TEMPOS DE FEIRA

O nervoso mercado aberto para contratações de jogadores e técnicos, com ofertas absurdas, sonhos irreais, gatos pintados de lebre, lembra-me as antigas feiras livres, nos bairros. Meu melhor amigo do time infantil, Lutito, era filho de antigo feirante, seu Lucio, pai de outros quatro filhos. Gostava de frequentar aquela casa simples como a minha, mas cheia aos olhos de um filho único, como eu. Cada dia a feira era em um bairro, carecendo de preparação própria. Zona sul tinha escolha rigorosa de laranjas, bananas, mexericas, mamões. E tabuletas de preços inflacionadas. Segundo o seu Lucio, era também a chance de desencalhar laranjas de boa aparência e baixa qualidade. Misturadas, nem eram percebidas. Madame nem olha preço. Tá bonita, compra! Vejo hoje que eram puras lições de sociologia de mercado.

Basicamente, há diferença com jogadores no lugar de frutas? Claro que não. A maquiagem hoje é feita por vídeos e fakes em grupos sociais. Com o lamentável esquema de manipulação via Internet, criam-se deuses ou criminosos em 48 horas. Com mais facilidade e charme, no mercado afoito transformam-se pernas de pau em craques, do dia para a noite.

Daí o cuidado que se exige para a travessia deste pântano. A torcida ansiosa pra comparecer ao aeroporto e aplaudir um salvador da pátria, mas nestes tempos, a pressa nunca foi tão inimiga da perfeição. Marolas viram tornados. E vice-versa.

Calma, amigos cruzeirenses. Felizmente, hoje, no comando destas negociações, não há principiantes, nem curiosos, nem prestigitadores, nem narcisos.

BATE PAPO NO QUINTAL

1. Fabio faz acordo – Não tive acesso a detalhes, mas só a confirmação de que houve entendimento entre as partes pra encerrar as demandas judiciais, é uma grande notícia. Não tinha sentido, um atleta com o perfil de Fabio e sua rica trajetória no Cruzeiro manter disputa judicial com o Clube. Fabio é Cruzeiro. O Cruzeiro é Fabio.

2. CUCA – deixa o Atlético. Excluindo-se o negativo aproveitamento técnico, ou até por causa dele, sai maior do que entrou. Alcançou a maturidade psicológica que diferencia comandantes. Impressionantes o domínio em situações de pânico, o tom suave de voz substituindo a aspereza habitualmente liberada em situações análogas.

Nesta sua última vinda ao Atlético, este QUINTAL tentou avisa-lo recordando milenar lição dos sábios: nunca volte ao lugar onde você foi muito feliz. Jamais será igual. Acontece que Cuca havia rompido esta regra uma vez, e foi mais feliz ainda. Seria uma temeridade maior, voltar a terceira vez, alertamos. O risco ficou dobrado.

No futebol, não deu certo. Mas o homem Cuca cresceu. Com domínio emocional, quando a maioria chuta o pau da barraca, soube administrar a fogueira das vaidades, baixando o fogo de Hulk, Nacho, Vargas e outros ex “intocáveis”. Deixa lições muito além do esporte.

3. Gustavo Bianchetti aponta incrível paradoxo – “O blog é cruzeirense… mas o assunto é o Atlético!” e lança um desafio:

“Tente explicar isso para o Dalai. Tente convencê-lo a escrever uma mísera coluna sem citar o Atlético! Venho aqui desde 2019, confesso. Mas nossas visitas aqui eram mais por se tratar de uma coluna de comedia…”

Meu caro Gustavo, você tem razão. Falamos muito do Atlético neste QUINTAL porque a extrema rivalidade regional atrela umbilicalmente um ao outro. A derrota do adversário traz alegria quase equivalente à vitória nossa. A sorte de um time interessa ao outro, para o bem ou para o mal. Com maior intensidade estamos fazendo nesses últimos três anos o que vocês fizeram, com poucas interrupções, durante meio século.  Desculpe-me, mas vocês não tinham vida própria e por isso a torcida, a vibração era toda direcionada para o eventual adversário do Cruzeiro:  no Brasil, Flamengo, Grêmio, Corinthians, Inter, Santos, lembra?  Nas Américas, o River Plate, Estudiantes, Independiente, Boca Juniors.  Na Europa, Borussia, Bayern. Muitos desses com direito a bandeiras nas arquibancadas, nos clássicos entre Cruzeiro x Atlético. E atleticanos não se envergonhando de usar a camisa deles!

4. Cerveja em Catar – Consolo pra quem não pôde ir à Copa: calor infernal mas cerveja liberada só em raríssimos lugares. Quando você encontra, o preço abafa a vontade: 73 reais, o copo de 500ml. As uvas estão verdes?

5. Eduardo Silva enfoca a tradicional dança das cadeiras, nesta época, com clubes a procura de treinadores e vice-versa. Lembra que além do Atlético, também Corinthians, Botafogo e Santos estão sem treinadores o que derrama adrenalina no mercado. Os prudentes reforçam a porta do bom senso, pra loucura não entrar. Por exemplo, Gallardo teria pedido 5 milhões pra assumir o Atlético…

6. João de Deus Filho reaparece com um sábio lembrete:

“Lembrando que não somos inimigos, apenas adversários.”

Mas depois, ele sim, viaja na maionese, e arrisca um vaticínio sem perceber que seu anjo da guarda foi ver se estava chovendo lá fora:

“… acho que o torcedor azul nunca mais irá comemorar um título de real expressão no futebol.”

Fala sério, João, isto é coisa de Guru da Racionalidade?

7. Jorge – quer abandonar este QUINTAL. Sua mensagem obriga a reflexão. De fato, a graça sem graça, fácil, tôsca e primaria de escrever sob pseudônimo, ou usurpando nomes de terceiros, com palavrões e termos chulos, agride tanto o bom senso quanto o bom gosto. Até o nosso historiador Panhame está assustado. Lamentável a ausência de desconfiômetro em alguns.

EXPECTATIVAS E REALIDADES ATLETICANAS

6. Expectativa – “Vamos passar de fase na Copa do Brasil!

Realidade – Eliminados pelo Afogados da Ingazeira.

GARIMPO

“Suba o primeiro degrau com fé. Não é necessário que você veja toda a escada. Apenas dê o primeiro passo.”

(Martin Luther King)