SÓ FINALIZAR, NÃO VALE!

Missão urgente, difícil, mas não impossível: aprender a fazer gol. Somando com o jogo do Grêmio, são mais de 50 finalizações, com aproveitamento igual a zero. Há produção no meio campo, garra na retomada de bolas, tabelas e fintas geniais, próprias de craques. Há transpiração. Temos tudo isto. Só falta inspiração mínima pra converter em gols. Por isso o goleiro atleticano foi eleito o melhor em campo. Fora do gramado, nas arquibancadas, a Nação Azul chega a comover no apoio dado a este time que nem tem casa, ora apelando pra Sete Lagoas, ora pra Uberlândia. Qual será o próximo?

Como quase tudo tem um lado bom, revelou-se finalmente que Wesley, sim, é jogador e dará retorno ao Cruzeiro.

No pós jogo, Pepa falou o que todos vimos: domínio infrutífero tanto contra o Grêmio como contra o Atlético. E deu o diagnóstico: temos de fazer gols. Como? Não vamos entrar em desespero nem apelar para o “chuveirinho”. A solução é pensar mais, com a bola no último terço.

É o óbvio. Enquanto tivermos finalizações que se assemelham mais a recuos de bola para o goleiro ou os defensores vamos continuar na seca. Exemplo prático: fizemos 40 cruzamentos, só 10 com algum perigo objetivo.

Nas demais 30 jogadas, faltaram opções positivas que construíssem mais chances reais de gol. Jogamos 30 ataques no lixo, bisonhamente. Por isso caímos para o fim da primeira página de classificação. Lamentável.

BATE PAPO NO QUINTAL 

1. Peppeu cruel:

“Vejam o lado cheio do copo: só terá mais um jogo contra o Atlético, este ano! 50% da vergonha já passou.”

Meu caro Peppeu, certamente você sabe o que é um pressentimento. Essa sensação interior indecifrável, estranha, mas que nos passa uma espécie de premonição. Ela está me avisando que a roda vai girar e no fim do campeonato estaremos fazendo passeata na Savassi, ou por nós ou por vocês!

2. Rafael Cabral – Um time é composto de 11 jogadores que durante os 90 minutos acertam e erram no trato com a bola. Gols “feitos” são perdidos de forma bisonha irritando o torcedor: opções erradas, na pequena área, frustram ataques. Isso aconteceu dezenas de vezes contra o Grêmio, em Porto Alegre, impedindo que se assegurasse lá a classificação na Copa do Brasil, que acabamos perdendo no Mineirão não só pela falha individual de um defensor, mas também de outros, atacantes, que não conseguiram o empate e, após, a virada. Ninguém foi sacrificado por isso. Rafael Cabral, sem dúvida, falhou duplamente: dispensando a barreira e não segurando o chute de Hulk, do meio do campo. Mas na conta corrente com o Cruzeiro seu saldo é credor ou devedor?

3. Jeferson e Paulo Augusto, escrevendo antes do jogo contra o Atlético, concordam com o blogueiro: estamos de fato formando um time. Mas falta a cabeça pensante que, geralmente, veste a camisa 10. Nestes últimos jogos em que o excesso de finalizações é paradoxal com resultados negativos, a falta é justamente “de um Alex”. Tristemente pra nós, em Uberlândia, essa verdade iria ficar escancarada.

4. Juliano Damien, cirúrgico:

“… Grêmio foi efetivo, enquanto o Cruzeiro – principalmente no segundo tempo da partida de quarta-feira – insistia em lançamentos na área para a zaga adversária. Pontaria também compromete e, levar gol com erro na saída de bola, não é a primeira vez que acontece.”

Impossível discordar. Tanto mais que o jogo em Uberlândia iria ser um triste repeteco.

5. ALÔ FIFA, ACORDA/2 – Surgiu a primeira declaração de apoio à campanha do QUINTAL pra modificar, à luz do bom senso, duas regrinhas do futebol. João de Deus Filho concorda e apoia essa revolução para o bem. Se todos nos movimentarmos e replicarmos esta mensagem, logo ela passará a incomodar, no bom sentido, os que ditam as regras.

Primeira – sobre impedimentos: Será imaginada uma faixa “desimpedida” de meio metro, horizontal, após o atacante mais avançado e também o último defensor. Um pouco mais de um corpo. Isto acabará com os impedimentos por um pé ou um tronco. Na grande maioria das disputas, especialmente corpo a corpo, os jogadores terão noção exata do que é e do que não é impedimento.

Segunda – tempos de acréscimo: concluídos os 45 minutos, do primeiro ou do segundo tempo, o acréscimo se contará eletronicamente, mas apenas com a bola em jogo, como se faz no Futsal. Será o fim de contusões simuladas, bolas atiradas à distância do local certo, demora dos goleiros em bater o tiro de meta, etc. Em Uberlândia, no segundo tempo de Cruzeiro 0 x 1 Atlético, só o goleiro Everson retardou o jogo mais de 10 minutos, somando-se contusões simuladas e atrasos na reposição de bola. Chegou a tomar cartão amarelo pelo anti-jogo. O acréscimo foi de 8.

Alguém consegue ficar contra?

6. Carlos Magno Ferreira Silva bate forma no nosso gestor:

“Infelizmente, Ronaldo pensa pequeno, se contenta com muito pouco, desde o começo do ano ele vem dizendo que o time vai lutar para não cair. Creio que poderia arriscar e trazer ao menos três jogadores de melhor nível. Com esta mentalidade seremos meros participantes.”

Carlos, acho que o Ronaldo se arrepende de ter feito aquela declaração. Foi precipitada e fora do contexto de esperança que cercava o momento de reconstrução. Hoje, ele não diria aquilo. Foi o mesmo com Felipão, chegando e anunciando que a luta seria pra não cair na Série C. Água fria na fervura. Tenho um amigo que lembra sempre: cuidado que durante o dia seu anjo da guarda abandona o posto por algum motivo (bater o ponto, trocar de turno, renovar o brevê), é quando você pede alguém em casamento ou compra um CD Sertanejo universitário.

7. Luiz Barcelos, Teobaldo e Eduardo Silva abordam o tema Mineirão-Minas Arena. Luiz, com a paixão de cruzeirense, conclama autoridades envolvidas a que tomem providências urgentes. Teobaldo, com visão técnica (e ainda atleticano!) aponta o rigor das cláusulas contratuais que garantem a manutenção do status quo. E aponta multa de 1 bilhão. Mas não eram 400 milhões? Eduardo Silva, otimista, aponta soluções exequíveis.

O tema é complexo e, de acordo com o ângulo de abordagem, os três podem ter razão. O que não se deve esquecer é da nova visão sobre alguns dogmas contratuais, como por exemplo o “Pacta sunt servanda” – o que está escrito tem de ser cumprido. Hoje é aceita, sem discussão, a materialização empírica do que sempre esteve embutido naquele dogma e que se traduz no “Rebus sic stantibus”, ou seja, mantidas as condições em que se celebrou o pacto original. Em outras palavras, há boa vontade jurídica em se admitir mudanças no contrato, se o pactuado se tornou inviável por alterações fundamentais imprevisíveis, gerais, de condições de vida, de trabalho, sociais, enfim, sem qualquer interferência dos contratantes. A grosso modo e sem maiores exames, creio que poderia se aplicar este moderno (pouco mais de um século) enfoque judicial no caso Mineirão. Com a ressalva de sempre: não é um parecer jurídico e, sim, mera opinião de um mero blogueiro.

8. Bernard José de Assis, atleticano, estranha tendência azul de torcer pelo Flamengo como revela Eduardo Silva.

Meu caro Bernard, tudo normal. Após o Cruzeiro perder para o Estudiantes, atleticanos criaram até “consulado” em Buenos Aires pra estreitar os relacionamentos, além de encherem a cidade com aquela horrorosa camisa vermelha e branca. Algoz de nosso adversário torna-se nosso amigo. Um pouco da Lei da Selva aplicada ao asfalto.

9. Ironia das estatísticas – O Cruzeiro, até agora, só venceu Grêmio e Santos, “em casa”. Que casa?

GARIMPO

“Há um sentido profundo na superficialidade das coisas, uma ordem inalterável no caos aparente dos mundos. Vibra um trabalho silencioso e incessante dentro da imobilidade das plantas. No crescer das raízes, no desabrochar das flores, no sazonar dos frutos. Há um aperfeiçoamento invisível dentro do silêncio de nosso Eu: Nos sentimentos que florescem, nas ideias que voam, nas mágoas que sangram. Uma folha morta não cai inutilmente. A lágrima não rola em vão. Uma invisível mão misericordiosa suaviza a queda da folha, enxuga o pranto da face.”

(Helena Kolody, poetisa paranaense, citada por Sacha Calmon – Estado de Minas, 4 de junho)