O DILEMA DO COPO

(Por Rafael de Novaes Rocha)

Resultados como o empate cruzeirense do último sábado, 29, contra o Athletico em Curitiba, nos deixam diante daquele dilema que só não é mais velho do que andar para frente: o copo pela metade está meio cheio ou meio vazio?

Com a cabeça acalorada de torcedor, é fato que um jogo em que seu time cede o empate por duas vezes, abrindo dois a zero, não é um bom resultado. O gosto amargo é inevitável. Porém, mensalmente, quase como uma terapia clubística, tento exercitar por aqui uma visão imparcial e distante das paixões. E nesse caso, posso afirmar que o copo está mais cheio do que parece.

A começar que, como um apreciador do bom futebol, é sempre prazeroso assistir a um empate por 3 a 3. Seis gols em uma mesma partida, geralmente, é sinônimo de um jogão.

Para um time que mal conseguia fazer gols, a estreia de um atacante que anota dois logo em sua estreia é também um bom sinal. Arthur Gomes marcou na primeira oportunidade que teve; Gilberto e Dourado normalmente precisam de 44 chances até anotarem seus tentos.

Já Lucas Silva, outro ponto positivo da partida, demonstra ter nascido para vestir azul. Estreou jogando com elegância e inteligência nos passes que só mostra por aqui. Mudou o nosso meio de campo e parece que se apossará da posição de segundo volante na sequência de jogos.

Ao fim do primeiro turno do campeonato, o Cruzeiro tem se mostrado até aqui um visitante indigesto. Possui uma das melhores campanhas fora de casa. Para alçar voos maiores, precisa ser um anfitrião mais incômodo, também. Na primeira metade do Brasileirão, fomos anfitriões 5 estrelas no AirBnB, com direito a transfer do aeroporto, café da manhã, cama arrumada, quarto perfumado, roupa lavada e três pontos na bagagem dos hóspedes.

A esperança é que nossos reforços nesta janela de transferências nos tragam uma campanha menos insossa dentro de casa no segundo turno. Matheus Pereira tem potencial para ser desequilibrante; Arthur mostrou qualidade em seu cartão de visitas; e Lucas Silva pode arrumar nosso meio de campo inofensivo. Bons ventos.

Para os pessimistas irremediáveis afirmo: o copo está meio cheio. E tem se enchido, aos poucos, devagar e sempre, mais e mais.

BATE PAPO NO QUINTAL

1. Análise in loco – Eu (Rafael) tive a oportunidade de acompanhar presencialmente a ótima partida entre Athletico Paranaense e Cruzeiro. Alguns pontos positivos que destaco da minha visita.

É notável a amizade entre as duas torcidas. Em tempos que as brigas escabrosas entre torcedores assombram semanalmente os noticiários, foi um alento observar a tranquilidade com que muitos cruzeirenses circulavam pelos arredores do estádio sem intercorrências.

A arena athleticana é muito moderna e de estrutura invejável. A torcida local, por sua vez, custou a se energizar com a partida. Com isso, a Arena da Baixada foi, por diversas vezes, tomada pela sempre barulhenta e apaixonada torcida itinerante cruzeirense, que compareceu em peso mais uma vez como visitante. Claro que o estádio veio abaixo com os empates arrancados na raça.

Como espetáculo, valeu muito!

2. Ei, juiz… – Uma das coisas mais irritantes sobre o futebol brasileiro são as constantes lamúrias dos times em relação à arbitragem. Torcedores, dirigentes, técnicos e jogadores costumam depositar um peso desproporcional na arbitragem, que se torna culpada por todos os males do mundo nas derrotas – do vicecampeonato estadual do time em 1954 ao aquecimento global.

Em um pontual e raro lapso clubista, no entanto, devo dizer que um dos destaques negativos da última partida cruzeirense foi a atuação caseira da arbitragem.

O árbitro apitava todas as faltas contra o Cruzeiro. Qualquer dividida era falta para o Athletico. Distribuiu cartões com pouco critério e no lance capital do jogo, que nos custou o empate, nem sequer se dignou a consultar o VAR. Tenho minhas dúvidas em relação ao pênalti marcado. Sou mais propenso a reconhecer que houve falta no lance e a decisão foi correta. Mas custava checar o vídeo?

A inexperiência do soprador de apito atrapalhou bastante o espetáculo em Curitiba.

3. Fala, Presidente – a partir dos próximos tópicos deste Bate Papo, declaro, para todos os fins, que não possuo mais responsabilidade sobre o que for dito. Tudo o que se lerá, até o fim desta coluna, é de autoria do minifundiário destas bandas, Dalai.

Leiam por conta e risco e até o próximo mês!

4. Felipão – Completou, contra o Flamengo, 9 jogos sem vitória. Pegou o time no G-4 e já está a 2 pontos da zona de rebaixamento. Em grupos cruzeirenses foi reproduzido vídeo da sua chegada ao Cruzeiro, ao lado do presidente SSR, anunciando que o seu projeto começava em 2021 e iria até 2023.

5. João de Deus Filho engordando a ficha do benfeitor Menin: tem a maior construtora do país, o banco que mais cresce, a radio que tem a maior audiência no Brasil, e uma emissora de TV que ainda não é a maior, mas vai incomodar…

Meu caro João de Deus, faltou a vinícola e outras coisitas mais…

Com esta visão empresarial você acha que ele dava almoço de graça?

Quanto ao Hulk temos de aguardar inovações porque os esquemas antigos (o famoso trança-pé dentro da área, o cai-cai alegando falta e o constante “bla-bla-blá” no ouvido do árbitro) já estão manjadíssimos. Ninguém se engana mais. No jogo contra o Flamengo em todo lance em que perdia a bola, despejava reclamações. No pós jogo revelou que só pedia “justiça” ao árbitro. Acontece que o único erro comprovado da arbitragem e do VAR aconteceu no gol do Atlético, não sendo marcada falta clara em Bruno Henrique, onde nasceu a jogada que resultou no gol de Paulinho.

6. Paulo Augusto traz a última pesquisa nacional sobre torcidas, divulgada pelo Instituto AtlasIntel em 25 de abril:

1. Flamengo (21,9%)

2. Corinthians (14,2%)

3. São Paulo (9,9%)

4. Palmeiras (7,7%)

5. Vasco (6,2%)

6. Cruzeiro (6,1%)

7. Grêmio (4,6%)

8. Atlético (4,3%)

9. Bahia (3,6%)

10. Internacional (3,5%)

Em verdade poucas novidades. O Cruzeiro, espantosamente, mesmo depois do tsunami particular e da pandemia mundial, resultando em três anos na Série B, continua com a maior torcida fora do privilegiado eixo Rio-São Paulo. Apenas por 0,2% não está em quinto lugar, passando o Vasco.

Destaque para a grande diferença com que continuamos superando a torcida atleticana apesar de tudo de negativo que nos aconteceu e de positivo, e põe positivo nisto, lá para os lados de Vespasiano. O verdejante mecenato até agora só resultou de positivo na construção do estádio, que não será do Clube.

7. Gustavo Bianchetti leva o blogueiro ao corner com dois cruzados de esquerda: lembra que Vitor Roque, tirado do Cruzeiro infantilmente, foi antes pescado do América com a mesma facilidade. E, por último faz grave denúncia:

“… corre à boca miúda que Vossa Senhoria esteve, disfarçado, lógico, no Jogo das Lendas, é verdade? E que sua reclamação são duas: não ter comido o bolinho de feijão e não ter um bar com vosso nome, procede?”

Meu caro Gustavo, não é verdade. Até pensei em comparecer, como um X-9, só pra falar mal depois, mas tenho um compromisso de ir na companhia de João de Deus Filho, em dia mais calmo. Desculpe-me, mas for vou conferir duas atrações: bolinho de feijão e os pontos-cegos

Quanto a ter um bar com meu nome na Arena MRV, seria, óbvio, convite a apedrejamento…

8. Augusto-2 retorna pra contar ótima história do “Jesus está te olhando”. Vale conferir.

9. Marcelo, apressado, quer desidratar Matheus Pereira antes que ele abra a caixa de ferramentas. Calma, Marcelo, a função primordial dele não é fazer gols. É viabiliza-los.

10. Augusto-3 não percebe que seu anjo da guarda foi conferir se havia nova denúncia contra o empresário Thiago Brennand, e volta pra perder ponto batendo lateral: critica a já famosa simbologia azul da “Fé”, vista e aplaudida mundo a fora e que ilustrou a coluna anterior.

Meu caro Augusto, pelo seu prestigio neste QUINTAL, se quiser podemos excluir essa pisada de bola das notas taquigráficas.

11. Paulo Augusto-2 vem pautar uma ótima reflexão:

“Brincadeiras sadias são legais, mas ficar postando bobagens e buscando ofender um ao outro, só faz participar da série D do blog. Que ninguém se sinta ofendido com bobagens ditas, pois se torna questão de sintonia.

A refletir…”

Paulo Augusto lembrou a palavra-chave: sintonia. É como uma emissora de TV ou rádio. Você tem o dial à mão e seleciona bons programas, deixando de lado as pornochanchadas.

12. Teobaldo apoia Paulo Augusto, mas com um lamento:

“… esse seu pedido já foi feito aqui reiteradas vezes por vários participantes do blog. Em vão! Quem sabe um dia a coisa melhore.”

Já está melhorando, Teobaldo. O TI do QUINTAL usa um DDB (Detector de Decibéis de Bobagens). Caímos de 52 para 37%.

13. Augusto, sempre inspirado, parodiando Thiago de Melo, não perde chance de nos lembrar os três anos de flagelo na Série B:

“Já é madrugada, vem o sol, quero alegria e emoção.

Que é para esquecer o que sofri durante três longos anos na segunda divisão.

Não quero lembrar também que já troquei até de nome e ameacei até acabar.

Já fui Palestra, já fui Cruzeiro, hoje sou CSA”.

Meu caro Augusto, o Cruzeiro trocou de nome apenas uma vez, por imposição do Governo brasileiro, em razão da Segunda Guerra Mundial, quando a Itália se uniu à Alemanha tentando dominar o mundo.

Quanto aos três anos na B, a justiça manda acrescentar ao seu poema:

“Era, do futebol, uma academia

Batendo a todos no meu tatame

Até que no mundo veio a pandemia

E só pra nós, antes, o tsunami.”

GARIMPO

“A vida não é fácil, acostume-se com isso. O mundo não está preocupado com sua autoestima. O mundo espera que você faça alguma coisa útil por ele antes de se sentir bem com você mesmo. Antes de você nascer, seus pais não eram tão críticos como agora. Eles só ficaram assim por pagar as suas contas e ouvir você dizer que eles são “ridículos”. Então, antes de salvar o planeta querendo consertar os erros da geração de seus pais, tente limpar seu próprio quarto.”

(Bill Gates, em palestra para grupos de formandos do ensino médio)