TUM, TUM, TUM

A logística e o campo foram os nossos maiores adversários, na cidade maranhense. Além de sacramentar a classificação, o jogo valeu especialmente para aumentar a cota de confiança da torcida com o goleiro Rafael Cabral. Excelente atuação, inclusive a saída nos cruzamentos sobre a área. Brilharam ainda Vitor Roque, Edu, Canesin, Rômulo, Wagninho e Pedro Castro, apesar das péssimas condições do gramado. Destaque também para a boa presença da torcida cruzeirense do Maranhão e do Piauí, passando força. O jogo, histórico para a cidade de Tuntum, foi marcado por fato inusitado: o time local jogou tendo na camisa o escudo do Cruzeiro e a data. 

Pezzolano aproveitou a etapa final pra dar tempo de jogo a cinco suplentes que pedem passagem: Pedro Castro (João Paulo), Breno José (Vitor Roque); Adriano (Canesin); Vitor Leque (Edu) e Giovani (Rômulo). Promissoras atuações.

A potência do chute de Pedro Castro foi mais uma vez comprovada: o terceiro gol surgiu de rebote em falta batida por ele.

Continuamos no caminho certo.

BATE PAPO NO QUINTAL

1. Ronaldo –Thiago Mattar, do UAI, deu um furo de reportagem há três dias que tira o sono cruzeirense: Ronaldo estaria pretendendo a convocação do Conselho Deliberativo do Cruzeiro para reajuste na proposta de aquisição da SAF, visando amealhar as Tocas 1 e 2. Reparos contratuais, após a assinatura do documento são comuns quando se trata de correções de nomes ou de números por lapsos ocorridos na grafia, ou até mesmo para acréscimo ou supressão de algum compromisso que represente percentual ínfimo nos direitos e deveres dos contratantes.

Inusitada é a pretendida inclusão – como se noticia – de bens fundamentais que, no contrato, permaneceram com uma das partes, equilibrando a partilha. Não se pode esquecer que no Conselho Deliberativo esta autorização para cessão dos imóveis exigiria aprovação de 9/10 dos conselheiros com direito a voto.

É até compreensiva a argumentação de Ronaldo de que precisa de garantias, ante uma dívida tributária de cerca de 200 milhões, já abatidos os favores legais, e que poderá dobrar se não quitada como programada. Tudo constante de ajuste feito com a Procuradoria da Fazenda Federal.  O que a gente não entende é o tempo de bola. Porque isto não foi visto há 4 ou 5 meses atrás, quando começaram as varreduras contábeis pra viabilizar a SAF?

Há mais de dois anos a situação financeira do Cruzeiro caiu praticamente no domínio público. Virou novela. Todo mundo acompanha ou tem notícia. Dívidas absurdas, tripartidas em três grandes blocos: trabalhistas, credores comuns e tributária. As duas primeiras são imprecisas, negociáveis, permitem composições de várias espécies, inclusive a transformação em condomínios de credores. Podem até ser camufladas ou mascaradas A tributária, não!  Está lá, fixa, há anos, sofrendo as correções automáticas. Disponível na hora, através de certidões públicas emitidas pelas autoridades fiscais. Ronaldo, XP, assessores e etc, só ficaram sabendo dela há uma semana, inclusive o ajuste com a Procuradoria da Fazenda? E por isso a pretendida votação tem de ser feita com a faca no pescoço do Conselho?

Parece brincadeira de mal gosto com um patrimônio de glórias e emoções formado há cem anos!

A torcida é para que se encontre um plano B, com Ronaldo.

No fim de noite, ontem, tomei conhecimento de nota oficial expedida pela mesa diretora do Conselho Deliberativo, com o apoio de toda a comissão especial nomeada para formalizar a criação da SAF. Pelo peso de quem assina, merece ser ponderada.

2. Bruno Araújo de Carvalho toca em pontos sensíveis:

“1. Goleirão R. Cabral não passa total confiança; 2. Brock, apesar da evolução junto com o time, anda dá suas “pixotadas”; 3. Precisamos de um lateral direito e atacante (n.9) pra suprir ausência de Edu; 4. Ronaldo jogar o Rural do ano que vem com o Sub20. ”

Bruno, impossível negar razão a você. O nosso novo goleiro tem a dificílima missão de substituir um ídolo, uma quase lenda. Falhas que poderiam ser toleráveis ante um conjunto positivo, potencializam-se pela sombra de Fabio. Um dos pontos que, a meu ver, deveria merecer mais atenção, é a saída de bola e na bola. Na primeira, aquela sucessão de troca de passes com os defensores, progressivamente perigosa pela aproximação dos adversários, é de matar do coração. Contra o Atlético, quase entregamos um gol assim. Quanto à saída na bola, cruzamentos altos na pequena área devem ser basicamente do goleiro, que pode saltar com a mão elevada, ganhando de qualquer adversário se der o impulso no momento certo. Se ficar parado, no centro do gol, é facilmente surpreendido por cabeceios nos cantos, impossível de serem cortados, em razão da curta distância. O nosso Rafael Cabral tem se mantido estático, debaixo dos paus. E os gols vão se sucedendo. O que teria a falar sobre isto o nosso treinador de goleiros?

Vamos agora ao nosso zagueiro Brock: Falhou infantilmente em jogos passados, é verdade, mas atuando num time sem o mínimo conjunto, onde defesa, meio de campo e ataque eram peças desconectadas. Impossível uma avaliação justa. Passou a jogar melhor, mas no jogo de ontem voltou a ser o Brock das faltas como primeira opção, ainda que sem necessidade. Acabou expulso, justamente.

Por fim, quanto ao campeonato mineiro do próximo ano, vamos com calma. Não precisamos adiantar planejamento agora. Muita água vai correr debaixo da ponte. Quem sabe a FMF se cansa de patrocinar o Atlético?

3. Jorge, corajoso, critica a arbitragem por ter marcado dois pênaltis a favor do Cruzeiro, no jogo contra o Pouso Alegre. Vai além e diz que foram pênaltis “estratégicos” porque aumentaram o saldo de gols e garantiram a vice-liderança…

Meu caro Jorge, nenhum comentarista de rádio ou tv colocou dúvida quanto ao acerto do árbitro em marcar as penalidades. Foram indiscutíveis, ao contrário do que acontece em muitos dos chamados “pênalti-Hulk”. Desculpe-me, mas acho uma temeridade você fantasiar erros inexistentes do juiz, no jogo do Cruzeiro, depois do que assistimos sábado no Atlético x Democrata. O gol único que deu a vitória aos atleticanos surgiu de uma tomada de bola, próximo a área do Democrata. Para essa roubada, Nacho Fernandes deu um golpe no defensor do Democrata que seria condenável até em luta do UFC. Ele ficou estendido no ringue, digo no gramado, enquanto acontecia o gol. Ficamos sabendo, assim, que há também “lances estratégicos”.

4. José Fernando Durães Saraiva, tal como o blogueiro, vê progressos no time, mas censura os frequentes lançamentos de camisas:

“Os atuais dirigentes precisam entender que o Cruzeiro não é qualquer escola de samba pra ficar trocando de camisa a toda hora como se fosse fantasia de carnaval. ”

José Fernando, você tem razão.  Nesse campo, o perigo é cairmos na vulgaridade, que desvaloriza o artigo. A camisa mais bonita do Brasil merece cuidados de joia rara.

5. Augusto – Sem mais nem menos, do nada, tira o pino de granada:

“Só vamos devolver os 6×1 quando vocês devolverem o 9×2. Promessa feita. ”

Meu caro Augusto, debates anteriores neste QUINTAL resultaram na conclusão, aceita pela maioria, de que o 9×2 contra o Palestra Itália, foi um jogo “quase amistoso”, cercado por circunstâncias especialíssimas, inclusive mensagem de parabéns ao Atlético, enviada pela diretoria palestrina…

Já o 6×1, para o presidente atleticano, na época, Alexandre Kalil, foi o dia mais triste da vida dele…

Não se compara juriti com casco de tartaruga.

6. Janete de Azevedo não alivia para Ronaldo e faz sugestão interessante:

“… formar uma Cooperativa de Futebol, como é no Real e no Bayern. Essa é a saída honrosa e viável, economicamente! ”

Janete, excelente lembrança. O céu, até dias antes, era de brigadeiro. Agora, nuvens escuras prenunciam temporais. Aquela inacreditável precipitação do presidente SSR pra assinatura do contrato em São Paulo, driblando até o advogado que assessorava as tratativas, está agora mandando a conta.

Ante a quase impossibilidade estatutária de transferência de imóveis (aprovação de 9/10 dos conselheiros em condições de voto), a ideia de uma Cooperativa de Futebol é mais que bem-vinda. Talvez venha a ser a única solução até agora, caso Ronaldo peça seu chapéu. Há um grupo privilegiado de uns 100 cruzeirenses para os quais só temos um pedido: honrem nosso time, enfiem a mão no bolso!

Janete acha que nem precisa de 100:

“…10 riquinhos, cada um com 20 milhões, chegaríamos a 200 milhões, mais o sócio torcedor que também escolheria o Presidente e teria participação nos lucros quando houvesse. Com menos desse valor, Textor está a recuperar o Botafogo, sem o sócio torcedor e sem meter a mão no patrimônio do Clube! Não é uma ficção! É obra de execução para quem tem talento, objetivos claros e bem definidos. É só querer que dá certo! ”

 Ótimo exemplo dos “10 riquinhos”, Janete. Mas poderiam ser também:  “50 riquinhos, com 4 milhões”, ou “500 riquinhos 400 mil reais”…

Como você diz: “é só querer, que dá certo”!

7. Manuel Panhame – em estado alfa – nos transporta para o fim dos anos 60. Suas palavras formam uma tela do antigo cinemascope e vão pintando quadros com a descrição de jogos memoráveis. A Melhor de Três, disputada em 1968, é descrita pelo nosso historiador como a saga épica que de fato foi. Merece  releitura e um quadro, com suntuosa moldura.

8. Teobaldo, no vácuo das notícias intranquilizadoras sobre a continuidade de Ronaldo no Cruzeiro, tira sarro com o blogueiro que apoiou a SAF (“se você está afogando e lhe jogam uma corda, você vai querer saber se ela é de sisal ou de nylon? ”).

Meu caro Teobaldo, apoiei e apoio a ideia da SAF, em razão das circunstâncias. Apoiei também Ronaldo, porque foi ele quem assumiu esse desafio. Embora não divulgados detalhes das alterações pretendidas sou – em princípio – contra a cessão de imóveis que, aliás, têm forte proteção estatutária.

9. José Antônio, com o apoio de Davi Rodrigues de Souza, leva o blogueiro ao corner:

“… dois pênaltis? Já pensou se fosse para o Atlético? (…) Não vai falar nada sobre o fato do Vasco, além de ter um valor bem maior já ter recebido adiantamento de 70 milhões, mesmo antes da venda ser aprovada? E sobre o Botafogo, que já concluiu o processo de venda, mesmo tendo iniciado depois e já vai receber 100 milhões, nada? ” 

Meus caros José Antônio e Davi, vamos por partes como diria o esquartejador:

1. Pênaltis – No jogo contra o Pouso Alegre, em que dois pênaltis foram marcados a favor do Cruzeiro, não houve sequer um comentário dos especialistas apontando erro do árbitro. Falta evidente, clara como sol de meio dia, ocorrida na área, é pênalti. Se acontecerem 3 vezes, serão três pênaltis. Bem diferente dos conhecidos, bem armados e festejados (pelos atleticanos) “pênaltis-Huck”…
2. SAF – O Cruzeiro está pagando o preço (caro) do pioneirismo. Não havia com quem comparar valores. Ainda assim, estávamos indo bem, com a torcida dando aberto e franco apoio a Ronaldo. E o time correspondendo, em campo. Nos últimos dias o caldo começou a azedar, como é abordado no primeiro bloco deste Bate Papo. 

10. Luiz Gonzaga de Barros, comentando certamente antes de saber da investida de Ronaldo sobre as duas Tocas:

“… E a cada passo, passamos a acreditar mais, a esquecer um passado recente e voltar a sonhar com as glórias costumeiras. O binômio: Trabalho e Competência se faz sentir a cada jogo…”

Meu caro Luiz Gonzaga, o seu texto é importante por refletir o ânimo da torcida azul, o decidido apoio que vinha sendo dado à nova gestão do Cruzeiro.

Lamentável, o que se trama agora. Pelo objetivo visado e pela forma pretendida.

11. Filipe Braga, cirúrgico:

“… Sobre a administração do Ronaldo, será que tem mesmo mais acertos que erros? ” (…) “Trabalho de base? Não há mérito nenhum de Ronaldo/Paulo André ali. Os jogadores já eram da base ou foram contratados pelos olheiros/coordenadores anteriores. Aliás, esse é outro ponto OBSCURO no Cruzeiro do Ronaldo: demissão de pessoas que vinham apresentando competência na base e tinham história no Clube…”

Filipe, tudo ainda está confuso. As alterações agora propostas equivalem a movimento de placas tectônicas. Alteram mar e montanhas. Vamos aguardar e torcer pra que o bom senso entre no coração e na cabeça dos que comandam o Cruzeiro.

12.Manuel Panhame/2 volta ao QUINTAL pra dar notícia triste: o falecimento, em Juiz de Fora, de um mestre da crônica brasileira: Eduardo de Almeida Reis. A versão mais próxima de Sergio Porto. Nasceu em 1937, no Rio de Janeiro, por um erro topográfico da cegonha. Devia ser em nossas terras, o que a Academia Mineira de Letras corrigiu.  Um de seus livros: “Amor sincero custa caro”.

Era seu fã de carteirinha. Número 2. A número 1, claro, é de nosso historiador. 

13. América – Outra classificação épica. A noite de terça-feira foi emocionante para a quase unanimidade dos torcedores mineiros assistindo Barcelona de Guayaquil x América. Decisão nos pênaltis, Jailson um herói.  O técnico Marquinhos Santos, após o jogo, salientou a boa performance de sua equipe, os setores a serem melhorados e finalizou enaltecendo a civilidade da torcida equatoriana, num momento em que cenas de selvageria vão se tornando comuns mundo afora, inclusive com a invasão da Ucrânia, pela Rússia. “Torceram o tempo todo, sem ofensas ao adversário”.  Parabéns, Marquinhos. Parabéns, povo equatoriano. Parabéns Mecão das Gerais.

GARIMPO

“O ladrão não é o rato. É o buraco. ”

(sabedoria popular. E põe sabedoria nisso!)