O MAIOR DE MINAS

O cochilo de um estagiário da Adidas reascendeu polêmica antiga em terras mineiras: qual é o maior de Minas? Argumentos fortes de um lado e do outro. Atleticanos, maioria absoluta até a década de 60, têm na sucessão de títulos de campeão mineiro a sua maior carta. Cruzeirenses, revigorados na longa e profícua administração Felício Brandi – 1961 a 1982 – se fortalecem abrindo a sua sala de troféus, destaque para o hexacampeonato da Copa do Brasil, o tetra brasileiro e o bi da Libertadores. Durante mais de meio século, com exceções pontuais, o brilho nacional ou internacional em Minas foi apenas azul porque o Atlético, após o título de 70 hibernou enquanto o rival se projetou como o melhor clube brasileiro fora do eixo Rio-São Paulo. Tornou-se “La Bestia”, nas Américas. Os atleticanos acompanhavam da poltrona da sala a trajetória celeste (como fazemos hoje) sempre adotando camisas de nossos adversários e comprando quando nos tiravam títulos (como nunca fizemos). Estão fincadas na memória coletiva as placas no meio da torcida do Atlético, em nossos jogos: “Obrigado, Borussia”; “Obrigado, Bayern”. O que isto representa? A convicção íntima do torcedor de que precisava de um reforço externo pra sobreviver à supremacia cruzeirense. Time por time, pau a pau, era impossível.

Após a goleada de 6 x 1, em 2011, dia que o então presidente Kalil considera o mais triste de sua vida, um ferido Atlético iniciou já no ano seguinte com a contratação de Ronaldinho Gaúcho, a arrancada que o elevou a um dos cinco melhores clubes do Brasil, o que prevalece até hoje. Tragicamente, pela conhecida sucessão de desgraças, o Cruzeiro transformava-se numa nau sem rumo. O atleticano tornou-se duplamente premiado: vê o seu time ganhando títulos nacionais e internacionais, enquanto o Cruzeiro amargou por três anos seguidos a Série B, procurando agora, como Fênix, ressurgir do rescaldo.

Nos Estados Unidos, como já lembramos aqui certa vez, uma pesquisa perguntou aos americanos: Você prefere ganhar na loteria ou ver a casa de seu vizinho, muito melhor que a sua, pegar fogo? Venceu o incêndio. O atleticano, nestes últimos três anos, ganhou a Megasena e vê o Cruzeiro no abismo.

Mas, sobre o que mesmo estávamos conversando? Ah, sim, qual é o Maior de Minas?

BATE PAPO NO QUINTAL

1. Galo Doido New York, inspirado e maldoso, faz retrospecto das agruras cruzeirenses nesses últimos três anos.  Usando a primeira pessoa, como se fosse um dos nossos, “lamenta”:

“Todas as zoeiras e gozações que eu fazia com meus amigos, viraram as deles contra mim e agora são eles que me zoam, muito, mas muito mesmo…”

Meu caro e brilhante filho da Grande Bom Despacho, olha o ato falho aí! “Todas as zoeiras e gozações que eu fazia…” Sabe quanto durou isto? Meio século, com interrupções pontuais! Dezenas e dezenas de anos, a gente cantando na arquibancada aquele refrão dolorido pra vocês – “Não ganha nada, time sofredor…”

Uma conjugação excepcional de fenômenos – tsunami interno primeiro e pandemia depois – arrasou o Cruzeiro, caímos para a B, foi difícil sair. Está difícil até agora. Muito justamente, o atleticano aproveitou a vaca atolada no brejo e abriu a temporada de gozações, como você descreve muito bem. Já descontaram pelo menos uns dez por cento…

2. Juliano Damien – tal como o blogueiro, torcendo pra que Pepa encontre posições certas pra peças que, infelizmente, são meio incertas. Mas aí está o mérito dos grandes treinadores: repaginar o jogador, fazendo o regular ficar bom, e o bom melhor ainda. Discordamos, porém, quanto a Nikão.  Juliano acha que ele “é muito mais conduzir pra finalizar que receber e passar”.  Eu creio que ele tem potencial pra atuar no meio construindo jogadas de ataque, autêntico meia de ligação, e só não desenvolveu mais esta qualidade porque o desentrosamento do time, nos últimos meses, era lamentável. 

3. Jorge –Em decisões mundiais de ginástica artística, Daiane dos Santos lançou o duplo twist carpado, um incrível salto mortal duplo que, só de olhar, nos compromete as articulações, tamanho é o contorcionismo. Inspirado nesse milagre corporal, Jorge se impôs um desafio:  provar que não houve Mão Grande favorecendo o Atlético, na semifinal do Mineiro. Nas mãos de Jorge o vernáculo é um cordeirinho manso, mas cheio de vida. Só que ele precisava de mais e assim, de marreta e bigorna, passou a retorcer palavras e fatos, dando-lhes outra conformação e sentido. Li, reli o texto e cada vez mais vinha à cabeça o “duplo twist carpado” de Daiane. Que ginástica literária! Que esforço mental! Impossível não imaginar o que escreveriam atleticanos como Jorge, Teobaldo, Panhame, Augusto, Galo Doido, João de Deus e outros acadêmicos, se fosse Hulk a vítima daquele cruzado na área adversária e nas mesmas circunstâncias de placar…

4. João de Deus Filho, com méritos, alcançou o título de Guru da Racionalidade pela isenção na análise dos jogos e clubes. Um show.  Era o início deste QUINTAL e também das obras de terraplenagem da Arena atleticana no bairro Califórnia. Após lauto almoço, a sesta em cadeira de balanço, João fechava os olhos e abria a imaginação. Vislumbrava a Arena concluída, sucesso nacional, noticia no New York Times.  Mas problemas começaram a surgir e a Arena parece ter encolhido ante o absurdo serviço da dívida. Jogadores comprados por 20 são vendidos por 10 milhões. O fantasioso Diamond Mall cedido em pedaços que, somados, ultrapassam em muito o 100%, mas o Clube conserva ainda fatia superior a 30%. Milagre atleticano, com a ajuda da inteligência artificial, algoritmos e a câmara de vácuo da Nasa.

Nesta fase tempestuosa, a cadeira de balanço, por si, não consegue reencontrar o sono e os sonhos do nosso Guru. Aí entra o reforço de dosagem civilizada do Chá de Santo Daime. João sorve lentamente o ópio do bem, fecha os olhos, revê Alice. Pela suave mão da garota, entra no País das Maravilhas e começa a psicografar:

“… sou obrigado a concordar que o Atlético tem a maior dívida do futebol brasileiro e aumenta dia após dia. Porém o Clube tem patrimônio e em último caso pode vender o estádio, que vale 1 bilhão atualmente…”

“Ainda tem 24,9% (?) do Shopping pra vender o que vai render 170 milhões …”

“Tem os 4Rs que seguram as pontas quando o bicho pega”

“Tem uma SAF engatilhada… Como disse o Menin, 2023 é o ano de mudanças no Atlético… quando o repórter perguntou se ele acreditava que o estádio renderia 100 milhões anuais ao Atlético, ele disse que a expectativa é maior, que surpresas que ele ainda não pode contar virão em breve…”

Nas nuvens, anjos entoavam “Aleluia”.

5. Jamicel lança proposta inovadora:

“Se há oportunidade para outros escreverem, que tal um seguidor fiel da coluna ter oportunidade de enviar um texto para que você o selecione entre três melhores e publique como valorização do público?”

Ótima ideia, Jamicel.  Vou consultar os universitários. Lembro-lhe, porém, que de certa forma membros da ALEQUIN – Academia de Letras do QUINTAL – já vêm se manifestando neste minifúndio com alentados e excelentes textos como vemos na última edição, muitos deles desenvolvendo análises até mais profundas e sedutoras que as da própria coluna.

6. Manuel Panhame, em voo livre ao passado, projetou fascinante duelo de craques, de Cruzeiro e Atlético, chegando aos insuperáveis Tostão e Reinaldo. Coisa pra ler e reler. Destaque para a revelação de que Fantoni, o eterno astro azul, tinha estilo de Tostão somado a Dirceu Lopes. Seria possível? Tostão fez tabelinha campeã mundial com Pelé. E este dizia que Dirceu Lopes era o melhor jogador que já viu jogar.

GARIMPO

“A mente que se abre a uma grande ideia jamais volta ao tamanho original”.

– Albert Einstein

(Colaboração de Beatriz Maranhão)