Como já comentei neste QUINTAL tenho a honra e o privilégio de participar de 30 grupos sociais cruzeirenses. Respiramos Cruzeiro 24 horas por dia, com a maior diversidade do mundo quanto a grau de prudência e imprudência, respeito e desrespeito, ponderação e raiva, boca limpa e suja, doutorado e mobral. Uma colcha de retalhos onde cada pedacinho compõe o todo e faz falta para o conjunto.
Desses grupos estou recebendo desafios para abordar os incidentes havidos com a nossa equipe Sub-20 em Chapecó e que resultaram no afastamento de seis atletas. Em jogo do campeonato brasileiro da categoria, com derrota do Cruzeiro, receberam, de madrugada, garotas de programa no hotel em que estavam.
Em comunicado oficial, sem relatar os fatos, a diretoria se refere a “falta gravíssima” cometida pelos jogadores, divulgando os seus nomes e comunicando o afastamento. Dois, emprestados, serão devolvidos; três, com vínculos mais extensos, estão afastados até que se definam outras providências a serem tomadas; um não terá contrato renovado e outro, já em pré-contrato profissional, foi dispensado e agora recebe ofertas de vários clubes.
Questões morais são diametralmente opostas às questões matemáticas. Enquanto estas últimas são invariáveis do polo sul ao polo norte, as morais variam na nossa própria casa, da cozinha para a sala.
Assim, neste campo, jamais proclame ou procure a verdade absoluta. Ela não existe. Em cada cabeça, uma sentença, dependendo de mil variáveis: costume, educação, nível de religiosidade, grupo social, idade.
Qual seria então a abordagem menos errada de um tema deste? Com todas as chances de estar mais uma vez equivocado, me arrisco a responder: consultando o histórico de casos semelhantes. E não são poucos. A questão vem sendo discutida desde Adão e Eva, quando havia apenas um casal. As possibilidades hoje cresceram ao infinito.
Caso nº 1 – Entre nós, o mais emblemático de todos ocorreu em 1986, na Toca da Raposa (1) onde a seleção brasileira comandada por Telê Santana estava concentrada. Não era raro jogadores pularem o extenso muro que circunda a Toca, retornando depois, sem problemas. Naquela madrugada, reza a lenda, Renato Gaúcho e o lateral Leandro demoraram um pouco mais. Leandro, sem coragem de saltar o muro por causa da altura, resolveu encarar o problema, passando pela Portaria. Renato Gaúcho, por solidariedade, passou junto com Leandro. Denunciados pelo porteiro, foram sumariamente afastados pelo rigoroso Telê Santana.
Os dias passaram, a raiva – sempre má conselheira – também passou e Telê Santana quis reconvocar Leandro. Aí, a solidariedade mudou de lugar: ele não aceitou porque Renato Gaúcho (pelo que falou depois) não fora perdoado. No dia da viagem ao México, Zico e Junior chegaram a ir à casa de Leandro, tentando convencê-lo a voltar. Não conseguiram.
Sem um dos grandes laterais da seleção e sem o craque rebelde que acabava de ser campeão mundial pelo Grêmio, com excepcional atuação, o Brasil foi eliminado nas quartas de final para a França, de Platini, nos pênaltis.
Caso n. 2 – Em seu livro “ Tempos vividos, sonhados e perdidos”, Tostão, que foi craque da bola e da medicina, hoje cracaço nas letras, assim relata um episódio semelhante:
“No Cruzeiro, ficávamos concentrados em um hotel modesto, próximo ao centro e à zona boêmia de Belo Horizonte. O centro avante, que não era eu, na véspera dos jogos, colocava vários travesseiros na cama para simular uma pessoa dormindo e saía à noite para uma casa de prostituição. Fazia gols em todos os jogos. O técnico descobriu, não o deixou mais sair, e os gols secaram. Tivemos de fazer um pedido ao técnico. O centro avante voltou a se encontrar com a sua amada e a fazer gols.”
Voltando a lembrar que não há verdade absoluta e, sim, ângulos diferentes de abordagem de um mesmo fato, dou a minha opinião, como sempre sujeita a chuvas e trovoadas:
1. Os atos praticados são censuráveis e não “gravíssimos”, adjetivo mais apropriado, por exemplo, para aqueles atribuídos ao Robinho. Como agiríamos se, na concentração da seleção brasileira, Neymar fosse apanhado na mesma infração?
2. Houve erro absoluto em colocar os nomes dos atletas na nota oficial, tornando desnecessariamente pública uma repreensão que deveria ser particular. Alguém já afirmou: “Você demora meio minuto pra chamar a atenção de uma pessoa em público. E às vezes ela demora a vida toda pra tentar esquecer”. No caso dos jogadores, o deslize é obviamente potencializado.
3. Todos são sub-20. Pouco mais que meninos. Não é justo exigir deles o amadurecimento mental de 25 ou 30 anos. “A juventude é um pecado que o tempo se encarrega de corrigir. ”
4. Os atletas são também patrimônio material do Clube. Não há comparação entre a transgressão cometida e o prejuízo financeiro que vamos sofrer.
5. Lógico: disciplina é fundamental. Ordem é necessária. Não se pode passar a mão na cabeça de infrator. Camisa tem de ser respeitada, etc. etc. e etc. Mas há certamente uma forma de preservar tudo isto sem perdermos tanto dinheiro e categoria em nosso Sub-20.
BATE PAPO NO QUINTAL
1. Amanhã, às 20h no Mineirão, outro teste cardíaco para 9 milhões de corações amarrotados de tantas pancadas. Cruzeiro e Guarani. Só dois pedidos a Felipão: jogar com garra pra ganhar e manter sempre dois gols à frente pra gente conseguir despregar os olhos do relógio quando chegar a prorrogação. Aqueles minutinhos a mais parecem cascavel preparando picada. Duro de aguentar.
2. Louvável sob todos os aspectos a iniciativa dos membros da Comissão de Reforma do Estatuto, divulgando uma compilação dos pontos principais do que é proposto. Luciano Santos Lopes, Relator, e os membros Luiz Evaristo Osório Barbosa e Alexandre Bandeira, três juristas dos mais respeitáveis, assinam o oportuno resumo, destacando novidades propostas. Por exemplo, no explosivo caso dos conselheiros remunerados, as proibições expressas são ampliadas até para cônjuges, empresas ou interpostas pessoas. Um ótimo avanço. Mas as inovações não param aí, alcançando pontos que, pela própria complexidade, reclamam mais tempo de reflexão e debate. Será um gesto de grandeza, adiar esta assembleia por algumas semanas para propiciar esse aperfeiçoamento.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.
Meninos, meninos, mennos, como gostam de dizer esses rascunhos de projetos de tecnicos de futebol, sao meninos, mas tem direito a votar, sao meninos mas tem carta e autorizaçao para dirigir, tem contratos e recebem por isso, e na hora da responsabilidade, sao tratados como meninos embora alguns ja tenham ate filhos.
. No Brasil todos tem direitos, mas ninguem tem deveres ou responsabilidades. Todos nos podemos errar, acontece. Num clube de futebol organizado, o que nao o nosso caso. as puniçoes para determinado erro, ja deveriam ser conhecidas e aplicadas, e ponto final.
Mina forma de pensar é semelhante ao do senhor Dalai no caso dos jogadores sub 20. Jogamos dinheiro fora porque eles são jogadores que podem ter um futuro no profissional porque são bons jogadores. Deixá-los livres como fizeram, foi rasgar dinheiro! Poderiam puní-los, é certo, mas nunca abrir mão dos seus vínculos com o clube. tanta coisa podia ser feita e fizeram a pior!
hihihi, ninguém respeitada nada lá na boite azul! Certamente o bordel mais despudorado.
Muito bom texto. Como o senhor bem disse, quando não estamos no campo das exatas, não cabe verdade absoluta, mas pontos de vista, que podem ser diferentes, mas igualmente plausíveis. Os seus argumentos forma muito bons e concordo com quase todos, porém apresento dois pontos um pouco diferentes:
1- Não se sabe, até pela falta de detalhes na nota emitida pelo clube, se foi uma ato isolado ou se a indisciplina é recorrente ao ponto de passar de qualquer limite.
2- Esse para mim talvez seja o principal motivo pela tomada dessa atitude. Fica claro que nosso clube, por tudo que aconteceu nesses últimos tempos terríveis, passa por um momento de grande desprestígio no mundo do futebol. A imagem ainda continua arranhada e isso reflete dentro também na postura dos funcionários.
Com a providencial chegada de Felipão, parece que o clube tenta a todo custo manter as rédeas firmes e vai usar o episódio como exemplo para todos que estão no momento, inclusive o profissional. Na minha opinião, isso dificilmente aconteceria num clube com a imagem valorizada, organizado, com vencimentos em dia, enfim, aquele alto astral que nos acostumamos tanto a ver no nosso cruzeiro. E, mesmo que acontecesse, aí sim talvez a postura fosse mais branda.
Afinal, embora seja de se lamentar o prejuízo financeiro, imagina a hipótese de acontecer isso entre os profissionais? Como se desfazer de 6 jogadores eventualmente peças fundamentais para o elenco de uma vez? É amigos, como diria Galvão Bueno, esse estrago que nos fizeram foi grande demais e sejamos resilientes para a recuperação que será dolorosa, mas vamos conseguir.
Verdade absoluta: os “meninos” de 20 anos agiram como moleques e foram punidos pelo clube e seus empresários. Certo é certo e errado é errado.
Mas vendo estas relativizações de conduta no atual momento do time resta apenas lamentar e compreender como é que vcs chegaram ao atual fundo do poço.