, como o volante da seleção equatoriana Cifuentes. Larcamon tem de quebrar a cabeça pra lhe encaixar no nosso meio campo, sem tirar nenhum Lucas. No ataque, infiltrar Álvaro Barreal. Ele foi um dos melhores do Sub-23 argentino na temporada 2023/24. Não sei como, mas Larcamon ganha bem pra saber fazer isto.

BATE PAPO NO QUINTAL

1. Torcidas únicas – Tanto sábado próximo, na Arena MRV, quanto no domingo, 7 de abril, no Mineirão, teremos torcida única para a decisão do campeonato mineiro. Isto, em outras palavras, significa a confissão de que em pleno século 21, com os avanços miraculosos na área cibernética, na astronomia, na nanotecnologia e na qualidade de vida, no futebol somos ainda trogloditas.

2. Arbitragem, Federação Mineira & Atlético – Trio harmônico há décadas! Afinadíssimo. Embora especializado em golpes sutis, quase imperceptíveis, não dispensa assalto à mão armada, em caso de necessidade. O episódio que recordei aqui, ocorrido na administração Francisco Cortes, nos idos dos anos 50 (bola no freezer), foi me relatado, nos anos 80, por testemunha presencial. Não tinha porque mentir. Iguais a este, quantos mais? E quando a disputa final do título se deu contra time do interior? A relação é enorme e até recentemente aumentada. Isto se chama absurdo!

3. Roberto Cardoso de Sousa não tendo como encarar, de fato, a sucessão de garfadas que resultou em títulos mineiros para o Atlético apela e lembra de Benecy Queiroz, autor de uma piada sobre jogo amistoso inexistente, e que os atleticanos teimam em transformar em jogo oficial real. Meu caro Roberto, reveja as disputas finais do Atlético, sobretudo contra equipes mais modestas. Assalto ao meio dia. Explicar batom na cueca é mais fácil do que defender “aquelas” arbitragens.

Sobre Benecy Queiroz, um dos mais longevos e eficientes servidores do Cruzeiro, digno de nossa admiração e respeito, os atleticanos procuram com ele o chamado “efeito da verdade ilusória”, a crença de que informações falsas, pela intensa repetição, tornam-se verdadeiras. Em sua coluna na Folha de domingo, Hélio Schwartsman aborda o tema e cita o livro que esgota o assunto: “Look Again” (Olhe de novo), de Tali Sharot e Cass Sunstein.

4. Paulo Augusto ajuda a refrescar a memória dos atleticanos:

“… E o título de 1984, quando o Atlético levou uma lambada de 4, descontou de 1, na volta, e não aceitou perder, mesmo estando o saldo de gols no regulamento…”

5. Brasil em Wembley – 1 x 0 sobre a Inglaterra. Dorival Junior estreou com nota 10 no comando da nova seleção brasileira nos devolvendo a emoção de torcer. Não sei há quanto tempo não víamos uma seleção de verdade! Um monte de caras novas, pra quem não acompanha o futebol europeu, mas apresentando futebol vistoso, que restaura esperanças. Difícil acreditar que só tivemos dois treinos antes desta partida. De louvar-se, a coragem de encarar um grande desafio logo no primeiro teste.

Assim como Dorival Junior fez surpreendente garimpagem pra montar a nova seleção, o Cruzeiro também descobriu Dorival em 2007, sendo valiosa escada para sua projeção nacional. Até então ele havia comandando o Figueirense, Sport, Avaí e São Caetano.

6. A natureza grita – Em 1956, o cineasta Nelson Pereira dos Santos lançou filme sobre costumes cariocas tendo como cursores cinco garotos favelados vendendo amendoim pela cidade. Para projetar uma região escaldante deu ao filme um nome que, à época, anunciava incêndio: Rio 40º.

68 anos depois, a sensação térmica no mesmo Rio de Janeiro atingiu, semana passada, 65º. Absurdo.

Como não pode falar, a natureza grita mostrando o acelerado degelo nos polos, a extinção de biomas por inanição. Ela também não pode sacudir o homem para acorda-lo, mas aumenta o seu desconforto elevando a temperatura em níveis impensáveis meio século atrás. O que estamos fazendo com a Terra? Se ela pudesse avaliar o comportamento de cada de um de nós, que nota teríamos nos quesitos: lixo, consumo de água potável, preservação de áreas públicas, poluição ambiental, conservação de florestas?

7. Ainda na área do non sense – Para espanto do mundo, divulgado o salário do atacante Mbapee no PSG, de onde está saindo (?): 32 milhões de reais por mês.

8. Augusto – Sexta-feira à noite, quando o Sada-Cruzeiro foi a São José dos Campos enfrentar o time da casa, na última rodada da Superliga Masculina de Vôlei e venceu por 3 x 0, fiquei pensando na campanha de Augusto pra projetar mais esportes alternativos como purrinha e cuspe à distância a serem disputados pelo Cruzeiro. Tudo pra desqualificar a nossa hegemonia no vôlei, agora também no futebol feminino, daqui a pouco no futsal. O Sada-Cruzeiro encerrou a última rodada com 59 pontos, 20 vitórias e uma derrota, enquanto o segundo colocado, São José, chegava apenas a 47 pontos, com 17 vitórias e 4 derrotas. Larga margem de vantagem azul. O Feminino acaba de assumir a liderança ao vencer o Internacional por 3 x 1, sábado, com direito a gol olímpico de Byanca Brasil. Mais espinho na garganta do Augusto. Vem aí mais esportes alternativos. Será mesmo o tênis de quadra? Meu caro, aceita que dói menos.

9. João de Deus Filho filosofando:

“O tempo passa e o torcedor azul já está próximo de comemorar cinco anos sem títulos. Não me lembro de ter ficado 5 anos sem comemorar algum título. Nem me lembro de ter passado três anos na segunda divisão”.

Meu caro João de Deus e você se lembra de outra pandemia? Recorda-se de outro Clube que, semanas antes da pandemia percebeu que fora arrasado por um tsunami interno? Reflita.

Quanto a não se recordar de passar cinco anos sem títulos, depende da qualidade desses “títulos”. Desculpe-me, mas durante décadas a gente cantou nas arquibancadas: “Não ganha nada, time sofredor…”

E, por anos a fio, a piada recorrente durante eleições: “Atleticano não pode votar porque não tem título…”

João, três gotinhas de Memoriol, de manhã. Também tomo.

10. No nervo exposto do dente – Fred Melo Paiva lembrando que o Cruzeiro entrará desfalcado de Felipão no jogo contra o Atlético.

11. Presidente de clube & Sócio majoritário de SAF – São de espantar as queixas de Pedrinho, presidente do Vasco, sentindo-se “isolado” e tendo “relação fria” com os gestores… Ótimo jogador em campo, bom comentarista na TV, Pedrinho mostra incrível desconhecimento da nova realidade administrativa dos clubes que se tornaram SAF. Quanto a tomada de decisões sobre o time, o valor do presidente eleito pelos conselheiros do Clube é o mesmo de um canivete sem lâmina que perdeu o cabo.

12. Opção pelo Brasil – Dois jogadores convocados por Dorival Junior têm dupla nacionalidade e optaram pelo nosso país: Andréas Hugo Hoelgebaum Pereira nasceu em Duffel, Bélgica e já defendeu seleções de base belgas. Começou no Manchester United, passou pelo Flamengo e hoje joga no Fulham. Galeno, luso brasileiro, já esteve em pré-listas da seleção portuguesa. Andréas entrou nos últimos 15 minutos contra a Inglaterra, com decisiva participação no lance que resultou no gol de Endrick.

GARIMPO

“Estupidez é saber a verdade, ver a verdade, mas ainda assim acreditar na mentira.”

(Richard Feynman)