RESSACA

(Por Rafael de Novaes Rocha)

Bastou um pouco mais de três minutos para que a euforia de um título internacional se transformasse em um duro choque de realidade. O prenúncio de um vexame. Três gols sofridos nos vinte minutos primeiros minutos de uma final continental. Gravíssimo. Nos escombros, procuram-se culpados. São muitos.

A começar pelo técnico.

O Cruzeiro de Diniz é apático, insosso e desalmado. Não cria e nem é seguro na defesa. Com gols escassos, é pouco inspirado e sonolento. Modorrento. São alguns lampejos de bom futebol em um completo marasmo. Difícil até de enxergar as boas ideias dinizistas – o Cruzeiro é ruim na teoria e na prática. Não tem desempenho nem resultado. A única única vitória de Fernando Diniz no Brasileirão foi contra o rendido Criciúma.

Um futebol pífio que periga nos deixar fora da Libertadores do ano que vem. 

Não foi uma boa ideia trocar os pneus com o carro em movimento. Aliás, trocar pneus, embreagem, motor, freio, etc.: além do primeiro nome, Diniz não tem absolutamente nada a ver com Seabra. São dois técnicos completamente diferentes. Fernando Seabra foi corretamente demitido, mas a escolha por Fernando Diniz foi arriscada pela diferença abissal nas ideias de jogo entre os dois. Nisso, o time não se adaptou às ideias de jogo de Diniz, e também faltou inteligência ao treinador para perceber as limitações e carências do elenco.

E a lista dos adjetivos negativos ao elenco cruzeirense não para apenas em ‘limitado’. A final de sábado escancarou a falta de garra e motivação de alguns jogadores. No pós-jogo, todos estavam muito tristes e abalados. A tristeza, porém, durou alguns poucos dias. Já na segunda-feira, o elenco estava em festa novamente. Casamento do goleiro Anderson e uma penca de vídeos dos jogadores celebrando efusivamente o matrimônio de nosso arqueiro reserva. Cantavam, dançavam e bebiam como se não fosse segunda e como se a final de sábado nunca tivesse acontecido. Isso sem falar no jogo contra o Grêmio dali a dois dias, que certamente também não passava pela cabeça dos jogadores no momento de festa. 

Nas imagens de felicidade, uma chamou atenção: numa dessas tradicionais baboseiras de casamento, o noivo joga ao público na pista de dança uma caixa de whisky, e imagino que quem a pegasse seria presenteado com a bebida. Então, os convidados começam a se degladiar pela bebida. Amontoam-se no chão, dando a vida pelo brinde. Anderson, no palco, diz: “está mais fácil do que fazer gol no sábado”. Escárnio!

A ressaca do vice certamente é muito pior do que a ressaca das biritas do casamento de Anderson. Porém, ela parece atingir apenas aos torcedores, desesperados com o atual momento do clube: falta comando técnico, falta pulso firme e coerência da diretoria e falta comprometimento dos jogadores.

Em resumo, está faltando tudo.

Que a sorte nos favoreça nesta reta final de temporada. E que venham melhores ventos em 2025.

BATE PAPO NO QUINTAL

1. Cruzeiro 1 x 1 Grêmio – Mais um jogo sonolento. Mais uma oportunidade desperdiçada pelo Cruzeiro de consolidar seu caminho à Libertadores 2025. O time vai se complicando a cada rodada, vendo o Corinthians no retrovisor. O Cruzeiro foi incapaz de aproveitar as inúmeras oportunidades de gol oferecidas pelo fraco time do Grêmio. Na primeira chegada gremista, o primeiro gol. Já nós, chegamos, chegamos e chegamos e nada. O empate veio até que enfim. Surgiu de um passe mágico de Veron para uma belíssima finalização de Matheus Pereira.

No segundo tempo, praticamente não houve futebol. Por nenhum dos times. Um horror. Ao que tudo indica, vamos empurrando com a barriga a reta final de Brasileirão. Quem sabe a sorte não nos ajuda? Só assim.

2. Fica Diniz? – Você, cruzeirense, é a favor da continuidade de Fernando Diniz para 2025? Tenho minhas dúvidas. 

3. Torcida pelo G8 – A torcida pelo Botafogo na final da Libertadores é puramente pragmática. Precisamos de mais uma vaga de acesso à competição do ano que vem. Se o Botafogo for campeão, o G7 vira G8. Com isso, nossa vida fica mais tranquila. Quem é mesmo o adversário dos cariocas?

4. Até mais – encerro por aqui a minha participação neste mês neste minifúndio. Não me responsabilizo pelos próximos tópicos, assumidos pelo blogueiro titular. Até a próxima! 

5. A imagem do Cruzeiro resplandece –  Esta hegemonia conquistada em Minas Gerais e fora do eixo Rio-São Paulo, que tanta histeria provoca na Barraca Atleticana neste QUINTAL, tem origem óbvia: um passado de vitórias inesquecíveis, títulos inimagináveis. Assombraram as Américas. Enquanto isto, o Atlético, sem ganhar nada, sobrevivia de eventuais derrotas azuis. Infestava a cidade com camisas de nossos adversários, como fizeram com o Estudiantes.  Além disso, após a perda dos dois títulos mundiais que disputamos, a torcida atleticana, durante dezenas de anos, levava cartazes  para a arquibancada do Mineirão: “Obrigado, Borussia”; “Obrigado, Bayern”…

A razão é que, entre cruzeirenses e atleticanos tem quase o mesmo peso de euforia e satisfação, a vitória de um e a derrota do outro.

Já adaptei aqui, entre nós, a pesquisa americana: “Você prefere  ganhar na loteria ou ver a casa de seu vizinho, muito melhor que a sua, pegar fogo?” Óbvio, ganhou a segunda opção. Em Minas,  por meio século,  nós tivemos o prazer inenarrável de ganhar na loteria e ver a casa do vizinho pegar fogo. Vencemos tudo. Entupimos de troféus nossa galeria. Enquanto o Atlético, em desespero, chegou a pintar de preto o manto azul de Nossa Senhora Aparecida. Nas arquibancadas, como sempre lembro aqui, aquele cântico que era uma doida punhalada  no coração atleticano: “Não ganha nada, time sofredor…”

Em 2019, primeiro com o tsunami interno, em seguida com a pandemia mundial, passamos a comer o pão que nem o diabo amassou.

E começou a “vingancinha” atleticana, por quatro anos. Nossa casa pegando fogo e eles ganhando na loteria.

Sem condições de reagir, amargamos três anos seguidos na B. Parece razoável concluir que qualquer um dos principais clubes brasileiros, naquelas condições, passaria pelo mesmo calvário. Alguns até por mais tempo.

Mas a roda gira e já não respiramos mais por instrumentos. Pouco a pouco, aos trancos e barrancos, vamos readquirindo nossa identidade caracterizada por dois ícones: hegemonia em Minas e melhor clube brasileiro fora do eixo Rio-São Paulo, o que asseguramos não obviamente nos últimos 5 anos, mas nos 50.

6. Os 12 mil heróis de Assunção – Se o jogo contra o Racing fosse na Suíça ou em Nova York, o número de torcedores azuis presentes  poderia ser obtido por informações da Alfândega. Não se entra sem passaporte. No Paraguai, pela Ponte da Amizade ou por outros acessos da longa fronteira, você não precisa nem se identificar. Raramente pedem documentos. Pela ponte passaram 60 ônibus de torcedores.  Como os serviços alfandegários identificaram  apenas 6 mil brasileiros, os atleticanos, há 10 jogos sem vencer no Brasileiro, “acharam” essa alegria de recreio em jardim de infância: a  “procura” dos outros 6.000…

A gente entende.

7. Roberto Oliveira, valendo-se de uma impar qualidade  em embaralhar palavras e inverter sentidos (é capaz de vender cobertor no Saara)  continua incansável na sua luta escoteira pra outorgar ao Grêmio, porque campeão do mundo, o título de melhor clube brasileiro fora do eixo Rio-São Paulo. Só ele pensa assim, nem os gaúchos. Essa  obstinação comoveu os gremistas. Promovem, agora, a apresentação de projeto na Assembleia Legislativa concedendo a Roberto Oliveira o título de Cidadão Honorário do Rio Grande do Sul. Ele merece.

8. João de Deus Filho, nosso Guru da Racionalidade, admite que não há discussão sobre títulos e troféus, entre Cruzeiro e Atlético. Ganhamos com sobra. Concorda também que o Cruzeiro tem mais torcida, anotando que entre os mais jovens a predominância é atleticana. É possível, pela disparidade de trajetória dos dois Clubes nos últimos cinco anos. Mas comete um pecadilho ao enfocar “os grandes lucros com a Arena…”  Meu caro João, tem algo errado. Quanto mais vocês lucram mais a dívida aumenta. Coisa de Mandrake. De lucro em lucro, está chegando a 2 bi.

9. Fala Sério! pós férias sabáticas, retorna distribuindo finas gozeiras pela nossa perda da Sulamericana. Vai às minúcias de apontar que um jogador do Racing se chama Sousa…

Olhos de lince pra bombardear o Cruzeiro e grosso capuz enfiado na cabeça, tampando visão, ouvidos e boca para as coisas do Atlético. Nenhuma linha sobre a tragicomédia promovida na Arena Meus Rivais Venceram. Nem pelos últimos 10 jogos no Brasileiro…

10. A montanha pariu um rato – O julgamento do STJD sobre o festival de horrores que marcou a final da Copa do Brasil acrescentou  mais um episódio desmoralizante da justiça desportiva: melhor que houvesse absolvição.  Multa de 198 mil reais e 6 jogos com portões fechados, sendo que dois já foram cumpridos. Nenhuma linha sobre a identificação dos diretores que organizaram a desorganização. Lembrou-me aquelas fianças de mil reais para milionário preso em flagrante que, com sua Ferrari, atropela e mata transeunte no acostamento.

11.Augusto (original) – alivia as graves tensões no ar e revive Galopeira o hino dos prados paraguaios. Apesar da maldade transpirante, um oásis nesta briga de foice no escuro.

12. Meia hora de açougue – Das peladas da juventude, em qualquer campinho ou rua abandonada, guardo a memória de um momento que alguém gritava: “Meia hora de açougue”! Era a senha para o vale tudo. Rasteira, tesoura, pé na garganta, empurrar, segurar, sinal verde. Segue o jogo. Só não valia mão na bola.

Na última coluna, permitimos “meia hora de açougue”, sem cortes. E foi uma pancadaria geral. Ataques pessoais. Pedradas. Bodocadas. Com direito a revides, tréplicas e muito mais.

Vou me permitir outra experiência: na próxima coluna, serão vetadas postagens que ataquem mensageiros. Como se fazia na Idade Média. O que importa é a mensagem. A ideia exposta.

GARIMPO

“Existem homens de bem; homens que se deram bem; e homens que são flagrados com os bens.”

(Laurence J. Peter)