TUDO AZUL: LIDERANÇA AMPLIADA

Há muito a gente não tinha a tranquilidade (relativa) de dois gols de vantagem. Há muito a gente não esperava o fim do jogo sem o coração na mão, temendo um gol de empate. A vitória de 2 x 0 sobre o Tombense contou com a emoção de mais de 42 mil torcedores que, findo o jogo, fizeram o de sempre: permaneceram em seus lugares até a Festa da Reconstrução, aquela coreografia fantástica, repercutida hoje no mundo inteiro.

Gostei mais do resultado que do jogo.  Com o Tombense recuado, comprimindo-se em sua intermediária, o domínio do Cruzeiro era uma consequência lógica. Mas a não ser aos 4 minutos do segundo tempo, com Bruno Rodrigues, e depois aos 24, com Daniel Junior, não soubemos construir jogadas positivas. A excelente vitória não pode apagar a sucessão de erros de passes curtos, de lançamentos alongados e, em especial, de chutes a gol.

Ainda bem que uma das qualidades de Pezzolano é a resenha do jogo, com vídeo, comentando jogadas. As pisadas de bola, incluindo-se a perda de gols imperdíveis, não fizeram falta nesse jogo. Mas poderão fazer nos próximos. Por isso devem ser reduzidos com treinos e treinos. Outra vez tivemos nota 10 em intensidade e 5 em inspiração. A reta final do returno torna as partidas mais acirradas porque pra vários times é questão de vida ou morte. É animador ver o Cruzeiro batendo recordes de desempenho na Série B e isto é mérito de muita gente, em especial de Pezzolano. Mas pode e deve melhorar.

BATE PAPO NO QUINTAL

1.  Inesperado F. C. tem rondado o futebol brasileiro, sob o enfoque da história mineira marcada pelos seus dois principais times. O jogador que saia de Cruzeiro ou Atlético pra jogar em outro estado expõe o DNA nos gols que faça. Nos últimos quatro jogos, o Atlético tomou nove gols de ex-cruzeirenses: Arrascaeta (2), Fabio Santos (2) Mauricio (2), Murilo (1) e Vitor Roque (2). Este último foi fortemente vaiado, no Mineirão, desde o primeiro toque na bola. Silêncio, só na hora dos dois gols. 

Quem acompanhou tudo, literalmente até o último minuto, foi o Inesperado F.C. Jogo empatado em 2 x 2, com uma sucessão de escanteios contra o encurralado time paranaense. 49 minutos, Cuca e jogadores atleticanos pedem acréscimo da prorrogação. O árbitro atende e dá mais um minuto. Escanteio batido, arma-se inimaginável contra ataque e sai o gol da vitória paranaense.

2. 67 mil torcedores no Mineirão nesse fim de semana! Um show mineiro para o Brasil morrer de inveja:

Sábado – Cruzeiro x Tombense: 42 mil torcedores

Domingo – Atlético x Athlético 25 mil torcedores.

3. Teobaldo – tecendo seu comentário na manhã de quinta-feira (antes, óbvio, do jogo de ontem contra o Athletico e pós “noite bandida” de quarta, com o Palmeiras empatando no Mineirão aos 47 do segundo tempo) sai armado pra se aliviar com tiro “aleatório”. Fácil imaginar a cabeça tomada pelos piores instintos. Pega a primeira frase da coluna – “Contra o bom time do Tombense…” – e dispara como um justiceiro à cata de pecados.

Calma, Teobaldo. Primeiro, lembre-se que raiva é má conselheira. Segundo, empatar em casa com o melhor time brasileiro na atualidade, não é o fim do mundo. E por último, o Tombense é o quinto colocado na Série B. Guardadas as proporções, não é um bom time?

Que é isto, rapaz? Você, acostumado a descobrir constelações no universo, tropeçando em grãos de areia?

4. Bruno Araújo de Carvalho, cruel, disseca o tumor atleticano, sem anestesia, após empate (sob vaias) com o Palmeiras:

“Ontem o que vimos no Mineirão foi o silêncio ensurdecedor dos inocentes que foram mais uma vez testemunhar a reação de um paulista no gigante da Pampulha. Isso mostra que quem canta e apoia mesmo na derrota é só uma torcida aqui em Minas Gerais…”

Impossível tirar a razão do Bruno. Mesmo com o time há três anos na Série B, a Nação Azul dá show. Bate recordes. Em vitória, empate ou derrota. Com coreografia, de brinde!

5. José Antônio, outro que deve ter perdido o sono na noite de quarta-feira, assim como Teobaldo, sai de casa pronto pra encarar… Bate na surrada tecla do “tsunami do blogueiro” e depois ataca carne fresca: a dupla Pedro Castro-Chay:

“… A tal dupla do Botafogo só caiu de produção porque são jogadores de segunda divisão e não de primeira, simples assim…”

Meu caro José Antônio, o seu pecado foi o mesmo do Teobaldo: escrever com raiva. Não faça mais isto. Na historiografia do QUINTAL seu nome está no quadro de honra. Preserve-se. Falar que só jogadores da Série B caem de produção…

Você assistiu aos últimos jogos do Atlético?

Por favor, não responda. Respeitaremos seu silêncio.

6. Marcilio volta e confessa: estava de férias, não na turma do “Banzo” que assola metade da barraca atleticana. Desculpe o blogueiro que confundiu o seu prolongado silêncio com a frustração da massa pelos últimos resultados (na boca, aquele terrível gosto de cabo de guarda-chuva molhado). Bom retorno, mas cuidado: aparecem fissuras no casco do barco.

7. Cruzeiro sim! lembra que o futebol é a coisa mais importante dentre as coisas desimportantes da vida. Óbvio, a primazia é para a vida, a família, o próximo, a comunidade. Ainda sobra muita paixão e é por isso que o futebol é essa torrente de emoções. Quanto à exclusão da turma sub-20 pela pisada na bola em Chapecó entendo que a decisão de SR puniu mais ao Clube do que aos infratores. O Direito reserva uma parte chamada “Dosimetria Penal” exatamente para evitar excesso ou escassez no castigo.

8. Jorge não iria mesmo perder a piada pronta:

“Wesley Gasolina é o craque que Ronaldo prometeu para “incendiar” o time e a torcida! Só estava esperando o combustível baixar de preço…”

Alguma coisa está me dizendo que vocês sentirão esse calor!

9. Três zagueiros – Um alívio, renovarmos contrato com Lucas Oliveira, sem dúvida nosso melhor defensor. Brock e Zé Ivaldo, no esquema atual, deixaram de ser o terrível fio desencapado de antes. E desde então passamos a ser um dos times menos vazados da série B.

10. Augusto, com a conhecida finesse, quer desidratar a vibração azul nas arquibancadas, mesmo nas derrotas:

“…Freud explica: quando o sofrimento é demais, comemora-se na bonança e também na tempestade. O que importa é comemorar…”

Meu caro Augusto, você está quase 100% correto. Só faltou perceber, na tempestade, raios solares no fim do horizonte anunciando um novo dia.

11. Leandro Lo, 33 anos, conquistou 8 mundiais de jiu-jitsu, em cinco categorias diferentes; 5 Copas do Mundo; 8 Pan-Americanos. Sábado, estava em um show no Clube Sírio, em São Paulo. Numa discussão sobre bebida, jogou ao chão, com um golpe o seu opositor. Este se levantou, sacou o revólver, e deu um tiro na cabeça de Leandro. Morte imediata. O mecanismo é o mesmo dos crimes de trânsito. Sai o raciocínio entra o instinto. Tive um professor que aconselhava: quando xingarem sua mãe, no trânsito, conte até três, antes de responder.

12. JCSR viu o jogo do Cruzeiro sábado, vencendo o Tombense. Domingo de manhã telefonou pra Mãe Dinah e escreveu esta mensagem premonitória:

“A partida de ontem contra o Tombense devolveu o otimismo um pouco afetado pelas últimas apresentações. O que se viu ontem foi uma equipe focada na vitória e com uma entrega física surpreendente. Mais uma vez, a “China Azul” proporcionou um grande espetáculo. Foram mais de 42 “simpatizantes”. Estou aguardando quantos “torcedores de verdade” irão ao Mineirão ver a partida contra o Athletico-PR. Em tempo, parece que Vitor Roque jogará…”

13. Cuca feita! – Derrota inesperada no último minuto, vaias da torcida e entrevista bombástica de Hulk reclamando de colegas, tudo isto, somado à tensão própria do jogo, levaria boa parte de nossos treinadores, na entrevista pós jogo, a distribuir respostas iradas, atravessadas, que não disfarçam o descontrole emocional. Cuca foi elogiável exceção. Palavras prudentes, firmes, reconhecendo dificuldades, sempre em tom baixo, descortinando caminhos que poderão ser tentados pra vencer esta má fase. A vida tem ensinado. E Cuca tem aprendido.

 GARIMPO

“ Não é necessário mostrar beleza aos cegos, nem dizer verdade aos surdos. Mas não minta para quem te escuta e nem decepcione os olhos de quem te admira.”

(Jô Soares)