RECONSTRUÇÃO

Doeu jogar aquele primeiro tempo, com aquele domínio de meio campo e sair no 0 x0. No segundo, o América escapou da pressão, mostrou mais consistência e fez o gol da vitória. Apesar da frustração por mais uma derrota, sobretudo da grande torcida que foi ao Mané Garrincha, temos de reconhecer qualidade técnica e esforço de nosso time. Fica de novo a impressão de que peças certas estão no lugar errado. No pós-jogo, e pela primeira vez, Pezzolano assumiu a culpa pela derrota e também pela primeira vez prometeu que ganharemos a próxima partida. Como não explicou as razões da assunção da culpa, libera versões de corneteiros como este blogueiro que não sabe nada e palpita em tudo. Fico imaginando os 15 minutos finais contra o América: jogo aberto, podendo sair gol pra qualquer lado. 9 milhões de corações azuis à espera de um milagre. 3 ou 4 faltas nas proximidades da área adversária. Nossos zagueiros sobem. Será agora? Há jogadas ensaiadas? Não, infelizmente. Aí vem a sucessão de escanteios. Outra vez, expectativa explodindo. Novamente, zagueiros nossos na área deles. E repetimos a pantomina: dois jogadores perto da bola, um pra bater sempre de um jeito só, e outro pra enfeitar. Contra o América, o vaso ornamental ficou um pouco mais distante O árbitro apita e batemos, sempre na cabeça de um adversário. 3, 4 escanteios seguidos, o tempo acabando, e o filme de horror se repete para o desespero azul. Será este o erro admitido por Pezzolano? Aguardemos cenas dos próximos capítulos.

O que também não podemos esquecer é que ainda estamos em reconstrução. Há poucos meses, não tínhamos este time. O pouco que foi apresentado mostrou a boa qualidade das peças. Mas estão no lugar certo? Ou este é outro erro que Pezzolano admitiu?

BATE PAPO NO QUINTAL

1. Eduardo Silva – em síntese sobre o jogo contra o América:

“… foi a primeira vez que vi o Cruzeiro perder e não ficar com raiva, ficar satisfeito com o desempenho e não com o resultado! Jogou muito, competiu muito! ”

2. Gilberto, no mesmo sentido, após o jogo:

“Estamos no caminho certo. Vamos chegar lá. ”

3. Paulin Bolha – festeja “ranking” dos 10 mais (valiosos, ou melhores, ou menos ruins) clubes brasileiros, entre os quais dois mineiros: Atlético e …América (!). Estranhamente, não houve (ainda) nem buzinaço nem passeata de atleticanos na Savassi. Não critico esse comportamento. Fosse o Cruzeiro o sofredor permanente por meio século, valeria festejar até pesquisa de cuspe à distância que deixasse mal o Atlético.

Como não brigo com fatos nem tampo sol com peneira, reconheço neste momento a superioridade americana e atleticana sobre o Cabuloso, como também devo reconhecer que a roda gira e que as placas tectônicas se movimentam…

4. Eduardo Silva/2, sobre o “ranking dos 10 melhores…” sugere que o Atlético faça uso dele pra acalmar os credores, principalmente a empresa que produziu as camisas, os torce dores que compraram e não receberam, os agentes, os clubes que venderam jogadores, a Cemig e o plantel que ainda não recebeu salários de dezembro.

5. Recreio no QUINTAL – Impúberes vêm instituindo dentro deste Bate Papo, o “Bate Boca no QUINTAL” que me reporta aos tempos do meu saudoso Grupo Escolar Silviano Brandão, na rua Itapecerica, Lagoinha. No recreio, rusgas afloravam entre grupos “inimigos”: “sua mãe está na z…”; “sua irmã é maçaneta”; “cê conhece o Mário? E o João?  “seu pai é ladrão…”, um terceiro, gaiato, estendia a palma da mão entre os briguentos, na altura do rosto, e lançava o repto: “O corajoso cospe aqui! ” Óbvio que o propósito era levar um a cuspir na cara do outro, abrindo a temporada dos murros e chutes para gaudio da plateia.

Depois dessa fase, muitos crescem.

6. Bruno Araújo de Carvalho, em premonição, escrevendo na quinta-feira pede paciência à Nação Azul “em caso de revés” contra o América. Excelentes observações, Bruno. Estamos em reconstrução.

7. Teobaldo não faz concessões:

“Eu não apoio a Minas Arena. Eu apoio o que penso ser legal, justo, moral! Assinou um contrato? Cumpra! (…)”

Meu caro Teobaldo, você reitera sempre o apoio ao que você pensa merecer. Outras pessoas, com qualificação intelectual semelhante à sua, inclusive quanto ao padrão ético, podem pensar diferente e é por isto que divergências contratuais existem. É que uma mesma clausula pode provocar interpretações divergentes dependendo da evolução de circunstâncias ligadas ao objeto do contrato, tudo sob a égide do princípio do “Rebus sic stantibus”. No caso, envolvendo interesse público, quando o contrato se torna inexequível sem culpa das partes, plenamente aceitável a repactuação. Com as leis ocorre o mesmo, apesar de costumeiramente longa elaboração legislativa. Divergências honestas, bem-intencionadas, acabaram resultando no surgimento de um ramo especial do Direito, a Hermenêutica que analisando até as notas taquigráficas das discussões sobre o projeto, prospecta a “mens legis”, o espírito da lei. Quais os objetivos visados quando o projeto era discutido. Aí começa a busca do sentido das palavras, frases e períodos.

Quando se proclama, como faz Teobaldo, que “assinou o contrato? Então cumpra! ” a ideia é basicamente focada nos negócios que se encerram com o imediato cumprimento da obrigação, como por exemplo a compra e venda de um imóvel. Problemas de interpretação surgem, às vezes, nos casos de obrigações continuadas, porque sujeitas a variações extracontratuais.

 GARIMPO 

“O cotidiano não tem música de fundo, como os filmes”.

(José Luiz de Magalhães Lins, falecido sábado)