CARTA ABERTA AO PRESIDENTE

Desculpe-me, mas a calamitosa situação em que está o Cruzeiro exige franqueza:

Em longa entrevista, quinta-feira, com a conhecida facilidade de se expressar, o senhor mais uma vez falou muito e não disse nada que a Nação Azul queria ouvir. De louvar-se, apenas o reconhecimento da crescente rejeição ao seu nome. Já é um progresso, ante a postura anterior de prepotência, autossuficiência e não precisar de nada, enquanto tudo piora.

Quando de seu primeiro mandato eletivo, aplaudi a coragem de bater no peito e dizer aos jogadores: “Façam o seu trabalho dentro do campo. Aqui fora, cuido eu. ”

Passei a defender a tese de que todas as fichas de esperança deveriam ser jogadas na sua administração. Me inscrevi e incentivei que outros se inscrevessem no Sócio Diamante. Os interesses do Cruzeiro deveriam superar tudo, inclusive atos nebulosos no relacionamento com o Conselho Gestor, isto era e é pequeno ante a tarefa de soerguer este Gigante caído.

Veio o seu segundo mandato eletivo e, infelizmente, nosso barco continua à deriva. Um ano e meio beirando a zona de rebaixamento da Série B. O senhor se limita a projetar, para a torcida agoniada, a presença de assessorias internacionais em sua administração. A imagem que me vem, sempre, nestas oportunidades, é a de um paciente ferido gravemente por uma espada no peito, sangrando, sendo assistido por um nutricionista que lhe prescreve cardápio com restrição para carboidratos.

Nesta hora difícil do Cruzeiro, indo pessimamente pela segunda vez na Série B, o senhor batendo absurdos índices de rejeição, sabe o que é urgente?

Vou dizer:

PRIMEIRO:  Considerando-se que o senhor está em seu segundo mandato e que o Estatuto proíbe o terceiro, sucessivo, faça um comunicado informando que abandonará o casuísmo que tentou no malfadado projeto de reforma estatutária. Por ele, o senhor pretendia que o seu primeiro mandato, por ser tampão, não fosse considerado como impeditivo para a sua “reeleição” em 2023. Com este esclarecimento, tenho certeza, o senhor trará de volta milhões de corações azuis a bater pelo Clube, sem o receio de que vitórias sejam interpretadas como incentivo a um matreiro terceiro mandato.

Em sua última entrevista, o senhor disse que espera estar à frente do Cruzeiro PELO MENOS até 2023. Isto sugere possibilidade de tentar novo casuísmo, pra ficar até 2026. Não faça isto, por favor.  Manifeste-se de modo claro, induvidoso, de que, conforme dispõe o Estatuto, está ciente e de acordo que sua permanência à frente do Cruzeiro irá NO MÁXIMO até 2023, caso não haja elevada composição com grupo de salvadores da Pátria, antecipando a sua saída altruística.

SEGUNDO: Afastado o temor do continuísmo, abra-se à ajuda de quem sabe e pode. Deixe as rusguinhas de lado e convoque os vários grupos que se organizam agora em torno de propostas sérias, factíveis, visando arrecadar recursos a curto prazo, para que o Cruzeiro saia da UTI. Aplaque a vaidade, coloque o ego pra escanteio e sente-se com eles em uma ampla mesa redonda. Ouça mais e fale menos. Desarme-se de seus preconceitos.

TERCEIRO: Limpe o Clube dos bandidos. Ninguém consegue mexer com carvão sem sujar as mãos.

QUARTO: Cumpra, finalmente, a norma impositiva de nosso Estatuto e afaste os Conselheiros remunerados, sem exceção, doa a quem doer;

QUINTO: Promova debates amplos e esclarecedores antes desta apressada Assembleia Extraordinária convocada inicialmente para o próximo dia 26 e agora remarcada para 2 de agosto para aprovação do projeto de Clube Empresa. O tema é grave e complexo demais pra ser enfiado goela abaixo dos conselheiros.

SEXTO: Apresente uma prestação de contas clara, objetiva, sobre a situação da sede da rua Timbiras e da nova, instalada no Boulevard Shopping. Quais os custos de uma e outra?

SETIMO: Apresse o Jurídico para promover logo o Condomínio de Credores na Justiça do Trabalho. Não podemos aguardar mais.

OITAVO: Para sacramentar a nova fase propositiva, admita seus erros e/ou enganos, que não foram poucos. Especialmente, faça mea-culpa quanto aos atletas de divisões de base que perdemos porque seus passes pertencem a agentes “não amigos”. Penitencie-se por Deivid. O interesse do Cruzeiro tem de prevalecer.

Presidente faça isto depressa por favor. Com coragem pra desagradar grupos de “tapinhas nas costas” e apoiadores ficha-suja. Sem meias palavras. Surpreenda-nos, mostrando sociabilidade, e se surpreenderá com um batalhão de gente boa que quer ajudar o Cruzeiro a se levantar. Só espera um sinal animador.

BATE PAPO NO QUINTAL

1. Botafogo 3 x Cruzeiro 3 – Inesperadamente, a tarde de sábado reacendeu emoções azuis. Um joguinho morno começou a esquentar de repente até o inacreditável 2 a 3. A cinco minutos do final, passamos a olhar mais o relógio do que a partida. A quanto tempo a gente não sentia isto! No fim, outra vez perdemos para o emocional. É doloroso o contraste entre a alegria explosiva dos nossos jogadores, quando fizemos 1 x1; 2 x 2 e 2 x 3, (o que confirma o alto comprometimento de todos eles, mesmo com os salários em atraso) e os estragos provocados pelo estado psicológico do time.  Saldo: dois pênaltis bobos e nosso técnico expulso por causa de um lateral. O primeiro pênalti cometido infantilmente por Leo Santos aos 7 minutos do primeiro tempo (!!!). Você jamais viu um pacote de horrores deste em times medianamente estruturados. É a materialização da nossa “cabeça”. Nervos à flor da pele. Falta de comando em campo e principalmente fora dele. Os jogadores são os menos culpados. Colocam o coração na chuteira, mas o emocional entra também pelo bolso. Ainda mais quando o barco continua à deriva, sem porto à vista.

2. juliano damien pinta um retrato objeto, real, de nosso time hoje. Elenco “hiper mega inflado (com 40 jogadores, quando se poderia limitar a uns 28/30, com mais 4,6 ou 8 da base) ”. Um técnico ainda inexperiente, que não consegue armar um conjunto pelo menos razoável, com um meio de campo que faça a imprescindível transposição entre defesa e ataque. Ao mesmo tempo, novas ações judiciais, agora Riascos, somados a Lucas e Robinho, “além da divergência com Felipe Conceição”. Juliano, excluindo-se essa malconduzida saída do técnico, tudo o mais são erros de administrações passadas, com contratos inacreditáveis sempre em prejuízo do Cruzeiro. Mas é óbvio: quem se oferece pra conduzir o Clube sabe que assumirá não só os bônus. A destacar-se, como você registra, “as boas contratações de Leo Santos, Norberto e Jean Victor. ” Assino embaixo, embora Leo Santos tenha pisado feio na bola, cometendo aquele pênalti infantil, contra o Botafogo, aos 7 minutos do primeiro tempo!

3. Carlos quer detalhes sobre a intenção dos empresários que, a princípio, mostram-se interessados em ajudar o Cruzeiro.

Meu caro Carlos, por enquanto são contatos preliminares. As condicionantes são tantas que seria temerário para qualquer deles firmar um compromisso ou até mesmo revelar promessas. O assunto é melindroso e passa pelo tema da coluna de hoje.

4. Rei Melo, revoltado com a situação, pergunta: “Quem contratou esse tal de Mozart”?

Tenha certeza de que o seu inconformismo é o mesmo de 9 milhões de cruzeirenses. Esse sofrimento inimaginável a cada jogo com times mil vezes abaixo do Cruzeiro na escala nacional, é também o de toda a Nação Azul.

Somos hoje o produto final de graves erros passados e dentre os responsáveis também me incluo, por omissão. Mas quanto aos treinadores, saiba que ninguém tem culpa. Tanto Mozart quanto seus antecessores, foram apostas que, nas circunstâncias, eram opções válidas. Cheguei a pedir, neste QUINTAL, a contratação de Felipe Conceição. Aplaudi as escolhas de Adilson Batista, Ney Franco, Enderson Moreira e Felipão.

Não deram certo. Mas era pra dar. Apesar de tudo, vamos confiar ainda! Não é possível que nada dê certo!!!

5. João de Deus Filho, nosso guru da racionalidade, imaginem, logo ele, chega ao Everest da gozação e pede, sabem o que? Que não morra nenhum parente ou amigo, porque não saberia explicar, num velório, “esse sorriso que não sai do meu rosto???”.

Meu caro João de Deus, volto a repetir: depois de sofrerem por quase meio século o mais cruel e impiedoso bullyng cruzeirense vocês têm todo direito ao revide. Estão como pinto no lixo e fazem muito bem.

Dos 30/40 anos de “não ganha nada, time sofredor…” vocês já descontaram 2 anos. Aproveitem porque não vão durar muito nem o “reino do faz de conta” em construção no bairro Califórnia, nem os desmandos no Cruzeiro.

6. Zero, curto, grosso e corajoso encosta bisturi no nervo de dente exposto dos atleticanos: Quem tem menos de 50 anos nunca viu o time ganhar um brasileiro; Quem tem 120 anos nunca viu o time ser bi de qualquer coisa que não seja campeonato mineiro.

E dá uma estocada final, observando que o único motivo deste carnaval atleticano não são as glorias de seu time e sim as “desgraças do Cruzeiro”.

Desculpem-me, mas sempre foi assim: alegria de atleticano é festejar time que tira título do Cruzeiro.

7. Jorge, retardando, não sei porque, sua ida para o grupo do Porta dos Fundos, deita e rola, sem piedade, ante o monte de piada pronta que vem brotando em nosso calvário. Acho que eu faria o mesmo, com os papéis (higiênicos….) trocados.

8. Galo Doido New York, certamente que se valendo de suas relações com o Pentágono, fez funda pesquisa do IFFHS para investigar o título de Melhor Clube Brasileiro do Século 20, ostentado pelo Cruzeiro. Foram tantos os dados levantados que não posso apenas nega-los. Pedi parecer do IHGQ – Instituto Histórico e Geográfico do Quintal. Aguarde.

9. Sem Paciência, voltando a chutar cachorro momentaneamente desacordado, arrasta para um lado, joga para o outro, sem dó nem piedade, ao mesmo tempo em que festeja nova vitória do Melhor Clube de Vespasiano. Meu caro amigo, como já disse linhas acima, vocês têm todo direito ao revide, pelo tanto que sofreram em nossas mãos. A roda gira… e dá tantas voltas que, de uma hora pra outra, a situação muda. Pode até demorar um pouquinho. Mas muda.