QUARTA-FEIRA, 19H, REENCONTRO AZUL

Será em Campinas, contra a Ponte Preta, o primeiro jogo com passaporte carimbado pra elite. Após 2 anos beirando a Série C, comendo o pão que nem o diabo amassou, o Cruzeiro bate recordes: de público, de renda, de sócio torcedor, de melhor desempenho na Série B em todos os tempos, primeiro a subir com sete rodadas de antecedência. Inusitado, também, o noticiário internacional. Cadernos esportivos de vários países, americanos e europeus, dando destaque ao acesso antecipado, transcrevendo mensagens de apoio enviadas por galáticos. Óbvio que muito se deve ao prestigio do gestor Ronaldo, mas é inegável a força do nome Cruzeiro além de nossas fronteiras, mesmo após o tsunami interno. Assumindo o Clube na segunda quinzena de dezembro de 2019, algumas semanas depois tive o desprazer de ser informado da realização de seminários e conferências na Europa, sobre corrupção no futebol, patrocinados pela FIFA, nos quais o “case” mais destacado era o Cruzeiro. Doía ver nas fotos da programação o escudo estrelado, motivo de orgulho para milhões, simbolizando atos vergonhosos, inacreditáveis.

Agora, a impressionante repercussão que se dá à mera conquista da garantia de acesso antecipado, tem a meu ver um sentido sublinar: sinaliza de esperança o retorno à grandeza que nos foi arrancada. É como se dissessem: “vão em frente, acreditamos em vocês! ”.

O Cruzeiro, após passar o que nenhum clube grande do mundo passou (Tsunami & Pandemia), amargando 3 anos na B, volta sem tapetão. Sem favores. Sem jeitinhos. Junta os cacos e se levanta por seus próprios méritos, também de uma forma que nenhum outro voltou no Brasil. É mesmo de chorar de emoção como milhões fazem em todos os cantos de Minas.

Do lado atleticano, mal disfarçam o espanto pela repercussão internacional. Aumentam o grau de gozeiras, requentam piadas. No fundo, o pavor de identificar prenúncios de novo ciclo de protagonismo azul. Meio século, de novo? A roda gira bem mais devagar do outro lado da lagoa.

BATE PAPO NO QUINTAL

1. Matando a saudade – A Grande BH e 70% das regiões mineiras estão de novo pincelando de azul a vida, desde o memorável retorno à Série A. Dá gosto ver ressurgir entusiasmo e esperança de terras tornadas áridas pelos desastres sofridos. Nas casas cruzeirenses, ninguém conseguiu dormir na noite de quinta-feira. Impossível, porque a alma explodia. Dois anos e meio de desastradas tentativas de recuperação encontraram finalmente o rumo certo, graças à força da Nação Azul e ao surpreendente feeling empresarial de Ronaldo pra formar equipes dentro e fora do gramado.

2. História de amor – Adolescentes, Valtair, com 16 anos, e Vanete, 14, começaram um namorico nas praças de Caeté. Paixão comum pelo Cruzeiro alimentava a atração. Estávamos em 1993. Anos depois se casaram e foram muito felizes. Com uma constante: o melhor lazer, pra ambos, era o Mineirão cheio de azul estrelado. No inicio de fevereiro, Ivanete pegou a tabela da Série B. Ao lado de Valtair analisou os jogos, abriu espaço para os sonhos e cravou: “O Cruzeiro vai subir contra o Vasco. E nós vamos juntos ao Mineirão. ”

Diagnosticada com câncer de endométrio, aos 43 anos, Vanete morreu dia 3 deste mês.

Quinta-feira, pela primeira vez depois da perda, Valtair saiu de casa. Reuniu as forças que ainda lhe restavam e pegou estrada pra BH. Entrou no estádio com uma aliança na mão esquerda e outra, pendurada no pescoço.

(Estado de Minas, de 23/09, extraído de reportagem de João Vitor Marques).

3. Procópio Cardozo, advogado, fazendeiro, blogueiro de sucesso, conectado com o mundo, nos gramados já foi Xerifão de zaga. Teve o privilégio de brilhar com a camisa do Cruzeiro e do Atlético. Indeléveis marcas de admiração e respeito por onde passou. Depois do jogo contra o Vasco, escreveu:

“O Cruzeiro foi o clube mais roubado da história. Um caso único no futebol mundial. E agora está voltando à 1ª. divisão como exemplo de gestão. O resto é dor de cotovelo. ”

Vale a repetição, pra favorecer a reflexão: “Um caso único no futebol mundial”.

Sempre bati nesta tecla: uma série de circunstâncias gravíssimas, particulares e gerais, fez do Cruzeiro “caso único no futebol mundial”, como anota Procópio. O Clube estava com os cofres arrombados, no segundo semestre de 2019, e naufragava num amontoado de contratos criminosamente arquitetados, quando a diretoria não se aguentou e caiu. Assumi a presidência e em janeiro, pela primeira vez na Série B, o Cruzeiro reunia os cacos pra tentar se levantar, quando a pandemia parou o mundo. Caso único, no planeta.

4. Pepe Legal, curto e grosso:

“Atura ou surta! Cruzeirão na A”

5. Luiz Barcelos preocupa-se com bem-estar de José Antônio e adverte: “Inveja mata! ”. Como não há argumentos contra fatos, lembra:

“Em termos de presença nos estádios só fomos superados por Palmeiras e Flamengo. Quebramos recordes sobre recordes em público, no Mineirão. Mas não vamos tripudiar o lado obscuro da Lagoa que nem em jogo decisivo da Libertadores conseguiu superar os cruzeirenses em jogo comum da Série B.”

Calma, José Antônio, não se deve dar murro em ponta de faca.

6. Jorge, com a habilidade de malabarista, embaralha palavras, lança sinais de fumaça e, no final, disfarça a estocada: dá parabéns pelo acesso e deseja que ele seja “o primeiro de muitos…” Vade retro! Não queremos outros acessos. Guarde a água pra você batizar outros chopes!

7. Perdidos & Achados – graças a um hacker de Nova York este QUINTAL teve acesso às últimas mensagens de Galo Doido que, em companhia de um Guru, faz terapia nos jardins do Central Park, desde que o barco atleticano começou a apresentar rachaduras no casco. Auto cancelado, após o jogo com o Avaí, ele consulta o Conselho de Sábios da Grande Bom Despacho. Pergunta se há esperança. Em mensagem cifrada, o Conselho manda a resposta: “Enquanto tem bambu, tem flecha”.

8. Campeão de tudo – O time de vôlei masculino do Cruzeiro sagrou-se pela quinta vez Super Campeão Brasileiro vencendo o Minas Tênis na manhã de ontem, em Recife. Foram três sets a zero, com 10 mil presentes no Ginásio Geraldão. Agora se completam 44 títulos em 60 campeonatos disputados. Dentre eles está o de bicampeão do mundo.

GARIMPO

“A televisão matou a janela”.

(Nelson Rodrigues)