RÁPIDO E RASTEIRO

(Por Rafael de Novaes Rocha)

Partida de almanaque contra o líder do campeonato. 3 a 0, fora de casa, no temido tapetinho botafoguense. O Cruzeiro venceu e convenceu. E o momento de crescente vem em boa hora. O mês de agosto será definitivo para o restante do Brasileirão. Os torneios mata-mata voltam para suas fases finais e, por conta de um calendário mal planejado, os principais times do Brasil devem dividir suas atenções em três frontes: pontos corridos e copas nacional e internacional.

Felizmente, não precisaremos dividir tanto as nossas forças. Há males que vêm para o bem. O Cruzeiro poderá se dar ao luxo de ter semanas inteiras de treinamento, enquanto seus adversários diretos na briga do G4 encontram-se com a agenda atribulada. Períodos importantes de descanso, respiro e ajustes.
Naturalmente, gostaria que os nossos compromissos de agosto incluíssem as oitavas de final da Copa do Brasil. Não custa lembrar a vexatória e precoce eliminação para o Sousa da Paraíba. Com a assinatura do nosso antigo treinador, Nico Larcamón, o colecionador de vexames. Porém, analisando o copo meio cheio, semanas inteiras de treino servirão para deixar o time ainda mais azeitado e inteiro fisicamente.

Tempo importante para que o comandante Seabra consiga colocar em prática suas boas ideias. Algo que já é uma realidade. Hoje temos um padrão de jogo de encher os olhos – ofensivo e propositivo. A equipe de Seabra trata a bola com carinho e respeito. O primeiro gol contra o Botafogo saiu de uma construção paciente e inteligentíssima. Quase um minuto de um toque de bola envolvente até o gol. Dá gosto de ver. Como diz o velho ditado: rápido e rasteiro, como o ataque do Cruzeiro.

Em agosto, a esperança é que o Cruzeiro confirme que o bom futebol não é esporádico. Temos grandes desafios pela frente. Nosso adversário nas oitavas da sula será ninguém mais, ninguém menos que Boca Juniors. Uma antiga pedra nos sapatos cruzeirenses. Para os que estavam com saudades dos grandes jogos, está aí, confronto maiúsculo. Para coroar o bom momento.

Iludido? Talvez. Com medo? Sim. Confiante? Com toda certeza!

BATE PAPO NO QUINTAL

1. Botafogo 0 x 3 Cruzeiro – não é exagero dizer que esta foi a melhor partida que fizemos em muitos anos. Isso levando em conta o tamanho do jogo, qualidade do adversário e o futebol apresentado. Alguém discorda?

2. Cássio volta a sorrir – falando em coisas outrora raras, é nitida a felicidade de Cassio. Após a grande exibição contra o Botafogo, nosso goleiro exibia um sorriso que ia de orelha a orelha. Estava em falta em seus últimos meses de Corinthians. Além disso, deu uma importante declaração em apoio ao trabalho de Seabra. É um verdadeiro líder. Fico imaginando a dor de cotovelo corintiana com a felicidade de nosso paredão. Não deve ser fácil.

3. Espírito olímpico – não custa lembrar que o atual elenco do Cruzeiro conta com três medalhistas olímpicos. Wallace e William ganharam medalha de ouro em 2016, no Rio; Matheus Henrique foi ouro em 2021, nas olimpíadas de Tóquio.

4. Sem responsabilidade – fico por aqui. A partir de agora, declaro para todos os fins que não tenho mais responsabilidade alguma sobre o conteúdo dos próximos tópicos, de autoria do blogueiro titular. Um abraço e que agosto seja um mês estrelado!

5. Ronaldo & penas da galinha – Naqueles tempos nebulosos de transição, com a escapada de SSR pra São Paulo, fechando o negócio de madrugada, surpreendendo a todos (inclusive a comissão nomeada por ele para assessora-lo), as notícias sobre o Cruzeiro vinham a conta-gotas, liberadas pelos senhores de plantão. A gente sabia o que eles queriam que a gente soubesse. Isto não é novidade nas SAFs. 

Desses tempos que não vão deixar saudade, ficou a famosa metáfora usada por Ronaldo, mesmo após 3 meses dissecando o Clube: “A gente abre gaveta puxa uma pena e sai uma galinha…”

Muita gente condoeu-se pelo estoicismo de Ronaldo, seu sacrifício até pessoal em “salvar o Cruzeiro”.

Venho reiterando neste minifúndio que só “ o tempo, senhor da razão” vai descortinar a verdade nas SAFs, onde realmente o valor das transações impõe compreensível sigilo.

Com Ronaldo, o tempo, fatal, inexorável,  começa a cumprir seu papel: abre gavetas, mostra penas. Imagine, meu corajoso leitor e persistente leitora (licença, Juca Kfouri): o próximo jogo do Cruzeiro pelo campeonato brasileiro será dia 5 de agosto, segunda-feira, às 21h, contra o Fortaleza (4º Lugar, separado por um ponto). Sabe onde? Em Cariacica, no Espírito Santo. Sabe o porquê?  Ronaldo vendeu o mando de campo.

Representantes do novo gestor estão na CBF tentando desfazer a galinhada.

6. Fala Sério –se impôs rigoroso recolhimento desde que o Atlético virou saco de pancadas. Agora, time voltando a vencer, e cutucado no seu refúgio, reaparece lançando uma novidade: “férias estratégicas…”

Meu caro Fala Sério, não se apoquente. Você viu que de uma dessas pancadas nós já demos o trôco.

7. O áudio do Pedrinho – Você ouve e a primeira reação é a de que  a vaca tá indo para o brejo. Aquilo é tudo que dirigente não deve fazer. Arrasa a autoridade profissional do  treinador. Como é que ele vai escalar o time agora? Terá de ligar para o Pedrinho, ver o que ele acha?

É a primeira impressão. Raciocínio bruto, sem passar pelo liquidificador.

Depois, vem surgindo um clareador de ideias. Você pega o histórico, os caminhos, o extrato de pancadas e vitórias que forjaram este homem; gladiador solitário enfrentando a vida, sem verniz, sem amortecedores, sem xilocaína, sem curso de etiqueta.

Aí a gente vai compreendendo que Pedrinho é isto. Tem uma espécie de licença pra usar palavras que em outros seriam estopim de crises. É o “jeitão” dele. Não pôde aprender a ser diferente. A vida não lhe deu folga.

No meu curto período dirigindo o Cruzeiro tive com ele um episódio que ilustra bem o cruzeirense Pedrinho. Como um capítulo a mais na história do flagelo financeiro que o tsunami Wagner/Itair/Hermínio nos causou, tivemos o nosso ônibus arrestado. Pedrinho imediatamente cobriu o débito, informando que faria um comodato com o Clube, por prazo indeterminado até a transferência em definitivo para o Cruzeiro. Dias depois, recebo em meu gabinete minuta do contrato, mas estabelecendo prazo de dois anos, após o qual o ônibus voltaria em definitivo para Pedrinho.

Não era este o prometido. O que fazer? Até então havia mantido uns três ou quatro contatos com Pedrinho, poderoso e bem sucedido empresário, para o qual, se o dia tivesse 40 horas seria pouco. Aprendi com a vida que se você tem problema importante a resolver com  um homem e não tem relacionamento suficiente pra isto, procure falar com “o homem do homem”. Alguém mais próximo dele e que seria ouvido “ex-corde”.

Era fácil pra mim. Chamei Benecy Queiroz, expliquei o problema. Ele pegou as duas vias do contrato e, no dia seguinte, devolveu com as alterações favorecendo o Cruzeiro. Comodato por prazo indeterminado, garantindo-se a permanência do veículo no clube.

Pedrinho é assim. Um dos mais expressivos e admirados exemplos do “self made man”. Na personalidade é como pepino. Sabendo comer, não faz mal.

Sexta-feira,  no crescente das repercussões do áudio,  o próprio Pedrinho desidrata a história afirmando ter pedido desculpas ao técnico Fernando Seabra. Tudo foi força de expressão e ele jamais teria se dirigido naqueles termos ao treinador.  Seabra, por sua vez, confirmou ter autonomia absoluta pra escalar o time.

Pra tristeza absoluta dos atleticanos, fim de guerra.

Entre mortos e feridos, escaparam todos.

8. Augusto, nosso incansável Dom Quixote, continua a batalha contra os moinhos de vento que são todos os embates em que o  Cruzeiro tem boas perspectivas pela frente, como a Sul Americana, ainda que o próximo mata-mata seja contra o Boca Juniors. Difícil, pra nós, sem dúvida. Mas, muito mais difícil pra eles. 

Além desses temas vivos, Augusto continua puxando cadáveres putrefatos, como o episódio Dudu, começado e encerrado pelo próprio, numa crise dipsomaníaca.

No “estilo augustiniano”, maquiavélico, atrela o nome Anelka ao de Dudu, querendo que, com o tempo e a repetição, se confundam. Faz o mesmo com o 6 x 1, ressuscitando o 9×2. Tudo tão semelhante como casco de tatu e botão de rosa.

9. Marcelinho Mineiro, parodiando título de coluna anterior, sobre o jogo do Palmeiras, pergunta:

“E aí, Dalai, SE FOSSE A FAVOR DO JUVENTUDE, O JUIZ DARIA OS PENALTIS?”

Meu caro Marcelinho, quanto à marcação de pênaltis filio-me à grande maioria: em dúvida, não se deve marcar. Acontece que os dois pênaltis que favoreceram ao Cruzeiro não foram duvidosos. Quinta-feira, no Itaquerão, tivemos exemplo de pênalti mais que duvidoso marcado contra o Grêmio. O atacante corintiano deu uma de Hulk no seu melhor estilo: acossado, na área, “puxado” pra trás atirou-se pra frente (?) no gramado e caiu rolando…

Uma vergonha que, na quase totalidade das vezes, só acontece favorecendo Flamengo, Corinthians e Palmeiras.

No campeonato mineiro, há décadas, só acontecia a favor do Atlético.

GARIMPO

“Você pode descobrir mais sobre uma pessoa em uma hora de brincadeira do que em um ano de conversa.”

(Platão – 427-347 a.C.)