NOVO CRUZEIRO: CHUVA MELOU O TESTE

Foi uma pena, aquela chuvarada no Estádio Rei Pelé, prejudicando as duas equipes. Mesmo em condições absolutamente desfavoráveis, o Cruzeiro confirmou sua ascensão técnica, em especial quanto a postura da defesa e do meio de campo. O zagueiro Brock foi eleito o melhor em campo, pela Itatiaia. Enfrentamos o ataque mais positivo da Série B e o adversário teve apenas duas chances de gol. Isto é consequência de conjunto, entrosamento, treinos. Enfim um time, embora ainda em formação, como estamos pedindo há quase dois anos. No primeiro turno perdemos de 4×3, no Mineirão. Em jogos anteriores, contra CRB e CSA, em BH ou Alagoas, nos transformamos em caixa de pancada, colocando nas manchetes o nome do atacante Leo Gamalho.

Muito diferente o jogo de ontem. Comentaristas, em sua maioria, pontuam que se não fosse a chuva o Cruzeiro possivelmente seria vencedor, pelo futebol que vinha apresentando. Luxemburgo, pós jogo, elogiou especialmente Adriano e Marco Antônio. Há quanto tempo a gente não ouvia isto?

Ficou assim adiado o teste do novo Cruzeiro, mas o pouco que foi possível mostrar torna otimista a Nação Azul.

BATE PAPO NO QUINTAL

1. Teobaldo, ainda com enfoque no Clube-Empresa, expõe dúvidas que não são apenas suas, por certo. O tema vai merecer amplo debate, oportunidade para que pontos ainda obscuros sejam esclarecidos. O nó górdio continua sendo o passivo. A engenharia sociológica-financeira consistirá em não prejudicar os credores e não inviabilizar a reconstrução do Clube.

2. Bruno Araújo de Carvalho classifica de “péssima” a notícia da possível reintegração do atacante Sassá. Porém, sabiamente, deixa uma saída: “se voltar, tomara que queime a minha língua…” Meu caro Bruno, tudo pode acontecer, inclusive nada. O futebol vive nos surpreendendo quanto às expectativas com jogadores e treinadores. Craques ansiosamente esperados se transformam em foguetes queimados. E vice-versa. Jogador fracassa em um clube e vira herói em outro. Lembro-me quando Sassá chegou ao Cruzeiro. Na véspera fomos à Toca l conhecer novos aparelhos de fisio, e bati um papo com o Careca, aquele atacante alto, moreno, e que nos deu muita alegria. Estava entusiasmado com a vinda de Sassá para o Cruzeiro. Na sua visão, ele se transformaria em uma das melhores contratações nos últimos anos. Poderia, de fato, ter ocorrido. Mas não aconteceu. Quem pode dizer que agora não daria certo?

Enderson Moreira, infelizmente, deixou o Cruzeiro pior do que encontrou. Pegou o Botafogo lá embaixo. Sexta-feira quebrou a invencibilidade do líder Náutico em seu campo. Em 9 jogos tem 7 vitórias, com 81% de aproveitamento, à beira do G-4.

Quem entende futebol?

3. Bernardo quer saber se vou comentar o “público decepcionante” de Cruzeiro x Confiança: poderíamos ter 17 mil e não chegamos a 6 mil. “onde estão os 9 milhões de torcedores, na hora em que o time mais precisa de ajuda? (financeira e motivacional). ”

Meu caro Bernardo, parece-me que são muitas causas, uma delas o erro na aplicação do teste da COVD. Mas, a meu ver, a principal foi a condenação nacional da aglomeração de torcedores na partida de véspera, do Atlético. O risco de contágio foi muito divulgado, com eloquente censura dos infectologistas.

4. Bernardo/2, apoiando a absurda tese de alguns cardeais atleticanos de cassação moral dos títulos do Cruzeiro, pergunta:

“…você seria contra, por exemplo, um deputado que tenha desviado dinheiro público seja obrigado a devolver os bens (os títulos) adquiridos com este dinheiro? Mesmo que ele tenha caído em desgraça, não tenha sido reeleito, não tenha novo emprego, exatamente por causa da má atuação dele como deputado? ”

Bernardo, no caso do deputado, que se locupletou com dinheiro público desviado, deve devolver, sim, os bens que tenha adquirido com esses recursos. Acho que esta é a opinião de 100% dos brasileiros.

Desculpe-me, mas coisa bem diferente são os títulos conquistados pelo Cruzeiro, em campo, disputa honesta, franca, sem VAR e sem cortarmos a luz do estádio. Fora do campo, credores que não receberam o devido entram na Justiça e vão sendo pagos. Ao mesmo tempo, Policia, Ministério Público e Justiça agem contra a quadrilha que arrasou nossos cofres. As maiores vítimas são o próprio Cruzeiro e sua torcida, amargando por dois anos a Série B. Tudo isto com a trágica coincidência da pandemia, triplicando nossas dificuldades na reconstrução.

E você quer nos castigar ainda mais?

5. Jorge, sociólogo, pesquisador de velórios, quem diria, faz sedutora defesa da tese “causa mortis pilantribus angelicus” pela qual a combinação corpo-caixão age como detergente purificando a ficha do defunto. Naquele ambiente de luto, silêncio e lágrimas, Cão Chupando Manga vira apenas um cidadão desatento; espancador, morto, era só temperamental. Jorge antevê que, desaparecido o Cruzeiro, esse fenômeno social apagará nos torcedores a memória de falcatruas, permanecendo só os títulos imortais. Obrigado, Jorge, pela sua solidariedade. Com a mesma fé que reconhecemos uma nota de 3 reais, agradecemos suas condolências. E me permito sugerir: guarde essa tese. Com as voltas que o mundo dá, talvez ela seja útil pra outros times…

Depois, focando o jogo pelo Brasileiro, dá estocada no blogueiro:

“Fico pensando na cara de decepção do Dalai quando o Galo empatou o jogo contra o Fluminense. A coluna já estava pronta na sua cabeça!!!”

Foi isto mesmo. Gustavo Rocha, meu filho atleticano, veio assistir ao jogo na “Arena Piauí”, onde moro. Como é difícil ficar a seu lado em jogo do Atlético (Não tem a mínima isenção. 80% das jogadas na área adversária ele grita que são pênaltis cabeludos não marcados…) continuei no escritório jogando xadrez, mas com o ouvido em pé. Gol do Fluminense. Silêncio sepulcral na sala… e no escritório (sou besta de falar alguma coisa?). No intervalo ele chega, me dá um abraço e diz que vai embora “porque aqui não tá dando certo não…” Como faço em jogo que o Cruzeiro está ganhando, não saio do lugar em que estou. Continuei só ouvindo a TV e as ruas. Nenhuma gritaria. Perdi a partida de xadrez, óbvio. Nada do jogo acabar. Pelos meus cálculos, o tempo normal ultrapassava meia hora… De repente, o som lá fora que eu não queria escutar…

6. Atleticano abre o leque de argumentos anti-Cruzeiro e anti-blogueiro, depois vai de bisturi no nervo de dente exposto:

 “Agora aguardo recorte, que lhe convenha, desse texto, para emitir sua resposta. É sempre assim. ”

Só pra te deixar com cara de pudim amassado, vou responder tudo:

Rubens Menin e sua frase significativa sobre o Cruzeiro – Não achei, ao contrário do que você diz, uma confissão de inferioridade. É a declaração de um homem experiente, ponderado, conhecedor da vida. Ele sabe que a roda gira:

Empate do Atlético com o Fluminense, no Rio, pelo Brasileiro – Não disse que foi uma tragédia. Mas vi, sim, rastros de cavalo paraguaio. O histórico do seu time autoriza estes vaticínios. Lembra da flanelinha?

Vibração dos atleticanos com o Cruzeiro perto da zona de rebaixamento – Falei mentira? A gente sentiu a mesma coisa, dezenas e dezenas de anos. Como bônus por tão prolongado sofrimento, vocês ganharam dose dupla de satisfação: nos pegam dois anos seguidos na Série B e em plena pandemia. Além da queda, coice. Ou seja, o paraíso, pra vocês.

Isto é tão impregnado no nosso DNA que pretendo lançar uma pesquisa neste QUINTAL: Numa mesma rodada, ainda que agora em séries diferentes, jogam Cruzeiro e Atlético, cada qual com seu adversário. De 1 a 5, qual o grau de sua satisfação na vitória de seu time e na derrota do rival?

7. Galo Doido New York, ainda sem medicação, cochila num banco do Central Park e sonha: vê Benecy impedido de revelar ‘que juízes comprou em nome do Cruzeiro”; empresários fazendo fila na Penitenciária Nelson Hungria, para contatos com diretores do Cruzeiro. Enfim, cenário de fim do mundo pra Nação Azul.

Mas Freud nos salva. O notável neurologista austríaco, criador da psicanálise, notabilizou-se pela exploração do nosso subconsciente. Revelou que “lembranças traumáticas, por exemplo, ficam bloqueadas na memória de um indivíduo, mas continuam ativas sem sabermos e podem reaparecer em certas circunstâncias”.

No caso do paciente Galo Doido, desde a infância nos verdes campos de Dores do Indaiá, “lembranças traumáticas” podem estar associadas às “nossas páginas heroicas, imortais”. E se materializam na camisa azul, constelação em branco, apontada geralmente como a mais bonita do mundo.

No subconsciente de Galo Doido esta camisa, massacrando adversários e colecionando títulos marcou certamente sua infância e adolescência como um símbolo de horror.

Por isto, em seu comentário sobre outros temas, ele, subconscientemente, sem qualquer razão “consciente” proclama, numa frase solta, sem contexto, que temos:

“… a camisa azul mais horrorosa do planeta”.

Obrigado, Sigmund Freud.

8. João de Deus Filho, renunciando ao título de “guru da racionalidade”, atende telefonema de Alice, conclui seu passaporte e se transfere para o País das Maravilhas… Primeira iniciativa: extinguir a coluna de débito na contabilidade do Atlético. Disso resultou, de cara, aumento patrimonial de um bilhão, ainda neste ano. E o compromisso de dobrar os investimentos em 2022. Realmente, um sonho lindo.

9. Rei Melo, realista, reconhecendo nossa falta de opção, concorda em apoiar “o que temos”. Cheguei a cravar que após o jogo contra o CRB, Rei Melo iria reconhecer que finalmente começamos a formar um time. A chuva não permitiu. A barraca atleticana vai perguntar se o campo ficou ensopado só pra nós… Acontece que até começar a chover, o Cruzeiro estava muito próximo de marcar.

10. Galo Doido New York/2, extravasando sentimentos, oficializa a Selegalo: três convocações para a seleção brasileira e uma para Chile, Equador, Paraguai e Venezuela.

Meu caro Galo Doido, releve-me a imodéstia, mas nós, integrantes da gloriosa e imortal Nação Azul, vivemos esta emoção dezenas e dezenas de anos. Vale, mesmo, a pena. Mas a roda gira!