SETE PECADOS CAPITAIS DO PRESIDENTE

Toda administração se compõe de acertos e erros. 

Bom administrador é aquele que acerta no atacado e erra no varejo. Quando essa proposição é invertida, a vaca vai pro brejo.

A meu ver, no caso do Cruzeiro, os pecados capitais do presidente são estes:

1. Acreditar que pudesse manter acesas as duas velas – a Deus e ao Diabo – o tempo todo, sem pagar caro por isso. Por causa da Família União, que ajudou a elegê-lo, e para conservar o apoio da Família Perrella, não saneou o Conselho Deliberativo. Engoliu a primeira “liminar incaível” do Brasil, conservando intocáveis os conselheiros remunerados que haviam sido afastados, por claríssima determinação do Estatuto.

Esta posição dúbia, prolongada indefinidamente com argumentos ridículos (“não podemos fazer nada, o caso está na Justiça…”) mata a autoridade do chefe;

2. Plantar assessor “de minha confiança” na Comissão Técnica. Foi seu primeiro ato, pra comandar a tão aguardada arrancada do Cruzeiro. Confesso que tive de reler a notícia mais de uma vez pra acreditar que era aquilo mesmo. Infelizmente, era verdade. Deivid foi entronizado na Comissão Técnica como “alter ego” do presidente. Em outras palavras, naquele ambiente que é, em todos os clubes, celeiro de fofocas e trairagens, a ser “controlado” pelo técnico e pelo diretor de futebol, o presidente colocou um “espião pessoal, de sua confiança”.  Diretamente, mandava um recado aos demais integrantes da CT: “em vocês eu não confio”. Só mesmo em dia de muita inspiração conseguiria fazer m. maior. Esta é uma das maiores razões do fracasso de sucessivos treinadores que após saírem, reerguem times iguais ou piores que o Cruzeiro.

3. Implodir a base – Sem condições legais e financeiras para contratar jogadores, o recurso natural do Cruzeiro seria recorrer aos plantéis sub 20, sub 17 e até sub 15. Mas o presidente, ainda em lua de mel com o poder, resolveu utilizar um episódio que não é raro naquelas circunstâncias, para “dar um recado” mostrando ao mundo a sua inflexível autoridade de empoderado líder.  6 jogadores do Sub 20, em Chapecó, receberam garotas de programa no hotel. Fato grave, que merecia punição administrativa dos infratores. Não do Clube. Para dar seu “recado”, o presidente puniu o Cruzeiro. Rescindiu o contrato de todos. Criou mal-estar insuportável em outras divisões, deu imenso prejuízo financeiro e técnico ao Clube e reforçou grandes equipes de São Paulo e Rio.

Completando a “obra” contra a base, seja por cochilo administrativo ou inocência de noviça em convento, o presidente entregou para o Palmeiras o garoto Estevão, um geniosinho da bola, que nem a administração Wagner-Itair conseguiu perder.

4. Palavras, palavras, palavras – A mesma técnica que o fez ganhar as eleições para dirigir o Cruzeiro – palavras, palavras, palavras – o presidente tem utilizado para administrar. Na campanha eleitoral afirmou que estava ciente da gravíssima situação financeira do Clube (como eu e o Conselho Gestor fizemos absoluta questão de mostrar, previamente, aos candidatos, com balancetes e gráficos). Mas deixou claro que contava com o necessário apoio de investidores. Eleito, em seu primeiro contato com os jogadores e Comissão Técnica fez uma proclamação que foi uma “White Martins” de oxigênio para a Nação Azul: “cuidem dos problemas de dentro do campo. Aqui fora é comigo. ”

Narcisista ao extremo, continua se camuflando em novas palavras fáceis e bonitas, agora proferidas no exterior em “oportuníssimo” (!) curso na Espanha, enquanto o time despenca.

5. Impor o esoterismo no CD.  Pela “dobradinha administrativa” mantida com a Família União, no Conselho Deliberativo, as Assembleias se transformaram numa “live presidencial”. Aberta a reunião, a palavra fica com o Presidente para pincelar um Cruzeiro repleto de assessorias internacionais, compliance, perspectivas de investimentos, etc, etc, e etc. Quando, duas horas depois, encerra sua fala, dezenas de braços levantados de conselheiros pretendendo se pronunciar, o presidente do Conselho Deliberativo anuncia “o resultado da votação e o encerramento da reunião” (???). A maioria deixa o auditório sem saber o que foi votado e como foi votado. Parece piada. Infelizmente não é. O mais flagrante e abusivo exemplo desta “tática” foi a “aprovação” para venda da Campestre-2. A interpretação de norma do Estatuto ali imposta é de corar assembleia de mafiosos.

6. Sumiço da Sede – Não precisava chegar a tanto, mas o presidente está desmanchando até a identidade física do cruzeirense com a sede administrativa. Aquele imponente edifício na rua Timbiras transformou-se num símbolo do potencial celeste. Poderia estar sendo subutilizado (no meu período de presidência interina desocupamos dois andares e meio, para diminuir despesas de manutenção, além de desativar o elevador exclusivo). Pode e deve mesmo ser vendido, se em vantajosas condições. Inadmissível é o que foi feito: mudança a toque de caixa, como um despejo, sem informações convincentes; instalação em local “incerto e não sabido” dentro do “Boulevard Shopping”, mais uma vez sonegando informações básicas como valor da locação, preço, prazo, etc.

Com a penosa situação do time na Série B, atos como esses são potencializados atormentando ainda mais a alma cruzeirense. Será que nas amplas instalações da Toca-2 não haveria espaço para o funcionamento precário do administrativo, até a construção, ali mesmo, de uma nova sede?

7. Enganoso sentimento de autossuficiência. Acreditando-se mais capaz do que realmente é, o Presidente desprezou a colaboração do Conselho Gestor, fechou portas a cruzeirenses ilustres. Assumindo a chefia do Maior Clube Brasileiro fora do eixo Rio-São Paulo, ao invés de acenar a bandeira branca da pacificação, reacendeu rancores, rusgas, idiossincrasias abdicando de apoios que poderiam tornar menos difícil a reconstrução. Continua apostando em ódio e “panelinhas”. Uma pena.

Caetano Veloso já avisava: “Narciso acha feio tudo que não é espelho”.

BATE PAPO NO QUINTAL

1. Guarani 1 x1 Cruzeiro. Os mesmos erros de passes, a mesma opção de falta na disputa de bola e a irritante preferência pra retardar a jogada. A qualidade técnica é precária o que, no geral, fulmina o conjunto. Além de tudo isto, o pão continua caindo com a manteiga pra baixo: duas bolas no travessão, uma no último minuto do jogo. Nota estimulante foi a estreia de Vitor Leque, que vem do Sub-20.  Impetuoso, participativo. “Não tem medo o jogo”, segundo Luxemburgo. Descontando a tensão da primeira vez, mostrou que vai ajudar muito. Difícil de engolir é Ariel Cabral entrar aos 36 do segundo tempo.

2. Jorge, Manuel Panhame, João de Deus Filho, Teobaldo, Atleticano, Marcilio Vaz e Romulo – sete dos mais qualificados condôminos da barraca atleticana neste QUINTAL:  de modo geral, vocês desenvolvem aqui comentários bem redigidos, criativos, cuja tônica é tripudiar sobre o drama azul. Temos de suportar calados porque por dezenas de anos fizemos exatamente o mesmo. Sem dó nem piedade. Desta vez, porém, aconteceu fato inusitado. Em razão de compromissos sociais, somente ontem tive acesso a este BATE PAPO para responder às questões colocadas. Ou seja, vocês escreveram um ou dois dias antes do Atlético x Palmeiras, em disputa da semifinal da Libertadores. Confiança transbordante. O Atlético venceu antes de entrar em campo. A massa atleticana respirava arrogância, detectável em cada linha dos comentários que eu iria responder DEPOIS do jogo.  Esta é a sensação estranha: ler esperança e entender frustração. Imagino a interminável noite de insônia dos ilustres condôminos. O que estariam dizendo os adeptos de São Hulk e São Nacho? E a premonição de Mãe Dinah sobre Cavalo Paraguaio e Flanelinha?

3. Rei Melo – temos mais convergência que divergência, como já disse. Impossível negar a limitação técnica de boa parte de nosso plantel. Mas é o que temos. Creio que algumas de suas críticas mais pontuais encontram ressonância na coluna de hoje sobre os pecados capitais do presidente. E o jogo de ontem mostrou mais uma vez nossa precariedade técnica. Situação mais que triste.

4. Carlos, concordo integralmente com você. Tanto no que se refere às deficiências do time quanto à falta de condições básicas para a restauração, em especial salários em dia. Continuamos confiando em Pedro Lourenço.

5. Lucio Carlos – dói reconhecer, mas de fato Ariel e Sóbis já estão com validade vencida.  Quando entram em campo a qualidade do time cai visivelmente.

6. Luiz Antônio Lopes Barcelos – tomara que Luxemburgo leia seu comentário.  Precisamos com urgência de jogadas ensaiadas; aprender e executar o ‘um-dois”, mostrar, enfim, um conjunto que faça a diferença entre time de futebol e pelada de condomínio.  Tudo isto, apesar de nossas evidentes limitações técnicas. Outros clubes conseguem.

7. Libertadores – O Atlético saiu virgem. Nenhum gol sofrido em seu campo, até a partida com o Palmeiras. Estava invicto desde que Aarão Reis entregou a planta de construção de Belo Horizonte.

A madrugada de ontem, embora silenciosa, foi de inusitado congestionamento do site da CVC, com pedidos, não atendidos, de devolução de passagens a Montevideo.

8. Felipe Melo quer bicho extra de 60 mil porque anulou Hulk que recebe 55 mil por dia. Você pagaria?